quarta-feira, 4 de maio de 2011

Saudade

A saudade é um punhal agudo

Cravado no tempo e no coração

Essência perdida de uma paixão

Voz e silêncio de um grito mudo

É um nada e é também um tudo

Solitário apelo de um grande amor

Fugidio perfume de uma velha flor

Emoção que enche um peito vazio

Tristeza presente em um lar sombrio

Misto envolvente de ternura e dor

Paulo Viana

terça-feira, 3 de maio de 2011

Soneto

Tenho plena consciência que a vida
É apenas um piscar de uma estrela
E portanto é difícil descrevê-la
Ou dizer se está sendo bem vivida

Mas se nós a conduzirmos bem sentida
Sem querer, só pensando, resolvê-la
Bem mais plena e saudável vamos tê-la
E a dúvida do ser será contida

Pois nos basta buscar a harmonia
Apostando na paz e na alegria
Que o espírito será recompensado

E o tempo senhor da nossa idade
Na sua inevitável realidade
Mostrará nosso ser realizado

Paulo Viana

domingo, 1 de maio de 2011

Aurora e Crepúsculo

O tempo inaugura a primeira solidão

O nó é desfeito

Há uma atmosfera de inocência

De pureza, de bondade

O cenário é divinal

Mas logo se estabelece a segunda solidão

Eis que surge o outro

A inevitável e imprescindível mão que recebe

O inesperado assombro do “não si mesmo”

A poeira do sacrifício, da dor, da vivência

O mundo se disfarça de amor e o sexo de alimento

Não importa nenhuma tragédia freudiana

As forças naturais, viçosas, promissoras aos poucos recuam

Se institui o ódio, pois já não há mais pureza

O amor protege, o alimento excita o animal

O que estava moldado reinventa-se no prazer e na dor

O desejo é maculado, nutrido pelo contato entre a suavidade e a rigidez

Uma vez que o desejo fica no vazio a rejeição o preenche

Feito um punhal impiedoso, o não fere mortalmente o sim da vontade

Mas a força da alma vem de uma incomensurável necessidade

Forjada no ventre sagrado do inexplicável

O caloroso e blindado sim das entranhas

E a estética proteica faz a travessia

Do aconchego natural para as missões perversas

No dia e na noite, no deserto ou na miscelânea de luzes e sons

Hércules, Prometeu, Jasão

Todos os heróis, sob ameaça permanente, se põem de guarda

O outro, com armadilhas, molda a covardia ou o triunfo

Há os que quedam pelo caminho, mas há, também, os que vingam

E o uno se aventura no desafio de mudar e ser sempre o mesmo

Chega, por fim, sua terceira e última solidão

Paulo Viana