sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Cais


Submerso no esplendor da vida
Dessa ilusão de dores tão reais
Vou navegando em busca de um cais
Em rota cega e desconhecida
Mas a esperança não está perdida
E nem o estímulo para navegar
Mesmo que nunca possa encontrar
Um porto firme para meu navio
Fico à deriva como um desafio
De ter um sonho pra realizar
Paulo Viana

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Com que roupa vestirei minha alma?


Com que roupa vestirei minha alma?

            Uma alma sem ilusões é uma alma nua.  A  verdade é que não dá para viver sob a tirania implacável da realidade todo o tempo.  Temos que eleger uma ilusão para movimentar nosso apego, para estimular a caminhada. Porque, se não for a expectativa de vencer, de se destacar em termos pessoais, na vivência social, material ou no reconhecimento público da evolução e do status, seja financeiro ou intelectual, sentiremos o vazio de não corroborar com os interesses e os anseios que a sociedade cria na perspectiva de manter seus valores e os fundamentos do sistema que associa o homem ao que ele tem como propriedade.
            Há uma escala de valores a serem conquistados que coincide com o acúmulo de bens materiais e com a evolução intelectual. A ilusão se manifesta no sentido de classificar essas conquistas como reais, anunciando seu desenvolvimento vertical enquanto ser humano, o que não é verdade. Para a sociedade, que tanto valoriza isso, é um fato, mas para o ser humano, como individualidade espiritual, não acrescenta nada. Pelo contrário, muitos homens se tornam arrogantes e pobres espiritualmente depois que conquistam um milhão de dólares ou um doutorado.
            A sociedade não valoriza, efetivamente, as virtudes, porque os meios não são importantes tanto quanto o são os fins. Interessa mais atingir as metas de mobilização social do que os métodos usados para lá chegar. Contudo, não quero dizer que a prática das virtudes de forma radical, apesar de ser a ilusão eticamente correta, seja a ideal para se buscar. Não é possível conviver todo o tempo com os extremos, quando se trata da raça humana.
            Temos, portanto, uma sociedade que valoriza duas principais ilusões: Os títulos e as propriedades. Ao mesmo tempo, não considera que os meios para atingi-los sejam tão importantes, o que nos leva a concluir que virtudes não são relevantes no processo de convivência social.
            E com que ilusão deveríamos vestir a nossa alma? Se renegarmos as ilusões acima apresentadas o que nos vai sobrar? Para os artistas e os desportistas, que para mim são conquistadores autênticos, pois tratam de superação individual e real, a glória é a ilusão merecida. Viverá com os louros até o fim da vida e deixará sua marca para os que vierem depois.  E os que não são artistas, nem desportistas, ou jamais ganharão um milhão de dólares ou chegarão ao doutorado? Terão que cultivar as ilusões religiosas. Doutrinas que limitam e, algumas, conduzidas muitas vezes por homens inescrupulosos, entidades que visam o poder e o dinheiro e outras que não passam de quadrilhas organizadas para explorar a ingenuidade e a carência espiritual das pessoas.
            Chegamos a um grande impasse: Se a alma sem ilusões está nua, com qual ilusão deveremos vesti-la? A minha alma, tenho tentado vestir com a ilusão do autoconhecimento. Ela me dá a oportunidade de evoluir espiritualmente, sem, necessariamente, ter que venerar uma entidade ou um conjunto de normas para o comportamento, que não é seguido pelos doutrinadores. Se será uma ilusão sempre, sem nenhuma perspectiva de se realizar, não sei, mas que, para mim, é a única que me faz sentir-se com a alma vestida, é.
Paulo Viana

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Opção


O umbral sombrio surrealizou-se
Em sonho tenebroso
De abismo infindo e escuro
Com a luz brilhando ao longe
Um convite ao indeterminado
Mas o desejo de continuar em brilho
Consumindo-se em vida ativa
De abraçar as ilusões
Protagonizar os próprios medos
Sentir prazer e dor
Porque só vivos temos opções
E a minha é cumprir todo o ciclo
Com a permissão das circunstâncias
Paulo Viana

