sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Que venha o tempo

Que venha o tempo

Com sua pressa infalível

Seus desígnios imprevisíveis

Pois tenho vida

E que traga a seriedade

Pois tenho alegria

Que lance suas regras

Pois tenho anarquia

E tenho meus sonhos

Nem que brilhe o dia

E vindo ligeiro

Eu suavizo as horas

Que venha o ocaso

Pois tenho auroras

Que venha o tempo

E passe sozinho

Porque quero infinito

Esse meu caminho

Paulo Viana

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Entrelinhas

Há versos ocultos em meu silêncio

Rima desencontrada de saudade

Aflitos decassílabos

Insistentes sonetos

Tão sólidas imagens de desejos

De beijos, de lembranças

Há perfumes no hálito da imaginação

Tão fortes odores

Tão cristalinas pétalas

Que faz a tarde parecer um lírio

Há um desencanto nesse tempo

Nessa hora de um ano distante

Passado que se passa por presente

Há, ainda, imenso e nebuloso desafio

Manter silenciado o sentimento.

Paulo Viana

sábado, 25 de dezembro de 2010

Semeando

Se pegas a rosa com carinho
Terás pacificado a beleza
Pois ela traz em sua defesa
Soldados em forma de espinhos
Assim poderá ser teu caminho
Se andares semeando a paz
Levando harmonia por onde vais
Vencendo as hordas da ignorância
Plantando amor e tolerância
E então não mais serás sozinho
Paulo Viana

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Dezembro Ideal

Luzes, brilhos, músicas e presentes

Cores, flores, beijos, alegria

Vinho, sinos, compras, nostalgia

Filhos, sonhos, laços e contentes

Fé, abraços, taças e surpresas

Gelo, champanhe, rostos e beleza

Risos, sorte, amor, compreensão

Bem, saúde, mente, coração

Que todos vivam em paz e plenamente

Paulo Viana

domingo, 19 de dezembro de 2010

Matizes

As nuances do amor são tênues fios
Envolvendo emoções delicadas
Que resistem se estiverem unificadas
Enfrentando acontecimentos sombrios
Comparável às águas de um rio
Livremente correndo em seu leito
O amor extrapola o que há no peito
Pois além de diversos sentimentos
Atravessa fronteiras e tormentos
E no fim vence todos os desafios
Paulo Viana

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Seja Feliz

Se decidistes peremptoriamente

Contrariar tudo que tu tens sentido

Escamoteando assim a tua libido

Só porque temes o amor que agora sentes

Verás que errada estás completamente

Porque o amor não cessa com a vontade

E a solidão traz infelicidade

Por isso ficas com esse amor querido

Desfaz o que contavas decidido

E ser feliz tu tentas novamente

Paulo Viana

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tuas Mãos

Olha tuas mãos...

Elas são pergaminhos da tua história

Das tuas dores, dos teus prazeres

Dos movimentos

Para acariciar, para conceber e sentir

Acenos, gestos, líquidos, sólidos

Macios, rudes, espinhosos, suaves

Rostos frios, mãos quentes

Olha tuas mãos...

O tempo as veste, lentamente,

Com luvas marcadas por linhas sábias

Testemunhas do abrir e fechar

Do encolher-se e estender-se

Rápido, forte, lento, mímico

Sempre, firme, soltas, sóbrias

Olha tuas mãos...

Deixa que elas acariciem teu rosto

Sentes a pele de tuas palmas

Sentirás o tempo.

Paulo Viana

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Atitude

O amor não é somente

Uma palavra poética

Que adorna a estética

De um verso eficiente

E não é suficiente

Ser o olhar do coração

Pois precisa da ação

Para poder se afirmar

Quem ama tem que mostrar

Ao amado o que sente

domingo, 7 de novembro de 2010

Resumo Biográfico

Não me permito a pusilanimidade
No exercício do simples viver
Se pra ganhar ou para perder
Eu sigo em busca da felicidade
Carrego apenas a minha verdade
Que tem seus vícios e suas virtudes
Desvio do ódio e de outras maldades
Edificando a minha plenitude
Se for preciso, mudo de atitude
Pois eu cultivo minha liberdade

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fim de Tarde

Fim de Tarde
Sofre o poeta, a musa dorme
Descansa o segredo, desfaz-se o medo
Arde no entardecer o raio solitário
O busto estático sorve o tempo
Que roça, como um beijo tangencial,
A insípida língua da ausência
Cada vento, tijolo de brisas
Espalha o perfume em lapso do desejo
A presença é apenas sorrisos fugidios
Não é matéria, são reminiscências
E a displicente saudade chega
Pontualmente sólida, firmemente única
Docemente efêmera, sobriamente denunciadora
Definitivamente eterna.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Conflito

Tenho rido de mim ultimamente
Por querer conquistar o inconquistável
Feito um louco, senil, irresponsável
Delirante, perdido e demente
Mas o peito exclui a minha mente
E caminha sozinho nessa estrada
Pois o riso pra ele não é nada
E o que vale é seguir o sentimento
Se a razão acha isso um tormento
Coração desconversa e segue em frente

domingo, 24 de outubro de 2010

Dia dos Poetas

Versos nos contam histórias do coração, nos fazem ver em primeiro plano os vários sentimentos que vão sedimentando ausências, e de como a saudade assume o posto de quem partiu, vestindo-se de dor e de um desejo que parece satisfazer-se por alguns segundos, mas logo se reporta à distância. Mas os versos podem ser rasgos emocionados de paixão, transbordante, extremada, ávida por jogar-se em vestimentas ornadas por imagens, alegorias, fantasias e sentidos, traduzindo o inefável, que se configura em palavras, como paródias que os loucos fazem de si mesmos, ou parábolas miméticas de como circula o sangue e percute no ritmo cardiológico.

E se os poetas são loucos, é porque a linguagem de sua lucidez não se dá pelos caminhos tão fáceis de trilhar, como delineia a razão, mas por veias e vias que só os versos podem conduzir. E frases anárquicas, políticas, líricas, românticas, excêntricas transformam-se em mensagens poéticas, em códigos da emoção, em linguagem pura do sentir, em vontade última do dizer.

Que gritem esses loucos, para que os vejam em sua mais discreta intimidade, porque, o que são eles se não amantes de si mesmo, viscerais construtores que reproduzem seu íntimo em moderados, inflamados, censurados, cáusticos, intrépidos, apocalípticos, sensíveis, amorosos, apaixonados e sábios poemas?

Pois que não se anuncie a falência do que move os poetas, porque, se há vida, há compasso alterado dentro do peito, há impacto diante do visível e do que não pode ser visto, há combinação entre química e alma, haverá também poesia.

