sábado, 21 de maio de 2011

Segredo

Um segundo, apenas,

Só para contemplar esse segredo

Vislumbrar os códigos secretos

Surfar na luz plena de todas as verdades

Mesmo que se revelassem somente delírios

Sem que a profundidade se confirmasse

Ou fosse o que se afirma na superfície

Suavemente, como um jardim de plumas

Tão evidente como a paisagem

Tornando vã toda a ansiedade de passeio pela transcendência

A inatingível dimensão onde habitam a bondade e a perfeição

Onde está a resposta da primeira luz

E antes? Ah, essa inquietação sem freio, vã ansiedade oportunista

Delirar sobre o tempo, sobre o vento, as estrelas, o ontem

Querer confrontar-se com o impalpável

Declinar do confortável véu da ilusão

Ah, esse desejo infindo de saber, de por as mãos na essência do impossível

Cavalgar sob o dorso invisível da inerência

Um segundo seria o bastante

Pois, se é que existe esse segredo, uma vez visto,

Naquele instantâneo e mágico segundo,

O tempo estaria congelado eternamente

Porque a verdade se perenizaria na gnose

E veríamos, por fim, a extremidade

Que nos puxa para a recomposição do silêncio

Mas que ainda tateia na efervescência barulhenta do caos

Paulo Viana

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Eternidade Obsessiva

Quando me enxerguei naquela imensidão estranha

Como se fosse um ser distinto e privilegiado

Pensei ter descoberto a eternidade, o infinito gozo do viver

E me fortaleci na pedra e no poder das mãos

Arrancando pedaços do ser e jogando na construção da minha individualidade

Reconstruindo a alma, agora frágil e suscetível alma

Devastando a vida ao meu redor, por entender-me como a vida maior

Com o olhar petrificado no horizonte infindo

Mas eis que o vulnerável templo se desfez no outro

E vermes invisíveis o fizeram pó

Meu destino ficou claro e o olhar viu a angústia e a efemeridade de ser e estar

E a presença do não ser me fez obsessivo, buscando o ser eterno

E ainda quero e faço-me ciente e ciência disso

A força inerente da vida me fez abraçar o desafio

Antes que caia o último meteoro

Antes que hecatombes destruam a última combinação de carbono

Nem que me reste somente a última molécula de ar puro

Que haja sucumbido toda a beleza e todos os outros seres

Com minhas mãos e o pensamento buscarei a eternidade

Pois me dei o direito de assumir o papel de Deus

Da criatura forjada no medo, que criei e agora descarto

Pois já não creio mais na sutileza e permanência do espírito

Sou eu o senhor do destino

Sou eu que vagueio entre o herói e o ridículo

Paulo Viana

domingo, 15 de maio de 2011

Estilhaçar

Não posso descrever o sentimento

Que transbordou do teu olhar distante

Até a luz do sol naquele instante

Não tinham a mesma cor no firmamento

Em mim, configurou-se um tormento

Uma incontrolável aflição

Pois nos teus olhos vi a confissão

Que fez meu sonho desestruturar

Como se fosse o estilhaçar

Do meu inquebrantável coração

Paulo Viana