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Sentimento


Já tentei definir a solidão
O amor, a loucura e a saudade
Refleti sobre a felicidade
E pensava entender o coração
Porém tudo era só opinião
Impressões que se tem no pensamento
Mesmo sendo com aprofundamento
Na ciência ou na filosofia
Sem sentir ninguém sabe o que seria
A grandeza que tem o sentimento
Paulo Viana

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Viagem


Sob meus calcanhares o caminho
Pisado entre a ternura e a firmeza
Traçado no covil de leões
Que, domados, me servem a força
Para que não se me dobrem as pernas
E possa seguir nessa jornada humana
Tendo outros olhos  como luzes suplicando olhares
Castiçais de ouro, com janelas brilhantes
De almas entrelaçadas que se fundem
Na incessante busca do amor
Salpicando suas vivências no exercício do ser
Pequenos universos em jardins espirituais
Com os quais disseco minha solidão
Paulo Viana

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Página Virada


Vira-se a página
Mas palavras permanecem
Como marcas indeléveis
Nódoas graciosas de momentos
Encantadoras fantasias
Tão distantes e improváveis
Que viraram utopia
Mesmo assim, a página é nova
E o coração se renova
E reescreve o sonho
Neste novo dia
Paulo Viana

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Importância do Ato de Ler


            O mundo é a expressão da Natureza, sua linguagem, mensagens, discurso, enfim, a forma como ela se comunica. Nós humanos, embora façamos parte dessa expressão, temos a capacidade de decodificar esses dados sensíveis, para, não só enxergá-los, mas compreendê-los. Portanto, temos a capacidade de ler o mundo.
            Considerando, no entanto, que essa leitura, em um primeiro momento, é muito limitada, faz-se necessária a complementação dela através da interpretação dos outros, para, em um consenso de várias impressões, ter-se a melhor leitura possível.
            A melhor leitura possível vem com a inclusão dos sentimentos, da experiência, a sensibilidade e profundidade inerentes a cada um. Cada visão é enriquecida pelas outras, acumulando informações, ampliando contextos, incrementando conhecimentos, revelando segredos, acrescentando, sobretudo, à expressão da natureza, a forma como os humanos a recebem e a transmitem.
            E assim nasceu a escrita. O registro da experiência intelectual e emocional, em sua forma original, sem as perdas da oralidade, servindo definitivamente como reserva de aprendizado, documentação histórica e informações que facilitariam a vida de todos.
            Leio o mundo, em minha individual capacidade. Preciso ler o mundo lido também por outros. Por isso é importante ler. Estimular o intelecto, o pensamento, a imaginação. Incutir na alma o desejo de evoluir, de saber, compreender, descobrir, realizar e, principalmente, sentir.
            Ler é quase uma necessidade natural. É um alimento indispensável ao espírito. Sem leitura o espírito é ansioso, faminto, grudado na superfície, como uma pedra, que, em sua imobilidade, necessita de forças alheias para movê-la. Falta-lhe a liberdade. É dependente da energia e do saber de outros. Está, permanentemente, suscetível ao engano.
            Uma das mais maravilhosas criações dos homens é a literatura. A história, a ficção, os estudos científicos, a mitologia e a poesia. A trajetória humana, em sua amplitude de sentimentos, de feitos, de desejos e realizações. A grandeza, as contradições, as epopéias, as sagas de toda a civilização em seu transcurso pelas linhas do tempo. Todo um complexo de alimentos para o engrandecimento da alma. Ler é procurar-se no mundo e encontrar-se em si mesmo.
Paulo Viana

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Outubro


Bela tarde que o outubro inventa
Sol em céu azul feito do nada
Nuvens brancas, plumas desgarradas
Outras cheias, um pouco cinzentas
Primavera que nos acalenta
Noite em lua, clara, já tardia
Presunçosa, imitando o dia
Dos noturnos, aos olhos, dá luz
Natureza que a mim seduz
E enfeita minha poesia
Paulo Viana