Paulo Viana

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sonhos

Tenho sonhos de todos os modelos
Alguns bons outros ruins
Tenho até pesadelos
Noite em claro e sem fim
Mas os sonhos que nutrem meu ser
Em luz plena, bem já descansado
São os sonhos que gosto de ter
Por ser sonho não realizado

sábado, 16 de outubro de 2010

Dores

Sinto dores que não são minhas,
de ontem, de agora
São dores que eu não tinha
Não são de mim, são de fora
São dores da dor alheia
De quem as sente sozinho
Ou nunca teve carinho
Sofrimento que permeia
Quem sente dor toda hora

sábado, 9 de outubro de 2010

Bens

Não tenho terras, nem serras, nem praias ou mares
Tenho a vivência dos bares
Não tenho ouro, nem prata, nem faço viagens
Tenho apenas as paisagens
Com a vivência dos bares aprendi a não beber

Com a beleza das paisagens aprendi a não ter
Me embriago de vida, de mistério, de sonhos
E me aposso do mundo com um gesto risonho

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Porque voto na Dilma

Eu tinha nove anos e gostava de folhear a Revista o Cruzeiro, a mais importante da época. Ficava encantado com o universo apresentado naquelas páginas coloridas, onde artistas da Jovem Guarda eram mostrados com seus carrões e público delirante.

Em uma dessas revistas, despertou-me a atenção uma reportagem em preto e branco sobre a morte de um estudante, assassinado pela polícia. O nome dele, creio que muitos brasileiros saibam, era Edson Luís. O clima era de comoção nacional.

Na minha perplexidade pueril, jamais imaginei que aquele rapaz tinha sido morto porque estava reivindicando o direito ao voto, à liberdade de expressão, inclusive artística, e o cessar dos absurdos nos porões dos quartéis, onde eram torturados homens e mulheres, enquanto outros eram jogados de aviões no mar.

A partir daquele ano, as atrocidades cometidas em milhares de brasileiros se tornaram banais. Bastava você se manifestar sobre política, com mais alguns, que você era preso, torturado e obrigado a dizer quem eram os líderes e onde eles estavam.

O presidente era nomeado e tinha que ser General. Os artistas eram presos ou mandados para fora do País. Filmes, Peças de Teatro, Músicas, Poesia e outras manifestações eram impedidas de serem veiculadas, pois existia um serviço de censura que “analisava” os textos e colocava um carimbo enorme: CENSURADO. Notícias questionando o governo? Nem pensar.

Os grandes meios de comunicação, como Globo, Estadão, Folha de São Paulo e outros chamavam a ditadura de revolução. O PC do B era clandestino e seus militantes eram presos, como se fossem bandidos de altíssima periculosidade. Seus familiares, sem compreender o que estava acontecendo, perguntavam para onde os levariam. Muitos não tinham resposta e nem mais notícia deles.

Hoje, me reencontro com aquela realidade, através da candidata Dilma, sendo que, na época, ela era uma das vítimas das barbaridades do regime ditatorial, porque tem nas veias o sangue latino, que não engole injustiça, falta de democracia e de liberdade e, sobretudo, não entrega seus parceiros de luta, mesmo sob forte tortura. Mas o que me impressiona é a imensa contradição entre o direito adquirido, através da luta, do sofrimento e do idealismo, de pessoas como a Dilma, ao voto para Presidente da República e a caçada cruel, preconceituosa, mentirosa e implacável que, não só a imprensa, mas muitas pessoas fazem em relação a ela, porque foi indicada, democraticamente, como candidata à presidência.

Fico me perguntando: Qual é o pior? Ser vítima de um regime ditatorial, porque luta pela liberdade ou ser vítima de uma série de mentiras, que fomentam o preconceito e a descrença nos verdadeiros ideais democráticos?

Todos têm direito a escolher em quem vai votar, porém, todos têm o dever de conhecer bem os candidatos, sua história e as suas propostas, sem desenvolver preconceitos. Todos têm o dever de avaliar as políticas implementadas pelos partidos que estão na disputa e ver quem realizou mais. Eu já fiz isto e seria suficiente para fundamentar minha decisão, mas é em nome daquela criança de nove anos que folheou incrédula as páginas da revista O Cruzeiro e viu milhares de pessoas em volta do caixão de Edson Luís, que declaro meu voto à Dilma. Assim terá valido a pena a minha perplexidade infantil.

Paulo Viana

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Lua

E que me baste a noite e a lua
A melodia, a face, o beijo
E entre olhos o desejo
Da bela, caliente e nua
E que me fale o peito
e a boca cale e ria
do chão o leito
o sonho e a fantasia
E que me falte noite
Ou que me sobre dia
Para que o amor me açoite
E isso só me bastaria.

sábado, 18 de setembro de 2010

Nave Pôr do Sol

A viagem da vida é feita em uma nave chamada Pôr do Sol

Nave que nunca atrasa

Que nos conduz para a travessia de uma nova aventura

Iniciada no mundo dos sonhos e continuando ao amanhecer

Porque o Sol sempre estará se pondo em algum lugar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Semente



Implodi a solidão
Seus pedaços viraram sementes de sentimentos
Uma vez ou outra elas querem germinar
E me saltam versos
São os fragmentos se recompondo em Poesia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Liberdade

Neste campo de verde luminoso

Me fiz pássaro e pousei a meditar

E pensei sobre como é bom voar

Liberdade é um valor precioso

Mas o homem, de tão ambicioso

Esqueceu que toda vida é igual

E apesar de ser intelectual

Não entende a lei da ecologia

Que exige respeito à harmonia

E o direito de todo animal

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Ocaso


Eu queria falar sobre esse sol

E cantar sua beleza em poesia

E o quanto é bonito o fim do dia

Com essa luz espalhando o arrebol

Mesmo que bem ligeiro vire alvor

O momento tão belo registrado

Ele esta nesta foto eternizado

Esse sol que me deixa tão minúsculo

Nunca nega a beleza de um crepúsculo

E o Poeta se sente premiado


sábado, 28 de agosto de 2010

Equilíbrio

Quando eu abro a janela todo dia

E meus olhos descansam na paisagem

Fico em paz com o quadro dessa imagem

E em meu peito se instala a alegria

Ouço aves cantando em harmonia

E o verde pintando todo o chão

Quando é noite de lua o clarão

Brilha muito e destaca a beleza

Como é bom respeitar a Natureza

E viver tendo paz no coração

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Conhecer-te

Queria Poder decifrar teus gestos

Lendo as intenções da tua alma

Para dominar teus segredos

Para conhecer teus medos

Apossar-me de ti, de forma amável

Sem que desprendam as pétalas

Que compõem teu jeito de ser

Quando sorris, o faz para o mundo

Quando pensas, os olhos brilham

Como se os pensamentos fossem luzes

Quando lágrimas te caem

É como se deslizassem a essência da sinceridade

Queria conhecer-te por inteira

Vislumbrar teus sonhos

Medir tua alegria e desfazer tua tristeza

Queria, por fim, te encantar com meus mais secretos sorrisos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Diálogo Imaginado

Por muitas vezes disse-me o Sol, que, a despeito de deixar-se levar, diariamente, pela envolvente dança dos astros, sempre voltará, tão brilhante quanto antes, tão promissor quando o fora, ao provocar a verve do poeta, em crepúsculos inimagináveis. Quantas vezes disse-me, ele, que, ao nos deixar a noite, deixa também a missão de refletirmos profundamente sobre o dia, sobre nossas ações, nosso jeito de contemplarmos o outro, de amar, de construir riqueza sem destruir a vida, de compreender a Natureza como única possibilidade de sobrevivência.

