quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

2010

Não sei quem distribui a alegria, a paz a saúde e o amor. Não sei também qual o critério usado para a distribuição. Tenho certeza, no entanto, que a quantidade existente não é suficiente para todas as pessoas, nem para todo o tempo, pois vemos muita discórdia, desamor, doenças e tristeza.

Inegável é, mesmo que desejemos para todas as pessoas do mundo o melhor possível, que muitas viverão momentos terríveis em 2010. Isto é apenas uma constatação.

É improvável que um dia todas as pessoas tenham sua dose justa das coisas boas que possamos sentir. É incômodo imaginar que não haverá alegria, paz, saúde e amor para todos e aceitar o dinamismo dos contrários como motor da vida e do mundo.

Então essa tarefa, que nos cabe a cada fim de ano, de desejar para todos um Feliz Ano Novo é inglória, pois só atingirá a alguns. Mesmo assim desejamos, embora silenciosamente dedicando o desejo para aqueles que estão mais próximos.

O que poderíamos fazer a respeito?

Existe uma palavra que pode minimizar a desventura dos que não serão aquinhoados com sua dose de boas coisas: Solidariedade. Isso mesmo. Se estivermos entre aqueles privilegiados que serão contemplados com uma boa dose de alegria, de paz, de saúde e de amor devemos compartilhar com os não contemplados.

Levemos, então, alegria para os que estão deprimidos; saúde para os debilitados; paz para os belicosos e amor para os mal-amados. Não basta desejar, temos que agir, pois a alegria aumenta para quem alegra, a saúde se fortalece para quem cura, a paz se consolida para quem pacifica e o amor engrandece a vida para quem ama.

Por isso, caros amigos, permitam-me mudar a velha expressão que repetimos todo ano e ao invés de dizer “Feliz Ano Novo” quero dizer: Solidário Ano Novo! Afinal, se deixarmos que o acaso continue essa distribuição nada vai mudar em 2010, e todos nós queremos um ano mais justo. Pois vamos distribuir solidariamente o que o ano trouxer de bom para nós. O mundo certamente estará melhor em 2011.

Paulo Viana

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Gases, Sinuca e a Dinamarca

Um silêncio... Uma fuga estratégica da palavra; Um momento sem reflexão, mergulhado no mundo dos filmes, da música, do esporte. Eis que ergo os olhos e vejo a conferência sobre redução de gases que provocam o efeito estufa e o aquecimento global. Assunto palpitante. As TVs o exploram com intensidade, provocando o terror e tornando–o mais nebuloso, sem querer usar trocadilho. Os técnicos derramam suas verborragias e seus termos científicos, e o telespectador comenta nas esquinas ou tomando uma cerveja anunciada logo depois da entrevista com o cientista. “Quem se importa com isso? O mundo vai acabar mesmo em 2012”, diria o profeta do botequim vizinho à universidade.

Que farsa bem articulada! Eles estabelecem percentuais de redução da emissão de gases tão precisos que, nos menos avisados, causam um alívio e uma expressão silenciosa: ”Puxa, ainda bem que vão salvar o Planeta”. No fundo o que eles querem mesmo salvar é o projeto de poder dos seus partidos, seus grupos, seus financiadores. Ninguém salva mais esse Planeta enquanto existir seres humanos morando nele. Quem vai defender interesses contrários aos das empresas que financiam campanhas, poluem, degradam e exploram o inofensivo Planeta Terra? Os países ricos? Os políticos? A política é o contraponto da ética. Os políticos não se preocupam, de verdade, com a situação em que se encontra a atmosfera. Preocupam-se, de fato, com a sofisticação da retórica, para demonstrar que se interessam em defender a vida e sua continuação, nos próximos séculos, mesmo sabendo que não estarão lá. Dá para acreditar que homens, cuja personalidade tem como base o egocentrismo, estão preocupados como viverão os habitantes futuros da Terra?