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Universais


Não preciso estar solitário
Saudoso, desamparado
No árido mundo real
Posso cantar a solidão
A saudade e o desamparo
Do mundo transcendental
Porque meu mundo é poético
E meu desconsolo estético
Nem sempre é sentimental
Paulo Viana

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pacoti


Esplendoroso véu de verde e flores
            Refúgio natural de viço e encanto
            Refletes esperança em cada canto
            Aliviando os medos e as dores
            Se há em outros lugares os horrores
            Da decadência e da degradação
            Trouxeste alívio ao meu coração
            Pois sendo tu, árvore do meu ninho,
            O sopro do sublime em meu caminho
            Te olho com afeto e emoção
            Paulo Viana

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Liberdade e Dúvida


Minha liberdade foi encarcerada
Por uma eterna dúvida filosófica
Residente na verdade teosófica
Na vida espiritual redimensionada
E nesse caminho, não sabendo nada
Sou um peregrino sem uma doutrina
E a minha fé é quem determina
O que eu entendo como retidão
E para ser livre, tenho a solução
É acreditar no que o viver ensina
Paulo Viana

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Ser e o Vir a Ser

A mente é uma página rabiscada

Um formulário a ser preenchido

Com dados de cada dia vivido

E a experiência então acumulada

A cada momento ela é transformada

Na dialética do eterno vir a ser

Porém não perdemos nosso ser

Que mantém intacta a identidade

Aquela que busca a felicidade

Mesmo sabendo que vai perecer

Paulo Viana

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Estações

Surgem flores grávidas de novos jardins
E o inverno se despede dos seus dias
A primavera ensaia sua dramaturgia
Escolhendo as cores no camarim
Uma estação diferente muda em mim
Porque havia calor, era verão
Vivi os temporais de uma paixão
Um amor que parecia ser eterno
Mas veio um sombrio inverno
E agora neva em meu coração
Paulo Viana

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Desenlace

Depois da partida

Apenas o silêncio esquecido

O ressoar misterioso do limbo

Não importa mais as glórias

Ou a labuta insistente da fé

Só os corações mais avizinhados

Aqueles que repicaram juntos

Sentem o eco daquela existência

Além disso, o paradoxo

O nutrir-se de carne e esperança

Para ser alimento natural da finitude

Paulo Viana

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O tempo e a Vida

Esses dias, sol andarilho, sombras e sonhos

Roldanas de luzes e escuridão

Luas cantadas, cheias e minguantes

Ah, essa névoa tão rápida, esses desejos

Esses minutos, grãos da eternidade

Ciclos, passagens, crianças, adultos

Esses momentos, essas alegrias, esses amigos

O riso, o choro, a indiferença, o amor, a música

As dores, a saudade, o esquecimento

O tempo é pra sempre, a vida é que passa

Paulo Viana

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poesia

Poesia é palavra e sentimento
É momento interno, canções da alma
Emoção real que se fantasia
É a música sem melodia
Essência do verbo e do tempo
Confusões de um diálogo torto
O coração, com sua linguagem única
Sentindo e querendo dizer
E a razão com seu ouvido mouco
Fingindo que pode entender
Paulo Viana

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Caminhar

Quis compreender os caminhos
Antes de caminhar
Mas são os passos que encontram os espinhos
Que, por sua vez, nos ensinam a pisar
E se as dores nos deixam sozinhos
Restam as flores para nos confortar

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Transição

Fim de tarde... O silêncio é fluido

Meu desejo é uma tatuagem no tempo

Por isso tem asas

O pensamento delira sobre laços e liberdade

Projeções de nuances infantis e artísticas

Refletida em olhares e dizeres

Os olhos e a poesia

O estar e não estar presente

Não tenho certeza onde estou navegando

Talvez a fantasia tenha me expulsado

A realidade, essa lâmina afiada, espuma que alegra

Estou pronto... Pode vir.