Todo dia, quando nos brinda com matizes que só seus pincéis, untados de luz, são capazes de pintar, justamente ao deixar seu turno neste lado, provocando, incansavelmente, auroras belas em terras orientais, ele se despede com sutis mensagens, com lembretes profundos, sobre a marca imponderável do tempo. Como nos alerta, essa estrela, sobre o quão pequenos somos e, ainda, o quão grande poderíamos ser, se o nosso espírito seguisse a lógica simples do respeito ao equilíbrio, ao desejo de eternizar-se, atributo indelével que permeia a essência da vida!

Pudera eu, Sol, falar a linguagem escrita nesse azul, luminosa ilusão infantil, para te segredar sobre nossos descaminhos; Sobre como nos desviamos da rota de um projeto de felicidade simples para o desastre, em busca do inalcançável escopo de um poder absurdo, desumano, antinatural, equivocado, movido em dimensão sem controle e fadado ao inacreditável desfecho do suicídio da nossa própria espécie.

Mesmo assim, há os que acreditam e lutam por um despertar do sono torpe. Há os que celebram a música, a poesia, a cor do ocaso, a alegria por estar vivo e o amor; Os que acreditam na paz; Os que expressam sua indignação pelo estado em que deixaremos a casa dos que virão depois. Há, por fim, aqueles que entendem a trajetória do sol, não apenas como o passar dos dias, mas como uma calorosa mensagem sobre o momento presente e, sobretudo, os próximos momentos, pois ele, Sol, com certeza estará lá. Temo que poderão existir crepúsculos, gratuitos cartões postais, sem que haja uma pessoa para admirar.

Paulo Viana

domingo, 8 de agosto de 2010

Dia dos Filhos

Nós, os pais, imaginamos que nossa experiência possa conduzir a vida dos filhos de forma que eles não cometam os erros que supostamente tenhamos cometido. É natural e obrigatório, desempenhando esse papel de Pai, querermos o melhor para suas vidas, não só com a intenção de exercer a responsabilidade e ficar com a consciência tranquila. Porém, quero crer que a maior parte do esforço em mostrar nossas experiências, citar os erros, enumerar os acertos, enfim, indicar o”caminho das pedras”, é desconsiderada. Os jovens têm seus próprios horizontes. Os valores são outros, o momento é historicamente diferente e as perspectivas são diversificadas. Não podemos exigir que sigam o mesmo caminho que seguimos. Podemos, sim, dizer como foi nossa caminhada.

Seria bom se, indicando o rumo que entendemos como ideal para a vida dos nossos filhos, eles não ficassem fragilizados pela falta da vivência e pela oportunidade perdida de conviver com a realidade crua; com o experimentar do inesperado; com a exigência de uma escolha rápida; com a necessidade de desistir e tomar outro rumo e com a busca de realizar seu próprio sonho.

Nossos filhos não precisam que digamos qual o caminho que eles têm que seguir. Eles precisam da oportunidade para que possam fazer suas próprias escolhas, confiantes em suas atitudes, corretos em seus comportamentos e fortes para erguer-se de cada queda que venham a sofrer. Para isso, é preciso que sintam o amor que temos por eles. E não basta dizer que os amamos. Não é suficiente prover de todos os bens materiais que desejam. É preciso mostrar, a cada dia, que esse amor é verdadeiro: não superprotegendo-os, mas oferecendo atenção, carinho, disciplina, exemplos e, sobretudo, perdão.

Devo dizer, no entanto, que cada experiência é única. Cada relação entre pais e filhos tem suas próprias características e seu dinamismo. Não há um manual que possa ser aplicado a todos os casos. Mas podemos dizer, com certeza, que quando nossos filhos tiverem seus próprios filhos dirão: “Agora eu sei o que meus pais queriam me dizer”.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Inverno

Não bastasse a tirania da razão, impondo-se contra doces pecados, o coração congela-se no peito e a vida passa a ser apenas a burocrática sucessão de dias. Não há medo... Muito menos, desejo. Tragédias são apenas notícias... Nada a lamentar, nada a perdoar e o choro é fonte esquecida de lágrimas ressequidas, contraponto inexistente de um riso que também não se apresenta. Falta a dor e a saudade; Falta a emoção e a tristeza; Falta a paixão. O que faz um poeta que não sofre? Quietude não é estado para o espírito de quem quer escancarar a vida em poemas. O que faz um poeta que olha para o mundo e vê gravuras sem brilho? O segredo do verso é sua origem arraigada na paixão, no desejo de arrancar a própria alma e transformá-la em poesia. No olhar para a lama e ver flores; No sentir o amor espreitando o que na verdade não passa de delírio.

E sendo este momento um lapso de uma vivência continuamente forjada na indignação, no arrebatamento, nos sentimentos que, como água de uma ilha, vêm em pequenas ondas, molhando, por vezes, o coração, aguarda-se o retorno da verve, da inspiração, para que novamente as palavras obedeçam a ordem e se organizem em figuras poéticas.

Enquanto isso, constata-se a fleuma, a indiferença, que, para o vate, não pode ser impunemente ignorada. Há de ser transformada em dor; Há de ser confundida com uma motivação profunda, como se fosse dever da alma oferecer seus mistérios para quem escreve; Como se fosse obrigação do mundo acionar seus emissários para trazer do invisível, porém inevitável universo da arte, o lirismo da vida.

Esse vazio passa, porque não se pode esgotar, de uma só vez, todos os sonhos que cabem numa vida; Essa ausência de efervescência sanguínea alterna sempre com plenos momentos de exacerbação emocional. Quando elevar-se a temperatura no peito virá a dor, o grito, a vontade de dizer, de afirmar, de contestar, de escrever...Com a força necessária para que outros espíritos sintam as palavras como pétalas, suavemente derramadas, porém com matizes fortemente carregados de sentido.

