quarta-feira, 19 de maio de 2010

Coração Carruagem

Meu coração trabalha sem parar, moendo emoções, bombeando minha caminhada por essa trajetória traçada, sem nenhum aviso, sem ter um código para decifrar, como um plano arquitetado para me desafiar, para me por medo, para me jogar entre a angústia e a esperança, como um pergaminho cheio de segredos, que a todo custo busco desvendar. Ao mesmo tempo, ele me ensina a não recuar, a enfrentar pequenos monstros que o cotidiano recria, a refazer o caminho quando as saídas já se fecharam, a esquecer dores, engendrar desejos e fertilizar paixões.

Meu coração anuncia sorrisos, interpreta gestos, alimenta ilusões, confidencia segredos à minha alma e, por vezes, ri da razão, quando ela se interpõe diante de um sonho ou de um sentimento mais afoito. Imponente, ele se lança à frente, como um solista em uma orquestra onde a melodia é tocada pelo tambor.

Como uma carruagem, onde o cocheiro por vezes cochila, meu coração dispara e se embrenha em aventuras vida a dentro, vida afora, procurando bater pelo que vale a pena, pulsar com vontade de expressar sua coragem e defender seus anseios.

É com este coração que tenho delineado meu tempo e erguido meu espírito. É nele que a solidão e a tristeza às vezes querem morar, porém não encontram pouso, porque o amor já ocupa todos os cômodos e a alegria é um hóspede permanente.

E se me disserem, um dia, que não é o coração o condutor da vida, afirmarei que o mapa dado a razão não corresponde ao caminho onde está escondido o tesouro. Este, só o coração é capaz de descobrir.

Paulo Viana