Paulo Viana

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Jardineiro e Vento

Não sou poeta

Sou jardineiro das letras

Por transpirar em sonhos

Cultuando flores distantes

Em jardins improváveis

Não sou poeta

Faço versos em suaves ventos

Por erguer borboletas

Dançarinas noturnas

Em fronteiras alheias

Não sou poeta

Sou jardineiro e vento

Para as flores e as borboletas

Cada uma no seu momento

Paulo Viana

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mundos

Não quero filosofar sobre mundos

Eles existem e ponto

Carrego comigo um deles

Com todo o peso da existência

E com a suavidade da essência

Uma entrelaçada a outra

Repartindo minhas dores e prazeres

À noite, ao deitar, repousa o existir

Deixando fluir o essencial

Lampejos oníricos de anseios e conflitos

Ainda estou ali, porque sou noite e dia

Sol e escuridão, luz e trevas

Sou o animalesco suor do desejo

E a serenidade da reflexão

Por vezes esqueço a placidez

E a energia do fulgor anímico brilha

Então porque pensar sobre mundos?

Eu sou meu próprio mundo

Por vezes me harmonizo com os outros

Buscando o equilíbrio de estar e não estar só

Porque existo na essência do outro

E sou essência da sua existência

Não quero a filosofia dos mundos

Quero a vivência deles

Na carne e no espírito

Consumir todo o fogo, até as cinzas

Cingindo meu caminho no tempo

Até passar sob o umbral do infinito

Paulo Viana

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sonhos e Sombras

Meu coração é portavoz constante

Do mais profundo da intimidade

Do véu sublime da sinceridade

Na expressão de mim a cada instante

Porém há versos ditos em rompante

Para compor rimas e poesia

Que são apenas minha fantasia

Sonhos e sombras em ebulição

O despertar solene de um vulcão

Da minha essência que se pronuncia

Paulo Viana

sábado, 2 de julho de 2011

Vida Simples

É simples e agradável caminhar por entre as árvores, respirando um ar quase sem monóxido de carbono, ouvindo as melodias esparsas dos cânticos dos passarinhos, com o vento roçando nas folhas e trazendo a atmosfera do inverno. É bom sentir os primeiros raios do sol, sob um céu infinitamente azul e nuvens branquíssimas em contornos fugidios, adornando a nossa imaginação.

Aqui, nestas montanhas, onde a exuberância do verde resiste à avidez inesgotável dos homens de apropriar-se da natureza, há sinais inconfundíveis de vida legítima, sem os atropelos estressantes das metrópoles, sem os incompreensíveis anseios hedonistas e o desejo incomensurável de destacar-se pelo acúmulo de propriedades. Apenas a vida, simples e profundamente envolta na sabedoria do pensar em estratégias de exercer a destreza, a inteligência, a capacidade de construir, sem, no entanto, destruir as condições de existência.

Nestas terras, onde vivem plantas e aves, que tão belamente nos acompanham nessa maravilhosa experiência que é viver, sinto-me sob um encanto que, ao contrário de parecer primitivo, nos remete à última aventura dos seres humanos que é idealizar um paraíso para edificar a sua morada.

Neste esplendoroso oásis de esperança, onde espécies ameaçadas se escondem bravamente, com receio de enfrentar a psicopatia da nossa espécie, tão paradoxalmente marcada pela engenhosidade, inteligência e acúmulo de conhecimentos, confrontados com a falta de critério e o desmando na condução do seu processo evolutivo, causando males irreversíveis à sua morada, ainda percebo o quanto é belo o mundo e a vida.

Salve a arte e a ciência que cura, porque elas evitaram que a civilização humana se transformasse em um fracasso total.

Seria bom se pudéssemos recomeçar, conscientes dos males que a revolução industrial causou, que o desmatamento generalizado provocou e as consequência da ganância pelo lucro e pelo prazer imediato. Talvez, com toda a nossa criatividade, conseguíssemos viver respeitando o mundo natural e construindo uma civilização menos irracional. Descobrindo, principalmente, que a Natureza tem as resposta para todos os problemas que ela mesma causa.

