Está surgindo no mercado o primeiro robô sexual, que interage até com o toque, podendo “sentir” orgasmos. O homem continua brincando de Deus. A máquina ocupa cada vez mais espaço e a vida perde, pouco a pouco, a profundidade, emergindo para a superfície da produção científica. O outro se torna apenas o outro e o indivíduo quer experimentar suas fantasias pela tecnologia. Os dedos buscam teclas solitárias que se unem para formar o nome do amigo distante. A vida pulsa em pessoas sozinhas e nenhum peito alcança o outro peito para que as batidas dos corações se juntem formando o abraço. É isso que falta. Todos se falam várias vezes por dia, no Orkut, no MSN, no Telefone, mas falta a presença da voz, do olhar, do cheiro, do abraço.
Neste momento, que escrevo, falo através dos dedos. O silêncio, onde estou, é profundamente marcado pelo barulho interminável do processador e do teclado. Ironicamente, desejo que minhas palavras, que se deitam no editor de textos, sejam lidas por muitas pessoas. As que se sentem mais sós saberão que eu queria mesmo era pronunciar palavras, não apenas símbolos. Queria mesmo era falar palavras untadas pela emoção e com o visto indispensável do coração. Que olhos e ouvidos estivessem atentos, e a boca ávida para também dizer que estava ali, a mando de outro coração, para conversar com cordas vocais e não com caracteres originados do sistema binário, processados e transformados em mensagens via internet.
Há muito se cultiva o mito de que as máquinas dominarão os homens. Dominarão? As máquinas já dominam. O computador, a TV, o telefone, o automóvel, os videogames e muitas outras. Imagine viver sem elas. Imagine definir sua rotina sem elas. Você conseguiria? E lembre-se do começo do texto: Até robô sexual já fizeram.
Ao contrário do que pensa, a humanidade não conduz a tecnologia, é conduzido por ela. Ela é quem determina o que o homem vai criar. Ela é quem define para onde devemos seguir, embora ainda não saibamos aonde vamos chegar.
Ninguém sabe, ainda. como tudo isso vai terminar. Eu sei, no entanto, de onde estamos nos afastando. Sei que cada vez mais fica distante o desejo de que prevaleça o sentido de humanidade e o sonho do triunfo da epopéia terrestre. Não acreditamos mais que venceremos a angústia da finitude, pela fé. Não podemos conceber a eternidade pela ciência. Resta-nos usar toda a “inteligência” para a criação de máquinas, máquinas e mais máquinas. Até máquinas que possam corresponder ao apelo instintivo do sexo. Assim, podemos garantir prazer. E quando estivermos esgotados, de tanto prazer, morreremos sozinhos, embora todos acompanhem nosso desenlace pela internet.
E o amor? Ah, dirá o internauta, eu amo meu robô. O amor por pessoas é coisa de poetas, de sonhadores que vivem em um mundo de fantasias.
Quero viver muitos anos. Só não quero viver o suficiente para um dia ouvir um filho, geneticamente perfeito, perguntando à mãe: “Mamãe o que é um abraço?
Paulo Viana