Paulo Viana

terça-feira, 1 de junho de 2010

Contemplação

Tenho buscado nas palavras a expressão exata dos frutos da minha contemplação, durante essa viagem alucinada por entre impressões sensoriais, sentimentos, pensamentos, observações e relações que é a vida. Sofro de uma inquietação perturbadora que me deixa aflito por querer sorver todo o sulco de cada instante, toda a essência do tempo em que meu corpo e minha alma estão envolvidos. Minha ânsia cresce quando vejo sorrisos, ouço canções ou percorro o caminho que se abre entre mim e a profundidade de cada olhar, dos que seguem, também perplexos, nesse caminhar.

Bem que eu poderia estar quieto, humildemente entregue à condição impotente de um mero ser humano, incapaz de corroborar o inefável mundo sentimental com frases elaboradas, mas me é muito cara, esta única e exclusiva oportunidade de estar aqui, vivo.

E se as canções me dizem coisas, se os amigos me contam suas dores, seus amores, seus sonhos, lutas, vitórias, tristezas e alegrias, silencio e escuto, porque sei que ali estão fragmentos do mundo, estão pedaços de todas as vidas, pequenos grãos de toda a existência semeada, que podem muito bem me dar uma luz, para que eu possa desentortar meu caminho e corrigir meu rumo, me aproximando do único destino para onde devo ir, que sou eu mesmo. Porque eu estou em cada um e cada um está em mim, assim como todos nós estamos nessa experiência única.

As palavras jamais esgotarão o que elas pretendem significar, mas sempre sinalizarão a nossa presença, vivos; Sempre manifestarão a existência enigmática de nossa intimidade. Cabe-nos, portanto, em olhares parceiros, como dois espelhos que se olham, buscar no outro o complemento, para, finalmente, desvendarmos esse maravilhoso mistério. E se o mistério não puder ser solucionado, resta-nos a poesia, para que, juntas, as palavras nos mostrem o lirismo da vida, mesmo que não a traduzam em seu significado mais puro.

Paulo Viana

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fé nas Utopias

Eu sei que a complexidade do ser humano não pemite que tenhamos padrão ideal de comportamento e que o sonho da felicidade, da paz, do equilíbrio e de outras quimeras absolutas não passa de necessário buscar da utopia. Sei, também, que a vida é forjada no viver concreto, no se jogar no mundo, planejando, quando dá, ou ariscando quando podemos; Que a ética pura é quase impossível; Que as relações se consolidam no confronto de almas diferentes e na dinâmica de interesses muitas vezes não revelados.
A vida é, ainda, muito misteriosa e encanta a todos, porque surpreende, eleva, descontrói, maltrata, alegra, exalta e pune. Só a morte desencanta.
E se não fosse o sonho? E se não desejássemos encontrar um termo definitivo para a inquietude, insatisfação, incoerência, desvirtuamento, que pudesse engendrar espíritos plenos de virtudes, honestos em sua totalidade? Imaginemos um ser humano cem por cento honesto...é possível? Seria "normal"? Talvez não, mas precisamos querer que ele exista para chegarmos a um percentual aceitável de honestidade. Queremos que a ética absoluta seja exigida, pois assim vamos ter comportamentos aproximados de uma civilização moralmente perfeita. Assim, fica mais plausível a possibilidade da justiça.
Temos a obrigação de querer essa perfeição, de exigir, não só dos homens públicos, mas, sobretudo, de nós mesmos, embora saibamos que somos animais vacilantes, vulneráveis, dependentes do funcionamento psico-físico-químico do noso corpo e da nossa mente. Porque, se não insistirmos na busca das utopias, se não mantivermos a esperança em um ser humano mais evoluído, menos egoísta, com uma concepção mais humanista do que é ser humano, de que adiantará viver? Viveremos pelo prazer imediato? Pelo consumismo? Pelas paixões efêmeras?
Considerando, por fim, que Deus (a maior invenção dos humanos) não conseguiu cumprir a tarefa de consolidar esse espírito idealizado, que buscamos, resta-nos acreditar que o amor vai, pelo menos, adiar a construção desse ser humano desiludido, egoísta, individualizado, sem esperança e suicida, que já sinaliza a sua chegada. Não podemos, jamais, abrir mão das utopias.

Paulo Viana

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Coração Carruagem

Meu coração trabalha sem parar, moendo emoções, bombeando minha caminhada por essa trajetória traçada, sem nenhum aviso, sem ter um código para decifrar, como um plano arquitetado para me desafiar, para me por medo, para me jogar entre a angústia e a esperança, como um pergaminho cheio de segredos, que a todo custo busco desvendar. Ao mesmo tempo, ele me ensina a não recuar, a enfrentar pequenos monstros que o cotidiano recria, a refazer o caminho quando as saídas já se fecharam, a esquecer dores, engendrar desejos e fertilizar paixões.

Meu coração anuncia sorrisos, interpreta gestos, alimenta ilusões, confidencia segredos à minha alma e, por vezes, ri da razão, quando ela se interpõe diante de um sonho ou de um sentimento mais afoito. Imponente, ele se lança à frente, como um solista em uma orquestra onde a melodia é tocada pelo tambor.

Como uma carruagem, onde o cocheiro por vezes cochila, meu coração dispara e se embrenha em aventuras vida a dentro, vida afora, procurando bater pelo que vale a pena, pulsar com vontade de expressar sua coragem e defender seus anseios.

É com este coração que tenho delineado meu tempo e erguido meu espírito. É nele que a solidão e a tristeza às vezes querem morar, porém não encontram pouso, porque o amor já ocupa todos os cômodos e a alegria é um hóspede permanente.

E se me disserem, um dia, que não é o coração o condutor da vida, afirmarei que o mapa dado a razão não corresponde ao caminho onde está escondido o tesouro. Este, só o coração é capaz de descobrir.

Paulo Viana

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dois Olhares

Vasculho pensamentos, procurando uma idéia original que possa desenvolver e transformá-la num texto, e o que me aparece são estímulos a verbalizar, com indignação, sobre injustiças, degradação da natureza, corrupção, desigualdades entre povos e, principalmente, o egoísmo e a indiferença. Por outro lado, surgem, como contraponto, conceitos como paz, liberdade, solidariedade e amor. Tenho, portanto, a força da contradição para impulsionar minha vontade de escrever.

Se utilizar os primeiros conceitos, certamente estarei falando sobre humanos, em especial de homens públicos, justamente de onde saem a grande maioria das histórias envolvendo tais palavras. Também estaria falando sobre humanos se minha abordagem tratasse de situações onde aparecesse o segundo grupo de palavras, e aqui estariam os poetas.