Infelizmente não é possível recomeçar, mas é possível viver de forma simples, em montanhas que ainda preservam as condições mais favoráveis para a vida. Por isso viverei até o fim dos meus dias nestas montanhas maravilhosas, convivendo com o mais prazeroso e pacífico anonimato.

Paulo Viana

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Cursor e o Tempo

Pulsando sobre a luz branca do papel virtual, ávido por desenhar palavras organizadas em um sentido inteligente e inovador, o cursor desafia a criatividade e suplica ideias. Sem querer discorrer sobre assuntos já debatidos, o autor, vacilante passageiro dessa viagem única e sem volta, desvia o olhar do passado, controlando o impulso para não projetá-lo no futuro. Ao tentar fixar-se no presente, percebe que este é apenas um momento de transição, uma oportunidade para ajustarmos a trajetória da vida, no sentido de conduzi-la, com mais tranquilidade, à produção de caminhos menos tortuosos e mais harmoniosos.

Quantas oportunidades perdemos, ao longo dessa caminhada, de mudar nossas atitudes, resolvendo problemas que insistimos em manter, por fraqueza, por dependência, pela manutenção de um prazer que mais prejudica do que beneficia; Pela falta de coragem de abrir mão do rotineiro; Pelo medo do novo! Quantas vezes sucumbimos ao apelo do prazer imediato, da ansiedade e da solidão, que nos fazem consumir sem necessidade, nos enganando ao conceder milésimos de segundos de conforto e nos desamparando a seguir. O presente é o único momento que temos para evitar que o futuro seja uma reedição do passado ruim. Em todas as vidas há correções a se fazer.

Mas o presente é, também, o momento de consolidar avanços em nossas vidas; De manter as atitudes positivas; De resistir, com nossos valores morais, à sedução dos ganhos fáceis e ilícitos e de reafirmar nosso amor ao mundo, à vida e às pessoas que amamos de verdade. É uma dádiva única, solitário instante de luz brilhante em nossa alma; Efêmero brilho, que se apaga quando se veste de passado, e reacende, quando o futuro se apresenta pulsante como este cursor exigente.

O passado projeta no presente as sementes do futuro. Basta saber escolher os grãos a serem semeados. Escolhendo os grãos errados teremos uma colheita ruim. E o tempo de semear é todo dia, assim como o tempo de colher. E o único fertilizante que devemos aplicar é o amor à vida.

Pois eis que discorrendo sobre passado, presente e futuro o tempo passou e a avidez do cursor foi acalmada, embora ele continue solicitando um fechamento do texto e da ideia. E como poderíamos satisfazê-lo? Se cada um dos leitores, ao final da leitura dessas palavras, fizer uma reflexão sobre as sementes que vai plantar naquele dia, ou no dia seguinte, e apostar em terrenos mais férteis em paz, harmonia, alegria e amor, tirando as ervas daninhas do egoísmo, da ambição, da intolerância e da indiferença, se estas existirem na lavoura de suas almas, certamente o cursor poderá sentir-se satisfeito ao desejar que palavras fossem escritas na luz branca desse papel virtual.

Sabemos que na vida, como na natureza, as intempéries são possíveis, e acontecem “tempestades”, tragédias e outros fenômenos. Ergamo-nos, como se ergue a natureza, e reconduzamos a vida ao seu caminho normal. Ao mal que não podemos evitar temos o amor à vida. Ao mal que podemos evitar temos o presente para refletir e semear o que venha nos trazer o bem. O resto é hormônio.