Tudo bem, sejamos mais tolerantes. Admitamos que saia alguma proposta desse bendito encontro. Vamos reduzir em 50% a emissão de gases, em média, considerando que os percentuais são diferentes para cada país. Alguém vai ter que pagar essa conta. Volto a perguntar: Os países ricos pagarão? Não. Certamente terão que reduzir a população do Planeta. Como? Não sei, mas misteriosos vírus têm aparecido e têm feito seu trabalho. E a cura do câncer? Por que não descobriram até hoje? Será que é tecnicamente impossível? Eu particularmente não sei, porém deixo essa pergunta no ar.

Não sou partidário da teoria da conspiração, mas não acredito na boa vontade de políticos. A política é a arte da manutenção do poder. Não existe mais vaga para países ricos. Os emergentes serão sempre emergentes e os pobres podem chegar à categoria de “em desenvolvimento”. Os ricos sufocarão em suas desconfortáveis estufas e, certamente, vão querer respirar ar puro nos escombros da desastrada Transamazônica. O mundo está em uma sinuca de bico, o Brasil é a “bola da vez” e a Amazônia é o pano verde dessa ridícula epopéia humana que culminará com a pergunta: Afinal, quem inventou mesmo esse tal ser humano?

Paulo Viana

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Simples e o Misterioso

As primeiras cigarras já anunciam o fim da primavera e o céu se acinzenta, acalmando o sol. O ano passou rápido e já não sei se é porque sou adulto e não mais tenho o sentimento de eternidade das crianças. O tempo não para, até porque ele não está em movimento. Está em movimento o espaço, crescendo com a expansão do universo. Enquanto isso, nuvens brancas pousam em meus cabelos me advertindo que já se vão os anos e está na hora de aprender. Tenho aprendido algo sobre a vida? Não muito. Descobri que Deus é uma opção e não uma certeza; Descobri que liberdade é apenas uma arma da boa retórica e jamais estaremos totalmente livres, pois, como diria Kant, não somos senhores em nossa própria casa; Que igualdade é uma utopia válida, para diminuir as injustiças; O mundo é finito em sua dimensão tempo/espaço; O amor é o que sentimos por nós através de outros.

Afirmo, no entanto, só existir uma verdade absoluta: Não existe verdade absoluta. Por isso, o que aprendi pode ser uma falsa lição e eu posso não ter aprendido nada mesmo.

Que me perdoem os quietinhos, estabilizados em suas vidas materiais; Convictos em seus valores intelectuais; Os religiosos, crentes na vida eterna; Os filósofos; Os materialistas, mas não posso me conformar em atravessar toda a vida sem aprender alguma coisa que me faça renunciar à inquietação. E não venham com frases de Lao Tsé, de Confúcio, da Bíblia ou de sábios contemporâneos, pois são apenas frases.

E se não existem verdades absolutas como posso aquietar meu coração? A alegria, a paz, a vida saudável, a chuva, o vento, as flores, os pássaros, a música, a arte, os esportes, o sorriso dos outros, a vida simples e o sentimento, em sua dimensão verdadeira, que nosso coração reserva para aqueles que dizemos amar. Tudo isso prova a realidade da vida e é suficiente para valer a pena viver.

Há, porém, momentos de tristezas, quando surgem as tempestades, aparecem ciclones, os espinhos nos ferem, os pássaros são aprisionados ou mortos, pessoas gritam em desespero, os bandidos vencem parcialmente, as competições viram guerras, os outros choram e a vida é complicada com as artimanhas do poder e da ganância. Nem por isso a vida deixa de ser bela, pois todas essas coisas são o contraponto com a função de nos fazer valorizar o momento em que o alívio empurra as dores para o esquecimento e nos repõe no papel de construtores do mundo do bem, mais fortes e experientes.

Se não for esta a principal lição que a vida nos ensina, deve haver um segredo e espero um dia descobrir. A grande questão é: existe mesmo tal segredo? Há mais coisas, não reveladas, que se contrapõem à simplicidade da natureza e das boas realizações humanas? Não creio que exista tal mistério. Penso como Joshep Campbel: O mundo é assim porque é.