Quem disse, no entanto, que os poetas não podem se indignar com as injustiças? Quem pode afirmar que um vate engajado não versifique sobre o egoísmo dos corruptos? Claro que a poesia se veste com as palavras tecidas com maestria, musicalidade, imagens bonitas e lirismo. Corrupção, para o poeta, é a desfeita do diabo, com sua lábia persuasiva, conduzindo espíritos puros para o descaminho. O poeta vê a degradação da natureza como um substituto cruel da paisagem, como um desvario de um caminhar desvirtuado dos homens.

E os políticos? Como veem a paz, a solidariedade e o amor? Eles simplesmente não veem, pois a ganância por dinheiro e poder os cegou. Não são os olhos que não enxergam. É o coração petrificado pela indiferença e pelo egoísmo que perdeu seu olhar de poeta.

Existe um oftalmologista que possa curar a cegueira do coração? Temo que não. Só uma revolução cultural profunda poderá fortalecer os olhos dos corações ainda jovens. Não que eles tenham que ser poetas, mas que possam enxergar com sensibilidade a vida e veja o outro como uma expressão de si mesmo, de sua natureza, suas necessidades, suas carências, sua humanidade. E que deles saiam os políticos e os poetas. Não que a natureza humana seja totalmente transformada e que só existam homens virtuosos. Isso é impossível. Mas que, pelo menos, sejam eles a grande maioria. Os desvirtuados seriam a exceção. Para eles a prisão. Não simplesmente um cárcere, que os isolassem da convivência com os outros, mas uma escola, de cidadania, ética e, principalmente, que os ensinasse a enxergar melhor com o coração.

Paulo Viana

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Filosofia só para Filosofar

Queria ser um filósofo, para mergulhar na realidade e, ao nadar entre verdades relativas, descobrir uma verdade absoluta, pura, que produzisse todas as outras. E nesse mergulho pudesse ainda vislumbrar as sutis relações entre o bem e o mal, a ilusão e o mundo real, divisando as fronteiras do consciente e do inconsciente e catalogando os sinais da alma. Pudesse compreender, claramente, as motivações dos pensamentos, a formação da paixão, o despertar do medo, a existência da violência, a importância do poder. Um filósofo que conhecesse a função verdadeira da política.

Queria ser um filósofo que penetrasse no mundo onírico e traduzisse a linguagem dos sonhos, codificando símbolos, comparando-os com as experiências quando estamos acordados. Queria ver a lógica do desejo, estudá-la profundamente, apreendê-la, de forma que faltasse pouco para conseguir controlá-lo sempre, mesmo em sua versão mais intensa. Um filósofo, cuja percepção dos dados sensíveis fosse tão aguçada que coincidisse com a própria realidade. Queria poder entrar, sem respirar, no silêncio, onde não existisse nenhum barulho, nem mesmo aqueles não audíveis aos humanos. No impossível mundo do silêncio absoluto.

Queria ser um filósofo que sentisse a música como se estivesse cavalgando em instrumentos musicais pelo mundo transcendental, vendo o bailado da melodia, da harmonia e do ritmo. E nesse mesmo momento pudesse contemplar o mundo metafísico, apreciando o desenho original de todas as coisas. Queria retornar ao mundo sensível através da intuição, para conhecer os caminhos que ela percorre. E, ao retornar, colocasse em debate a Razão e a Emoção, para que resolvessem suas diferenças. Extrairia a solidão do sentimento e o deixaria apenas com a alegria, com tal zelo que a tristeza só teria espaço em momentos de perdas muito grandes, para ocupar um pouco o coração. Queria ser o filósofo que demonstrasse apoditicamente a existência do amor e seus benefícios para a anulação do ódio e a justificação da existência.

Queria, finalmente, ser um filósofo capaz de surpreender o tempo e descobrir seus segredos, dominando-o, para que não pudesse mais levar nenhum de nós, em sua viagem, porém nos ensinasse a unificar corpo e espírito, a deixar de confundir desejo com algo estranho a nós mesmos e a jamais perder o encanto pela vida. Por fim, compreenderia o que é viver e seria um filósofo perfeito.

Paulo Viana

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Órfãos da Verdade

Procuro incansavelmente uma fonte confiável, que mostre com limpidez a verdade, que nos faça acreditar que não mente, em nome dos próprios interesses. Procuro, feito Diógenes Laércio, com uma lâmpada acesa em pleno dia, um caminho tranquilo, sem os espinhos da mentira, as pedras da arrogância, os abismos da desonestidade, os obstáculos da enganação. As igrejas, que poderiam ser tais caminhos, sucumbem podres, sob um manto falso de seriedade, manchadas, ora pela imoralidade dos seus membros, ora pela ganância desenfreada de homens inescrupulosos que se dizem bispos. Os partidos políticos que, em teoria, possuem programas quase perfeitos para o bem da maioria, decaem, em lama fétida, nos bastidores do poder. A imprensa, esperança de esclarecimento dos fatos, com a versão verdadeira, não passa de uma enorme cadeia de geração de falsas verdades, conforme lhes sirvam e atendam às metas da audiência.

É assim, a civilização engendrada pelas relações capitalistas. Por isso não sigo doutrinas religiosas, não acredito nos partidos políticos e prefiro filmes a noticiários da TV. Quero desenvolver minha espiritualidade buscando o autoconhecimento; Quero participar politicamente, votando no menos ruim, embora saiba que na política a ética é apenas instrumento da retórica e, inevitavelmente, o menos ruim “evoluirá” para o ruim; Quero me informar sobre os acontecimentos vendo os fatos, porque a análise deles é o que existe de menos irrefutável nos órgãos da imprensa.

O amor é ainda a única fonte de verdade confiável, mas só aparece quando temos filhos. Os filhos gostam dos pais e muitos os respeitam, mas amor mesmo, verdadeiro, incondicional, só os pais sentem pelos filhos. Portanto, para chegarmos à verdade, temos que passar primeiro pelo amor. Não há amor nos sacerdotes; não há amor nos políticos e não há amor nos donos da imprensa, por isso eles jamais transmitirão a verdade.

Paulo Viana

domingo, 25 de abril de 2010

A Beleza de uma Tragédia

Dois homens, um político e um poeta, se conheceram em uma festa. Por um momento ficaram a sós. Um silêncio profundo se instalou e seus olhares buscavam sempre uma imagem que não fosse os olhos do outro. O político não sabia como iniciar uma conversa com um homem que, em seu julgamento, vivia em um mundo de fantasias, de imagens poéticas e de subjetividade. O Poeta, por sua vez, não queria conversar com um homem que vivia em um mundo de relações suspeitas, de interesses duvidosos e de louvação ao poder.