Paulo Viana

terça-feira, 21 de junho de 2011

Essência

Tenho um sentimento confortável pela vida
Seja na dor ou no sorriso
Na alegria ou na sobriedade adulta
Porque reduzi meus anseios
Compreendi as utopias
E mudei as referências, aproximando-as da simplicidade
Onde estiver, serei apenas o que já sou
Mas trilho os caminhos de horizontes espirituais
Sem o misticismo doutrinado, ou a mitificação do incompreensível
Buscando evoluir nos limites do que está submerso potencialmente
Na aprendizagem e na leveza da sabedoria
No exercício do ser, em sua mais pura essência
Reconhecendo a vulnerabilidade do corpo
E elevando-me às fronteiras do espírito
Sem intermediários externos
Meditando sobre minhas ações
Sendo meu próprio preceptor
Tendo como único e suficiente princípio o fato ser humano
Este maravilhoso animal que bem sabe construir a destruição
Mas que, também, reconstrói seus sonhos, seus desejos, suas ilusões e fantasias
Com sua destreza e a criatividade artísticas
Essa bactéria infame, que infeccionou a terra viva
Mas carrega em si as emoções, o dom do amor e da amizade
Tenho um profundo desejo de atravessar meus dias em plenitude
Sem querer alcançar valores absolutos
Porém vivenciando toda a minha essência ontológica
Paulo Viana

domingo, 12 de junho de 2011

Românticas

Antes da tua aventura onírica
Entre a vigília e o sono
Sorri, por essa ironia
Porque és tão real
No mundo da fantasia
Porque as palavras te buscam
Se já és a poesia
Como podes estar tão perto
Se tudo te distancia
Paulo Viana

Não temos uma música
Daquelas que marcam momentos
Mas vejo melodia em teu sorriso
Ritmo em tuas palavras
E harmonia em teu olhar
Portanto, és tu a própria canção
Não conheço tua voz
Mas escuto teu silêncio
Paulo Viana

O sol das tuas manhãs
Este mesmo sol que me aquece
Beija em teu rosto as maçãs
Depois em luz me oferece
Paulo Viana

Tuas mensagens são chuva
Do céu transcendente onde habitas
Brandas gotas, pequeninas estrelas
Fertilizando minhas emoções
Fortalecendo a esperança
E inundando minha alma de alegria
Paulo Viana

Foste neblina
Agora és chuva
Na minha fantasia
Serás tempestade um dia
Paulo Viana

domingo, 5 de junho de 2011

Neblina

Ah, essa emoção estranha, esse desejo platônico

Move-se pelas imagens e penetra no silêncio virtual

Adivinhando o conteúdo dos sonhos

Espreitada por essa razão de lógica fatídica e previsível

Mesmo assim, disfarça-se em versos e explode em palavras

E, depois que germina, o improvável a alimenta

Os raios de um sol impossível iluminam sua vitalidade

E ainda, na antevéspera da paixão, cresce, cresce

Os inúteis anteparos da praticidade tombam impotentes

Porque logo vira véspera de um iminente pulsar emocional

Nas entranhas inicia-se o peso, um misto de angústia e quase gozo

Por fim, uma nebulosa instala-se no espaço da lucidez

O coração acelera com uma imagem, ou diálogo

Deixo fluir, simplesmente, como um rio depois das chuvas

Não é tempestade, porque os corpos nunca se encontraram

É neblina suave, molhando devagar

Até que esse carisma atravessou o peito e fez pequenas poças no coração

Com diversos matizes de sentimentos

E a paixão faz-se rebento

O formalismo racional apenas observa, pois já não tem mais força

Não pode lutar contra a expressão do mais profundo da existência

Não pode impedir que o amor construa sua caminhada

Por mais difícil e distante que ela seja

Se jamais chegar a seu destino, se consolidando em sua concretude,

Pelo menos terá derramado sua essência pelo caminho

E terá criado a perspectiva de se vislumbrar a felicidade

Que venha! Tenho versos secretos para ela

Paulo Viana

sábado, 28 de maio de 2011

Caminho

Por que temer os espinhos
E as dores
Se nos leva o caminho
Às inevitáveis flores?