Sigo, então, com o espírito de Dom Quixote, vendo, em moinhos gigantes, o engrandecimento da alma humana e um final feliz para essa raça tão marcada pelos equívocos cometidos, em sua trajetória, ao longo da história da vida neste Planeta.

Quem sabe se no fim da estrada, ao olhar para trás, eu não compreenda definitivamente, e aceite, ser o coração feito para inquietar-se e, mais ainda, o mistério é sabermos que não há mistério, mas preferimos acreditar que há? E isso nos torna cegos, imaginando o pote de ouro, quando a beleza está no próprio arco-íris?

Paulo Viana

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Dinamarca e o Século Vinte e Um

Sob o ritmo contagiante do Reggae, tento iniciar este texto que teve como tema, em meus pensamentos, o século vinte e um, com suas novidades sociológicas e políticas, onde o conceito de nação perde força, dando espaço aos blocos regionais, as minorias se destacam e chegam aos governos, mas há certo marasmo em termos de grandes acontecimentos. É um século muito midiático, sem a emoção da movimentação popular, estudantil e artística; sem grandes impactos no campo científico, até porque nada mais é inesperado. Ainda usamos muitos conceitos, idéias, discursos, erros e valores do século vinte. Podemos considerar que estamos apenas no início do novo milênio, mas ainda estamos iludidos com as promessas que a máquina e o capitalismo anunciaram no começo da revolução industrial. Precisamos pensar enquanto humanidade. Enquanto espécie que aponta para iniciar o processo de extinção. Por isso devemos planejar o século.

Já conquistamos a razão e a usamos como bem entendemos. Embora nunca levemos em consideração o bom-senso, que deveria vir junto à ciência. E não vem, porque o intermediário é o capitalismo, propulsor da ganância, do consumismo, do lucro e da desumanização das relações entre as pessoas. Pois se já conquistamos a razão não vamos deixar que arquétipos, instintos, medo e a voluntariedade da alma deem as cartas, como o fizeram no século vinte.

Sei que não podemos extinguir a loucura, o stress, as injustiças, as desigualdades, a desonestidade, a ganância, a insensibilidade e todos os males da civilização, acumulados em milhares de anos, em um passe de mágica, mas podemos, pelo menos, iniciar o processo de desconstrução do século vinte, nos seus aspectos mais equivocados, salvando, claro, as grandes contribuições daquele século que o tornaram um maravilhoso período de realizações.

Talvez o exemplo venha do que seria outro tema do texto de hoje: A Dinamarca. E porque a Dinamarca? Imaginem um país em que um terço da população anda de bicicleta, por consciência do bem que faz ao corpo, ao espírito e, principalmente ao meio ambiente; O desempregado recebe noventa por cento do salário, do governo, enquanto é recolocado no mercado de trabalho; A alíquota do imposto de renda chega a cinquenta por cento, mas o governo oferece Saúde, Educação, Creches e todos os serviços públicos com muita qualidade; A licença gestante é remunerada e dura doze meses; Os familiares fazem refeições juntos; O consumismo é desvalorizado e as relações entre as pessoas são mais importantes do que o acúmulo de bens materiais; O índice de criminalidade é baixíssimo e as pessoas se sentem tranqüilas; E, pasmem, é o país menos religioso do mundo. Estes dados se referem à Dinamarca, segundo depoimentos de pessoas que nasceram e vivem lá. Em um primeiro momento, nos dá a impressão que de tão correto parece ser chato. Mas não é isso que queremos para todos os povos? Podemos ter índices assim sem, necessariamente, perdermos a alegria que nos é peculiar. Nenhum povo precisa ser triste para ser certo. Os homens verdadeiramente inteligentes devem combinar razão com alegria. Deixar que a emoção complete a atitude racional e nunca a elimine.