Depois de alguns momentos, os dois se olharam e um inevitável sorriso esboçou-se em ambos os lábios. Mesmo assim, o silêncio continuou. O poeta imaginou como seria diferente aquele encontro se os políticos fossem honestos e não despertassem a desconfiança das pessoas. Por sua vez, o político desejou que ali estivesse um intelectual que compreendesse as nuances da vida política e tolerasse as concessões éticas que são feitas para garantia e manutenção do poder. O poeta pensou em falar sobre seu próximo livro, o político sobre as eleições. O silêncio continuou.

Enquanto os dois permaneciam receosos e sem assunto, aproximou-se uma moça, extravagantemente linda, com uma bandeja e alguns copos de bebida. Ao contrário dos dois, que não queriam se olhar, os olhos da moça, erguidos sobre um sorriso arrebatador, penetrou como uma lâmina nas pupilas deles. Desconcertados, os dois se olharam. O poeta pensou: Que fonte de inspiração! Vou escrever um poema tão bonito, em homenagem a ela, que, certamente, a conquistarei. O político pensou: Esse, sim, é um voto de qualidade. Quando for eleito a convidarei para trabalhar comigo e, com o tempo a conquistarei.

Quando a moça se afastou, o poeta disse: Que moça linda, não é? O político respondeu: Linda demais.

O dono da festa, amigo dos dois, se aproximou e perguntou: Esse tempo todo em que vocês estiveram conversando, conseguiram se entender? Os dois responderam: Concordamos em tudo que conversamos. E sobre o que vocês conversaram? O político, com sua prepotência costumeira disse: Sobre a beleza de minha futura namorada. O poeta, com sua maestria com as palavras, disse: Falávamos sobre a beleza de uma poesia que se fez moça.

O anfitrião abraçou os dois e disse: Não sei sobre o que vocês estão falando, mas confesso que eu temia que, por serem tão diferentes, vocês jamais se entenderiam.

E com esse mal-entendido, sobre o entendimento dos dois, a festa terminou. O político descaradamente pediu o telefone da moça. O poeta pediu também.

Depois de eleito, o político cumpriu o prometido e contratou a moça. No dia de sua posse, o poeta entregou-a, discretamente, o poema. Os dois passaram a cortejá-la. O político a conquistou com mimos, o poeta com versos. O político a desposou, o poeta a amou.

O triângulo amoroso foi descoberto. Houve um escândalo e uma grande briga entre eles. O político matou o poeta e foi preso. A moça, único motivo de entendimento entre eles, transformou-se na causa do maior desentendimento. A concordância virou uma tragédia.

Paulo Viana

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Aves, Estrelas e Floresta

Deflagrada a campanha, começam a surgir os discursos de queimação entre os partidos e, se não bastasse, a disseminação, pela internet, de mentiras e textos hostilizando os candidatos. Para os partidários do Serra, as palavras de ordem são Mensalão, descredibilizar o Lula e alternância de poder. Quanta hipocrisia! Que alternância seria se Serra fosse eleito? O PSDB com seu projeto de aprofundamento do Neoliberalismo? A Social Democracia dos empresários paulistas, da revista Veja e dos Jornais de São Paulo? O retrocesso que quer se vestir de alternância? Por outro lado, partidários do PT também cuidam em queimar o candidato da oposição, dizendo, inclusive, que ele quer vender a Petrobrás e acabar com o Bolsa Família. Nem mesmo tendo essa intenção seria inteligente mencionar isso em um discurso.

Por fora, corre Marina, admirável, discurso mais ideológico do que político, preparadíssima, brilharia pelo mundo e orgulharia a mulher brasileira, pois a representaria com muita competência. Esta, sim, seria alternância do poder, embora tivesse que fazer alianças questionáveis para poder governar. Infelizmente o povo brasileiro não tem coragem de romper com o medo e o preconceito. A Bolsa de Valores tremeria nas bases se ela fosse eleita.

A hostilidade entre os candidatos mais fortes acaba sendo uma estratégia de campanha eficiente, pois polariza a disputa e deixa os outros como coadjuvantes.

Temos, portanto, um candidato que representa o retrocesso, uma candidata que pode representar apenas continuísmo ou continuação do bom governo do Lula e, por fim, a Marina, realmente uma grande novidade. O Brasil já está preparado para ter uma mulher como presidente. Que vença uma.

Paulo Viana

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Versos Para Querer

Queria ser um poeta, para me orgulhar dos meus versos e dedicar poemas ao amor. Queria poder escrever para os pobres de espírito e fazê-los sorrir, transformando sua dor em suave prazer de estar vivo. Queria poder olhar nos olhos de cada jovem e, num apelo dramático do coração, dizer: Viva cada momento, sonhe todos os sonhos, ame todos os amores, beije todos os beijos e fale todas as palavras que possam caber no entendimento e na esperança.

Queria, em preces ansiosas de um ateu convicto, pedir, a um deus inexistente, que me dê uma luz, branca fonte de uma paz inalcançável, para que os caminhos escuros daqueles que sofrem sejam iluminados e, em um surpreendente gesto de coragem, eles possam erguer os olhos e dizer: viva a vida, companheira de si mesma em mim, único berço onde meus dias se deitam e se deleitam, e meus desejos expressam a ausência daquilo que ainda serei.

Queria, em poema sutil, deixar-se vislumbrar a verdadeira essência do eu universal, para que o dom da vida seja um símbolo da plenitude e um veículo da serena viagem do espírito pelo fel adocicado da existência.

Queria ouvir a música da eternidade, como se um violino executasse o deslizar do tempo e a melodia contasse os passos do nosso caminhar, em um ritmo firme e equilibrado, em solene e plácido minueto, ou em um alegro vibrante, ou em um adágio envolvente, ou em todos os movimentos, alternando entre a dor e a alegria, mas sempre conduzida pela maestria de edificantes lições e pela harmonia soberba da sabedoria.