Paulo Viana

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Pranto

Quero dizer em palavras modestas

Na placidez solene do meu canto

Que do meu íntimo aflora um pranto

Quando alguém destrói uma floresta

Não por insulto, mas por quem contesta

Vou protestar contra essa maldade

Pois quem comete tal insanidade

É tão pequeno em Inteligência

Tão limitado em sua consciência

Que não é digno de ter liberdade

Paulo Viana

terça-feira, 24 de maio de 2011

Bolor Medieval

Tenho navegado muito na internet e leio artigos, comentários e outras publicações nas redes sociais, sites e blogs. Tenho o mesmo princípio de Voltaire, o clássico “posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizer”. Por conta disso, silenciei diante de manifestações absurdas de mentes retrógradas, preconceituosas, hipócritas e reacionárias, que não conseguem conviver com as diferenças e com as mudanças. E o que é pior, por terem galgado um posto medíocre na escala social, idolatram os títulos, mesmo que sejam adquiridos por meios duvidosos, e condenam a inteligência intuitiva. Defendem uma elite por querer pertencer a ela. É uma pobreza de espírito que dá ânsia de vômitos. Talvez fosse melhor ignorar essas mentes pobres, mas eu já ignorei demais e quero escrever sobre isso.

São essas pessoas que admiram os ditadores, inclusive, vez ou outra, manifestam atmosfera de saudade do militarismo criminoso que se estabeleceu no Brasil a partir de 1964. São eles que tratam os homossexuais como pessoas doentes ou mesmo, sem-vergonhas. Muitos desses hipócritas citam a Bíblia, falam em consciência cristã ou se arvoram de moralistas. São arrogantes dessa natureza que cultuam o machismo exarcebado, que minimizam a importância da mulher nas relações econômicas, sociais e políticas, do mundo, nos dias atuais e, por fim, são esses espectros de desumanidade que subestimam e discriminam pessoas por morarem em regiões mais pobres.

O que ameniza, nesse contexto de reacionarismo, é o fato dessas vozes não possuírem muito público, que os ouça e que se interesse por suas aberrações pseudo-intelectuais. São cães que insistem em ladrar, quando a caravana já passou há muito tempo.

Não me cabe citar nomes, até porque essa psicopatia é comum em muitas pessoas que, felizmente, já não encontram eco nos formadores de opinião verdadeiros e nos principais pensadores da realidade, o que, por conseguinte, são ideias que morrem em seu nascedouro isolado e marcado pelo bolor.

O bom senso nos remete ao horror do nazismo e do fascismo. Essa estrutura psicológica, elitista, apreciadora da ideologia da raça pura propiciou aqueles momentos estarrecedores da história humana. Por isso não consigo mais me omitir. Meu senso de humanidade, mesmo sem seguir nenhuma religião, não consegue conviver com o desprezo pelos miseráveis, pelos simples, pelos diferentes, pelos que não têm oportunidade de se defender ou por aqueles que não possuem as especificações no rótulo dos conservadores medievais.

Paulo Viana

Vida

O que me cabe neste mundo

Nesta aventura agridoce?

Por que o acaso me trouxe

Qual o sentido profundo?

