domingo, 19 de julho de 2009

Continuar Sonhando é Preciso

Novamente me encontro diante do computador para escrever e me vem várias ideias sobre assuntos do cotidiano. Não me interessa escrever sobre tragédias ou grandes realizações, arrancadas das manchetes dos noticiários. Não me estimulam as repetitivas notícias de morte de astros, quedas de aviões, corrupção na política, etc. A imprensa já cuida disso com muita eficiência, até porque este é o principal alimento da mídia.

Creio que quando o ser humano se descobriu vivo, participante como sujeito do mundo, começou a sonhar. A partir daí, toda a sua trajetória tratou de destruir esses sonhos. É sobre a retomada desses sonhos que quero escrever.

Não quero comentar todos os sonhos dos primitivos: seus mitos; seus desejos; sua ignorância; suas conquistas e suas paixões. Refiro-me a um sonho maior. A um desejo coletivo que cada indivíduo carregava, e ainda carrega, dentro de si, sem compreender a profundidade dele. Não é uma necessidade corporal, mas um querer do espírito, que, ao longo do tempo, foi assumindo o nome de Deus. Hoje, a humanidade, em sua imensa maioria, considera o sonho realizado, com a instituição de Deus. Como se o mal pudesse ser neutralizado sem a colaboração concreta dos próprios homens.

Considerando que esse sonho primitivo fosse, quem sabe, motivado pela extrema necessidade de se neutralizar as incertezas, o advento do desconhecido ou mesmo a alternância entre a tristeza e a alegria, devemos reconhecer que ele continua irrealizado. Não podemos, simplesmente, deixá-lo de lado dizendo: Pronto, agora Deus vai cuidar de nós enquanto brincamos de inventar coisas.

Sabemos que não é bem assim. O sonho de uma humanidade pacífica está longe de se realizar. O sonho de exploração da inteligência virou um pesadelo, pois o mau uso dela está destruindo o planeta e, consequentemente, a vida.

Chegaríamos, então, à conclusão que esse sonho primitivo era pura ilusão? Que a realidade é mais complexa, o ser humano é mesmo um processo que jamais ficará pronto e temos que nos conformar com o egoísmo, o lucro, o poder e a indiferença com a vida?

Talvez eu seja um desses homens ingênuos que acreditam na existência do conceito de humanidade e não pense só em mim e na minha família. Talvez haja algo de primitivo em meu espírito que não se acomoda com o conceito de Deus como resolução dessa angústia, que se expressa exatamente nos assuntos do cotidiano sobre os quais não quero comentar.

Pois, mesmo sabendo que a vida é um processo contínuo de mudanças e adaptações, prefiro manter em minha alma o sonho do primitivo e pensar que um dia haverá harmonia, na convivência entre as pessoas, e paz no espírito dos indivíduos sadios.

Paulo Viana