Paulo Viana

sábado, 10 de abril de 2010

Natureza, Twitter e Futebol

Enquanto uns choram, por causa de tragédias, outros fazem festas e comemoram. A vida é injusta? Não. A Natureza, criadora e mantenedora da vida, como diria Joshep Campbel: É assim porque é assim. Ela não faz reflexões, nem julgamentos, ela acontece. Ela não age com o objetivo de beneficiar ou prejudicar alguém. Nós, seres humanos fazemos sim, reflexões e julgamentos e, na maioria das vezes, agimos com objetivos definidos.
Antes do desenvolvimento da ciência, os seres humanos morriam de causas naturais. Através da ciência, tentaram reduzir, o máximo possível, a vulnerabilidade humana, diante da Natureza. Porém, na medida em que combatiam as causas naturais, provocavam problemas para o meio ambiente e para sua própria saúde. Não bastasse, isso, o modelo de civilização causou o aumento do número de transtornos mentais. Hoje, os maiores problemas para a humanidade, somos nós que criamos.
Rir, chorar, sofrer, sonhar, pensar, amar, ganhar, perder, aprender, morrer e deixar-se virar lembrança. Somos assim. Não podemos estancar a Natureza. Ela tem que seguir seu curso.
Precisamos mesmo é nos conter, tentar recuperar e defender a Natureza, pois os que virão depois precisarão poder vir depois de nós.
Se acontecer um fenômeno natural que destrua a vida, aqui, na Terra, não poderemos fazer nada, apenas sucumbir humildemente. Mas, se pudermos evitar que a vida e as condições dela sejam destruídas é mais do que nossa obrigação tentar. É nosso principal objetivo, enquanto vivos e produtivos.

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Creio que hoje foi deflagrada a guerra pela internet, principalmente no twitter, dos partidários e simpatizantes dos candidatos à presidência da República. Certamente irão fazer muitas brincadeiras e gozações com os candidatos. Que façam! Que tentem caricaturar cada um através de frases, trocadilhos e outras artimanhas da língua. Devemos ter apenas muito cuidado com o que escrevermos para não dar espaço a medidas judiciais. Todo mundo tem direito a ter seu candidato. A disputa, na realidade, é para ser programática, embora saibamos que a base da campanha deva ser a comparação entre os períodos do Fernando Henrique e o do Lula. Certamente isso definirá a eleição.

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O Brasil parece estar deixando de ser uma “Pátria de Chuteiras”. Não vemos mais a empolgação dos torcedores, ou seja, quase todos os brasileiros, pintando as ruas, ornando-as com bandeirolas e desfilando com uniformes da seleção, como víamos nos meses que antecediam a copa do mundo.
Isso pode ser um sinal de amadurecimento ou de desencanto. Talvez os brasileiros não esperem mais que o futebol venha a obter vitórias para a autoestima. Estão mais confiantes em si mesmos e acreditam que eles próprios possam obter essas vitórias. Ou, quem sabe, não estejam decepcionados com os jogadores e dirigentes do futebol brasileiro.

Paulo Viana

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Eleições e Drogas

Está sendo discutida a criação da Lei Ficha Limpa, onde não poderão se candidatar políticos que tenham problemas graves na justiça. Muitas pessoas se manifestando a favor, principalmente através do twitter. Temo, porém, que esse grande esforço não tenha a eficácia que deveria ter. Quantos parlamentares têm problemas na justiça? Quero crer que a maioria deles tenha e quer reeleição.

Não acredito que os políticos queiram dar esse tiro no pé. Jamais aprovarão uma lei que possa impedi-los de estar usufruindo das benesses e das garantias do poder.

Cabe à sociedade brasileira continuar a luta pela moralização dos poderes públicos. Vamos ficar atentos para que meliantes não cheguem ao parlamento e a outras instâncias do poder. Fiquemos, portanto, de olho no histórico dos candidatos.

As drogas, principalmente o crack, têm sido apontadas como principal problema de saúde dos municípios do Ceará. O crack é uma droga poderosíssima que vicia muito rápido e acaba levando o dependente à morte. Antes, porém, o mesmo vende objetos de casa para comprar as “pedras”. Pode, inclusive já ter agredido pais e irmãos.

Necessita-se, de forma urgente, uma política de combate à cocaína e ao crack, e a criação de centros de reabilitação públicos, visto que muitos usuários não têm condições financeiras de internamento em clínicas particulares, onde o tratamento é caríssimo.

Sempre que vai começar a corrida presidencial a Veja apresenta denúncias, em uma retórica questionável, sobre irregularidades de alguém que possa prejudicar a candidatura do PT. Se a denúncia é verdadeira, caberá às investigações apurar e o poder judiciário punir. Porém, fica bem clara a oposição sistemática que aquela revista faz ao governo. É a parcialidade da imprensa que ainda não engoliu um torneiro mecânico na presidência do Brasil.

Mais interessante é saber que ela guarda a denúncia para quando estiverem próximas as eleições.

Em qualquer situação, de qualquer partido, irregularidades têm que ser punidas com a aplicação de lei. Parcialidade na imprensa, no entanto, é algo intolerável e suspeito.

domingo, 7 de março de 2010

A Política, a Música e a TV

Os políticos pensam que o povo é burro. Sabendo que o Bolsa Família é o diferencial dos votos na eleição para presidente, um Senador do PSDB apresenta, véspera de se iniciar a campanha, uma proposta de melhoria do programa citado. É uma das famosas armadilhas eleitorais que são jogadas para o povo sem nenhum respeito, pois sabemos que mais da metade das promessas de campanha não são cumpridas.

A democracia seria muito boa se não fosse a participação inevitável dos políticos. Para estes, a Lei é um estorvo, um obstáculo a seus propósitos, na maioria das vezes de cunho egoísta ou corporativo. De várias formas eles tentam enganar os eleitores e passar por cima das regras legais. Por causa deles, as mudanças são lentas e, antes de beneficiar uma parte maior da população, tem beneficiado a eles, individualmente, ou às empresas que os financiaram.

Fica, portanto, meu registro, pois o que o Senador do PSDB quer é voto, é o poder. Em nem um momento ele pensou na situação de pobreza e desamparo das famílias a que o programa se destina. Quer enganar, explicitamente o povo, já perdeu muitos votos. No mais, estou feliz porque o governador continua preso. Espero que muitos outros sejam, pois só o que existe na política são bandidos querendo imunidade e verbas para desviar. Cadeia neles. E não vamos votar em quem está respondendo processo. O TRE tem a lista.

A música brasileira perdeu um dos ícones da Bossa Nova: Johnny Alf. O romantismo e a serenidade da voz; As melodias com o charme dissonante e as letras com a poesia envolvente, eram os ingredientes que aquele artista usava para nos maravilhar com sua arte. Ele morre em um triste cenário vivido pela música, onde o sucesso do momento é o “Rebolation”. Enquanto o Brasil melhora em alguns aspectos sociais e econômicos, há uma degradação musical lamentável.

É impressionante como a mídia consegue transformar excremento e fazer parecer chocolate. Está conseguindo transformar um Anti-Herói Bufão em um herói pasteurizado. A homofobia, a truculência, a falta de educação e outros adjetivos menos nobres são premiados e o povo, que gosta de montar-se nos lombos de heróis, nem que seja por um heroísmo do nada, editado, expressa sua revolta popularizando o ridículo, a hipocrisia e a cafajestice. Mas, na terra do Rebolation o que esperar mais?

