terça-feira, 1 de junho de 2010

Contemplação

Tenho buscado nas palavras a expressão exata dos frutos da minha contemplação, durante essa viagem alucinada por entre impressões sensoriais, sentimentos, pensamentos, observações e relações que é a vida. Sofro de uma inquietação perturbadora que me deixa aflito por querer sorver todo o sulco de cada instante, toda a essência do tempo em que meu corpo e minha alma estão envolvidos. Minha ânsia cresce quando vejo sorrisos, ouço canções ou percorro o caminho que se abre entre mim e a profundidade de cada olhar, dos que seguem, também perplexos, nesse caminhar.

Bem que eu poderia estar quieto, humildemente entregue à condição impotente de um mero ser humano, incapaz de corroborar o inefável mundo sentimental com frases elaboradas, mas me é muito cara, esta única e exclusiva oportunidade de estar aqui, vivo.

E se as canções me dizem coisas, se os amigos me contam suas dores, seus amores, seus sonhos, lutas, vitórias, tristezas e alegrias, silencio e escuto, porque sei que ali estão fragmentos do mundo, estão pedaços de todas as vidas, pequenos grãos de toda a existência semeada, que podem muito bem me dar uma luz, para que eu possa desentortar meu caminho e corrigir meu rumo, me aproximando do único destino para onde devo ir, que sou eu mesmo. Porque eu estou em cada um e cada um está em mim, assim como todos nós estamos nessa experiência única.

As palavras jamais esgotarão o que elas pretendem significar, mas sempre sinalizarão a nossa presença, vivos; Sempre manifestarão a existência enigmática de nossa intimidade. Cabe-nos, portanto, em olhares parceiros, como dois espelhos que se olham, buscar no outro o complemento, para, finalmente, desvendarmos esse maravilhoso mistério. E se o mistério não puder ser solucionado, resta-nos a poesia, para que, juntas, as palavras nos mostrem o lirismo da vida, mesmo que não a traduzam em seu significado mais puro.

Paulo Viana