Sei que, assim como muitos países, inclusive do chamado primeiro mundo, estamos longe desses índices. Sei também que, se não iniciarmos um processo profundamente comprometido com uma verdadeira evolução humana, amadurecendo e aprendendo com os erros dos séculos passados, estaremos fadados à extinção, sem que tenhamos, enquanto espécie, chegado à idade adulta.

Triste é dizer isso às pessoas que vivem segregadas por diferentes deuses, por interesses comerciais das grandes empresas, por políticos egoístas e imediatistas, insensíveis e mortalmente comprometidos com os prazeres do consumismo e da superficialidade da vida.

Será que a Dinamarca está nos apontando um caminho? Será que a humanidade terá tempo de aceitar a sua ignorância, no passado, e planejar, inteligentemente, a vida daqui para frente?

Por fim, devo confessar não acreditar que os condutores da política e dos negócios, no mundo, reconheçam esse conceito que tanto uso: Humanidade. Podem até dizer que sou ingênuo, porém jamais deixarei de pensar que a vida, seja minha, de um pássaro ou até de uma árvore, é uma única vida. E como somos, nós humanos, os únicos seres que desequilibram o planeta, somos nós que precisamos evoluir. Portanto, desperta século vinte um! Cresce humanidade!

Paulo Viana

domingo, 18 de outubro de 2009

A Audiência e a Inconveniência

Qual o limite entre a transparência e a inconveniência? Onde termina a vida pública e começa a vida privada? Até que ponto a imprensa tem o direito de lutar pela audiência em detrimento da privacidade das pessoas? Para ser repórter é preciso ser chato?

Qualquer dia desses vou perguntar a algum jornalista se está na grade curricular da faculdade de comunicações uma cadeira que ensina a como ser chato e inconveniente. Se há um juramento de deturpar os fatos nem que isso venha a prejudicar gravemente alguém inocente. Se o repórter tem o direito de ridicularizar as pessoas ou deixá-las constrangidas. Se ele pode distorcer os fatos, modificando, através da retórica, o conteúdo de uma notícia, tornando-a mais viável para despertar a atenção do grande público.

A verdade é que o livro 1984, de George Orwell, tornou-se uma profecia e sua simbologia se efetiva, hoje, através dos meios de vigilância, seja da imprensa, seja da internet, ou da polícia e dos próprios sistemas de inteligência dos governos. O grande irmão está de olho e você não está livre para viver discretamente, principalmente de for alguém de vida pública. Alguém diria: O controle das pessoas é bom porque assim evita-se crimes. Isso seria bom se soubéssemos quem poderia cometer um crime a qualquer momento. Porém, a maior parte da população, principalmente as personalidades públicas, são pessoas pacíficas, que querem fazer sucesso, naturalmente, mas, também, querem ter sua privacidade. Claro que algumas querem estar em evidência nem que seja de forma ridícula.

Há uma guerra no mundo da imprensa. Uma guerra pela audiência. Esta atrai anunciantes que trazem dinheiro e isto é o que interessa, porque o poder emana do dinheiro. E quem não se submeter a esse princípio será perseguido até ser destruído. E a massa acredita, pois os comunicadores são charmosos, eloquentes e transmitem muita credibilidade. Claro que nem tudo é manipulação. Há os momentos importantes, em que a imprensa é fundamental para o esclarecimento de fatos. O que merece retificação é o excesso. Os meios de comunicação se excedem, porque a audiência é mais importante do que a verdade. É esta inversão que torna questionável as atitudes de jornalistas e seus patrões.

O caso de Belchior é emblemático. Bem que o Fantástico poderia deixá-lo em paz. Como, se os programas das outras emissoras estão se aproximando no IBOPE? Logo a Globo que tem uma estrutura de amedrontar qualquer concorrente? Que pode vasculhar a vida de quem quer que seja e apresentar, como se fosse propriedade sua, com o charme sarcástico de seus apresentadores? Para mim é a psicopatia vestindo o manto da programação televisiva. A tragédia falada com a inflexão que beira um orgasmo da oratória. Belchior foi incomodado, e daí? O que interessa é que houve um incremento em alguns pontos do IBOPE e os anunciantes vão preferir o Fantástico.