Já pesquisei bem a fundo

Tais perguntas proferidas

Querendo entender a vida

Mas a resposta não veio

Permaneço sem esteio

Sem a resposta devida

Talvez nem deva existir

Ou, quem sabe, é somente

Viver tudo intensamente

Amar, chorar e sorrir

Paulo Viana

sábado, 21 de maio de 2011

Segredo

Um segundo, apenas,

Só para contemplar esse segredo

Vislumbrar os códigos secretos

Surfar na luz plena de todas as verdades

Mesmo que se revelassem somente delírios

Sem que a profundidade se confirmasse

Ou fosse o que se afirma na superfície

Suavemente, como um jardim de plumas

Tão evidente como a paisagem

Tornando vã toda a ansiedade de passeio pela transcendência

A inatingível dimensão onde habitam a bondade e a perfeição

Onde está a resposta da primeira luz

E antes? Ah, essa inquietação sem freio, vã ansiedade oportunista

Delirar sobre o tempo, sobre o vento, as estrelas, o ontem

Querer confrontar-se com o impalpável

Declinar do confortável véu da ilusão

Ah, esse desejo infindo de saber, de por as mãos na essência do impossível

Cavalgar sob o dorso invisível da inerência

Um segundo seria o bastante

Pois, se é que existe esse segredo, uma vez visto,

Naquele instantâneo e mágico segundo,

O tempo estaria congelado eternamente

Porque a verdade se perenizaria na gnose

E veríamos, por fim, a extremidade

Que nos puxa para a recomposição do silêncio

Mas que ainda tateia na efervescência barulhenta do caos

Paulo Viana

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Eternidade Obsessiva

Quando me enxerguei naquela imensidão estranha

Como se fosse um ser distinto e privilegiado

Pensei ter descoberto a eternidade, o infinito gozo do viver

E me fortaleci na pedra e no poder das mãos

Arrancando pedaços do ser e jogando na construção da minha individualidade

Reconstruindo a alma, agora frágil e suscetível alma

Devastando a vida ao meu redor, por entender-me como a vida maior

Com o olhar petrificado no horizonte infindo

Mas eis que o vulnerável templo se desfez no outro

E vermes invisíveis o fizeram pó

Meu destino ficou claro e o olhar viu a angústia e a efemeridade de ser e estar

E a presença do não ser me fez obsessivo, buscando o ser eterno

E ainda quero e faço-me ciente e ciência disso

A força inerente da vida me fez abraçar o desafio

Antes que caia o último meteoro

Antes que hecatombes destruam a última combinação de carbono

Nem que me reste somente a última molécula de ar puro

Que haja sucumbido toda a beleza e todos os outros seres

Com minhas mãos e o pensamento buscarei a eternidade

Pois me dei o direito de assumir o papel de Deus

Da criatura forjada no medo, que criei e agora descarto

Pois já não creio mais na sutileza e permanência do espírito

Sou eu o senhor do destino

Sou eu que vagueio entre o herói e o ridículo

Paulo Viana

domingo, 15 de maio de 2011

Estilhaçar

Não posso descrever o sentimento

Que transbordou do teu olhar distante

Até a luz do sol naquele instante

Não tinham a mesma cor no firmamento

Em mim, configurou-se um tormento

Uma incontrolável aflição

Pois nos teus olhos vi a confissão

Que fez meu sonho desestruturar

Como se fosse o estilhaçar

Do meu inquebrantável coração

Paulo Viana

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cumplicidade

Em sonho mágico e surpreendente

Eu visitei o mundo metafísico

Na transcendência do meu corpo físico

Plainando livre com os braços da mente

E numa luz forte resplandecente

Ao cintilar na essência da brancura

Eu vislumbrei o amor e a loucura

Na perfeição de uma cumplicidade

Buscando a forma da felicidade

Na efervescência da minha alma pura

Paulo Viana

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tempo

O tempo é um rio violento

Que arrasta as ilusões

Os sonhos e as emoções

Leva a dor e o tormento

Correndo a todo momento

No inverno e no verão

No dia e na escuridão

Só não leva o amor

Porque ele estacionou

Dentro do meu coração

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Saudade

A saudade é um punhal agudo

Cravado no tempo e no coração

Essência perdida de uma paixão

Voz e silêncio de um grito mudo

É um nada e é também um tudo

Solitário apelo de um grande amor

Fugidio perfume de uma velha flor

Emoção que enche um peito vazio

Tristeza presente em um lar sombrio

Misto envolvente de ternura e dor

Paulo Viana

terça-feira, 3 de maio de 2011

Soneto

Tenho plena consciência que a vida
É apenas um piscar de uma estrela
E portanto é difícil descrevê-la
Ou dizer se está sendo bem vivida

Mas se nós a conduzirmos bem sentida
Sem querer, só pensando, resolvê-la
Bem mais plena e saudável vamos tê-la
E a dúvida do ser será contida

Pois nos basta buscar a harmonia
Apostando na paz e na alegria
Que o espírito será recompensado

E o tempo senhor da nossa idade
Na sua inevitável realidade
Mostrará nosso ser realizado

Paulo Viana