Depois de alguns dias sem atualizar o Blog, volto a escrever. Resolvi mudar a forma e ao invés de um texto de uma lauda, sobre determinado assunto, vou escrever pequenos textos sobre assuntos diversos. Espero suscitar o debate e estou aberto às críticas e sugestões.

Paulo Viana

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Os Beatles e a Mídia

Quando os Beatles surgiram, no começo da década de sessenta, o mundo ficou surpreso com aquela novidade. O comportamento no palco, as declarações polêmicas, as músicas com arranjos inusitados, as letras lúdicas, enfim, era uma explosão de incompreensão que deixava atônitos público e crítica. Sem ignorar os antecedentes americanos, principalmente os verdadeiros fundadores do rock, como Chuck Berry, e a exposição branca (Elvis Presley) para a aceitação do gosto americano, o grupo inglês inaugurou o sucesso de mídia mundial. Não podemos negar que isso foi um prêmio para o talento. Os Beatles eram muito mais do que apenas rock.

Passados cinquenta anos, o rock se cristalizou como página importante da história da música, com a presença de muitas bandas competentes. Paralelamente, outros gêneros e estilos, da música e da arte, em geral, obtinham seus espaços no consumo e nas paradas. O erudito, por sua vez, continuou com seu público, reduzido, porém fiel.

Foram cinquenta anos de aprendizado e a mídia descobriu que já não precisa do talento nem da novidade para criar um ícone de sucesso. Parafraseando o propagandista do Hitler, Joseph Goebbels, um falso talento apresentado mil vezes, torna-se um sucesso de mídia.

A estrutura de comunicação que universalizou o talento dos Beatles, hoje, com muito mais poder de penetração nos domicílios, torna mundial qualquer porcaria. É como se fosse uma varinha mágica, claro com mais investimento e risco, que diz: faça-se o sucesso! E temos filmes, músicas, livros e moda consumidos vorazmente, como se fossem obras primas. Não quero citar exemplos, porque são muitos. Mas esse é o mundo do capitalismo. Não interessa se o produto é de péssima qualidade, cria-se mercado para ele. São tantas opções e tão rápidas que se criou o conceito de “Celebridade Instantânea”.

Claro que no meio disso tudo tem o talento e a beleza genuínos. Mas esses mesmos ícones, legítimos, são ridicularizados pela mídia, que flagrando um deslize, ou até mesmo uma parte do corpo, ou da roupa, expostos inadequadamente, explora e divulga como se fosse uma notícia de última hora. O público delira e, por não ser celebridade, vibra com o ridículo do que faz sucesso. De certa forma, isso compensa o anonimato.

A verdade é que são tantas falsas novidades, que não sentimos mais a empolgação e o prazer de nos surpreender como nos surpreendemos com os Beatles.

Sei que o ritmo dos jovens de hoje é mais intenso e eles já se adaptaram a essa demanda de alta rotatividade das celebridades. São muitas ofertas em pouco tempo. Todos superestimados pela mídia. Nenhum tem a pureza do talento legítimo dos Beatles, quando eles surgiram no cenário musical, num contexto midiático.

Creio que só a chegada de um extraterrestre, de verdade, pacífico, em seu transporte de muitas luzes e de uma tecnologia ainda distante da nossa, poderá me empolgar. Por enquanto, são muitas produções, muito dinheiro gasto, tecnologia, criatividade horizontal, porém nada que possamos dizer: Que coisa impressionante!

Paulo Viana

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Tecnologia e o Abraço

Está surgindo no mercado o primeiro robô sexual, que interage até com o toque, podendo “sentir” orgasmos. O homem continua brincando de Deus. A máquina ocupa cada vez mais espaço e a vida perde, pouco a pouco, a profundidade, emergindo para a superfície da produção científica. O outro se torna apenas o outro e o indivíduo quer experimentar suas fantasias pela tecnologia. Os dedos buscam teclas solitárias que se unem para formar o nome do amigo distante. A vida pulsa em pessoas sozinhas e nenhum peito alcança o outro peito para que as batidas dos corações se juntem formando o abraço. É isso que falta. Todos se falam várias vezes por dia, no Orkut, no MSN, no Telefone, mas falta a presença da voz, do olhar, do cheiro, do abraço.

Neste momento, que escrevo, falo através dos dedos. O silêncio, onde estou, é profundamente marcado pelo barulho interminável do processador e do teclado. Ironicamente, desejo que minhas palavras, que se deitam no editor de textos, sejam lidas por muitas pessoas. As que se sentem mais sós saberão que eu queria mesmo era pronunciar palavras, não apenas símbolos. Queria mesmo era falar palavras untadas pela emoção e com o visto indispensável do coração. Que olhos e ouvidos estivessem atentos, e a boca ávida para também dizer que estava ali, a mando de outro coração, para conversar com cordas vocais e não com caracteres originados do sistema binário, processados e transformados em mensagens via internet.

Há muito se cultiva o mito de que as máquinas dominarão os homens. Dominarão? As máquinas já dominam. O computador, a TV, o telefone, o automóvel, os videogames e muitas outras. Imagine viver sem elas. Imagine definir sua rotina sem elas. Você conseguiria? E lembre-se do começo do texto: Até robô sexual já fizeram.

Ao contrário do que pensa, a humanidade não conduz a tecnologia, é conduzido por ela. Ela é quem determina o que o homem vai criar. Ela é quem define para onde devemos seguir, embora ainda não saibamos aonde vamos chegar.

Ninguém sabe, ainda. como tudo isso vai terminar. Eu sei, no entanto, de onde estamos nos afastando. Sei que cada vez mais fica distante o desejo de que prevaleça o sentido de humanidade e o sonho do triunfo da epopéia terrestre. Não acreditamos mais que venceremos a angústia da finitude, pela fé. Não podemos conceber a eternidade pela ciência. Resta-nos usar toda a “inteligência” para a criação de máquinas, máquinas e mais máquinas. Até máquinas que possam corresponder ao apelo instintivo do sexo. Assim, podemos garantir prazer. E quando estivermos esgotados, de tanto prazer, morreremos sozinhos, embora todos acompanhem nosso desenlace pela internet.

E o amor? Ah, dirá o internauta, eu amo meu robô. O amor por pessoas é coisa de poetas, de sonhadores que vivem em um mundo de fantasias.

Quero viver muitos anos. Só não quero viver o suficiente para um dia ouvir um filho, geneticamente perfeito, perguntando à mãe: “Mamãe o que é um abraço?

Paulo Viana