Os números são hoje mais importantes do que a vida. A privacidade, a integridade, a individualidade, são direitos flexíveis, pois o que é determinante é o quanto cada um desses direitos vai contribuir para o aumento dos números. Seja nas estatísticas dos crimes, nas celebridades com problemas, na quantidade de espectadores que se interessarão por eles. E a imprensa, o famoso quarto poder, acaba por se transformar, em nome desses números, em um tirano, cuja ética se esgota na falsa intenção de buscar a transparência e a informação para o grande público.

Sou contra a censura, mas isso não implica em dizer que sou a favor da chatice, da inconveniência e da insensibilidade dos meios de comunicação, tratando a vida alheia como se fosse instrumento de manipulação para o incremento da audiência. Acredito que esta é uma discussão em aberto.

Paulo Viana

sábado, 10 de outubro de 2009

A Vida é um Sonho

Busco um filosofar sem a resignação budista e nem a esquizofrenia franciscana, que prove a desnecessária prática da sofisticação da vida, que sistematize a simplicidade e demonstre os fundamentos de uma moral perfeita, sem relativismo, sem parcialidade, com a ética precisa do comportamento justo por excelência, com o encaixe ideal das reações emocionais. O sistema filosófico humanamente perfeito, sem moral religiosa ou interesse de classe, raça ou nação.

Procuro segredos da natureza, onde os padrões da vida seguem seu curso normal, sem a sujeira da cultura ou as armadilhas da razão. Desejo descobrir se houve um momento zero de equilíbrio absoluto, sem o desvirtuamento da ação humana, sem surpresas dos fenômenos naturais e se ainda é possível a retomada desse momento.

Gostaria de conhecer o ser humano cuja agressividade é canalizada para ações pacíficas, as frustrações não tenham nenhuma importância e o medo não caiba em seu cotidiano, porque as ameaças não existem.

No entanto, sei que tudo isso jamais existirá e temos que viver com a instabilidade do corpo e do espírito humano, as incertezas filosóficas, as intempéries naturais, a imprecisão moral, o relativismo ético e o inevitável caos provocado pela civilização errante que nos tornamos. Seria esse o melhor dos mundos? Somos Cândidos de Voltaire? Estaríamos forçados ao reconhecimento de que não temos e jamais teremos o controle sobre a vida e a natureza?

Pobres seres humanos! Condenados estamos a admitir a impotência e a incompetência sobre os rumos da vida. Que destino terá a vida? Sucumbirá?

Ainda bem que existe a música, porque nela identificamos conteúdos de um mundo perfeito, onde melodia, harmonia e ritmo unem-se para a materialização da linguagem universal dos sentimentos que nos fazem seres especiais, nos confortando e nos conformando; Entretendo-nos e divertindo; Nos acalmando e nos levando ao triunfo; Vencendo em um mundo transcendental, pois no mundo real fomos derrotados pelo sonho de nos transformarmos em nossa maior criação, ou seja, Deus.

Paulo Viana

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Assuntos Polêmicos

Há uma discussão quase que permanente nos meios de comunicação, no congresso e em outros fóruns, envolvendo questões como descriminalização das drogas, legalização do aborto, casamento entre homossexuais, candidatos com problemas judiciais e outros.

