Por várias vezes, em sala de aula, disse aos meus alunos que aquele que não lê está perdendo uma das coisas mais bonitas que a humanidade produz: A literatura. Um livro, de um bom escritor, em nossas mãos, seja de ficção ou não, nos dá o prazer do contato com a experiência do outro, com a alma do mundo, com as emoções, a criatividade e o intelecto da humanidade. Tudo isso condensado em páginas, em palavras, muitas vezes poéticas, outras expressando pensamentos inusitados, e alguns relatando as dores, as alegrias, as decepções e os amores de personagens que nos encantam. Sem contar com o agradável exercício que fazemos em nossa mente, decodificando a linguagem escrita para a linguagem da imaginação, onde reescrevemos, com a luz do nosso espírito, aquela história ou aquele ensaio, compartilhando, com o autor, sua visão de mundo, sua moral, sua forma de entender como os acontecimentos afetam a vida e as pessoas.
Quero, no entanto, falar mais do livro do que propriamente da literatura. Desse pequeno objeto de papel, páginas, letras que atravessou quase toda a história da humanidade, contando histórias, experiências, estudos, pensamentos, filosofias, enfim, tudo que se passou, seja nas relações entre as pessoas e os povos, seja nas vivências interiores dos romancistas e dos poetas.
E por que falar sobre o livro? Porque vemos, a cada dia, com as novas tecnologias, a literatura perder sua forma e ser conduzida em máquinas, cujas funções são inúmeras, e onde os jovens não sentem a atração, como sentíamos pelo livro que sempre estava ali, em nossas mãos. Porque aquela máquina traz milhares de atrativos que desviam o interesse, e uma obra literária, de altíssima qualidade, passa a concorrer com jogos violentos, com fontes de pesquisas superficiais, por muitas vezes mal elaboradas, sem credibilidade, que deseducam e desvirtuam.
Quero deixar claro que não sou contra a literatura na internet ou mesmo no PC. Que proliferem a boa arte, os bons escritos, o que de bom a humanidade produz. Mas a mágica do livro, que ao ser folheado, quando lido, nos envolve numa atmosfera de expectativa criadora, é única. O livro é companheiro, porque nos acompanha aonde vamos; é amigo, porque nos dá bons conselhos; é mestre, porque nos ensina muitas coisas; é, sobretudo, a nossa memória, que não exige um teclado, que não depende de outra energia, a não ser a luz em nossos olhos, a disposição, em nosso intelecto e o desejo, em nosso coração. Seria muito triste se um dia os livros deixassem de ser editados. Aliás, para ser mais realista, será muito triste quando os livros deixarem de ser editados. Não sei se através da tecnologia o romantismo das histórias e dos ideais filosóficos contaminarão os leitores, como fui contaminado pelos livros. Por isso escrevo com esse espírito. Por isso sou romântico. Por isso lamento se um dia os livros desaparecerem.
Paulo Viana