Primeiro sobre as drogas: Sou a favor da descriminalização da maconha, porém radicalmente contra as outras, ou seja, cocaína, crack, heroína, etc. Maconha é prejudicial à saúde, mas, se comparada com o próprio tabaco, que é legal e mata oito pessoas de câncer, por hora, no Brasil, é menos nociva, além de, comprovadamente, em seu uso controlado e racional, ter propriedades terapêuticas importantes. As outras exigem procedimentos químicos, cuja manipulação é complexa, o vício é rápido e muito forte, desagregam famílias, despersonalizam, humilham, enlouquecem. São realmente drogas para otários. Claro que dependência química é uma doença, mas os exemplos são tão evidentes que muitos poderiam fazer um esforço para evitar a iniciação. Sem contar com o álcool e muitos alimentos industrializados, ou mesmo colhidos das hortas, que adoecem as pessoas e matam muitas. Não podemos esquecer as drogas usadas pela medicina. Quantas delas são venenos usados como experiência, principalmente no terceiro mundo? Aqui mora a hipocrisia. Ninguém põe em discussão a grande quantidade de indústrias que poluem e fabricam drogas e alimentos cuja composição foge às características de comida saudável. Ah, mas elas geram impostos e empregos, diriam os políticos e economistas. Há tecnologia mais adequada que gera emprego e imposto.

Sobre o aborto: Abortar por abortar é o grande problema. Abortar por causa de um estupro, por risco da mãe, ou por impossibilidade de uma vida saudável ou sobrevivência do feto, é indiscutível e óbvio que precisa ser aceito e legalizado. Naturalmente que a mãe deve ser acompanhada com profissionais da saúde física e mental. Já o aborto por desistência da mãe é uma discussão que precisa ser aprofundada. Antes disso, gerar um debate profundo sobre a raiz do problema, ou seja, uma sociedade cujos valores estão invertidos e banalizados. A sociedade deve planejar seus membros e não sair provocando abortos indiscriminadamente, pondo em risco a integridade física e psicológica das mulheres. Até porque, se liberar geral, muitos serão realizados por profissionais não qualificados, com consequências graves para mães e até mesmo para os filhos, cujos fetos venham a sobreviver às tentativas de interrupção da gravidez.

Casamento entre homossexuais é necessário para que, de forma justa, seja legitimado o direito à herança do patrimônio construído ao longo de um relacionamento que, hoje, ficaria para os familiares do falecido e não para o parceiro ou parceira. Não precisa nem se discutir a legitimidade da relação afetiva.

Discussão menos necessária é sobre os políticos que têm problemas na justiça. Muitos buscam a imunidade parlamentar, e só. Teve problema judicial tem que ser julgado. Se condenado pagar a pena. Se inocentado ganha o direito de ser candidato, mas é preciso ficar de olho, pois sua conduta pode ser duvidosa.

Estes são assuntos polêmicos que exigem uma discussão muito mais ampla e, certamente, alguns discordarão, mas é uma opinião. Todos têm o direito de emitir sua opinião. Contra ou a favor. Esta é a minha. Por favor, quem discordar, argumente. Se me convencer eu mudo.

Paulo Viana

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Manhã de Pacoti

Meu olhar, colhido pela paisagem de Pacoti, repousa suavemente na clorofila. O vento entrega-me uma brisa fresca e a pele acolhe o frio que alivia o calor da efervescência natural da vida. Pássaros cantarolam livremente, senhores de sua independência, sem a ação do lado bestial, imbecil e desnaturado dos humanos que os matam ou aprisionam. Alegres, cada um anuncia sua cantiga, num especial momento de verdadeiro mundo. Como em todos os lugares, as pessoas transitam com seus universos particulares, mas um traço, quase imperceptível, de tranquilidade, brilha em cada olhar. É a espécie vivendo no seu habitat, da forma mais apropriada possível, considerando a época em que vivemos e a mentalidade autodestrutiva que ainda predomina.

Apesar de todos os problemas, quando respiro a natureza de Pacoti acho a vida bonita e boa. Talvez eu tenha me fixado, de alguma forma, no mito do Jardim do Éden. Devo dizer que é um excelente mito a ser perseguido.

Por vezes, tento imaginar como seria a humanidade se tivesse planejado a civilização e executado, desde o começo, o desenvolvimento sustentável. Como estariam o Planeta, as pessoas e a ciência? Como seriam os empregos?

Jamais obterei essa resposta. É muito tarde. O estrago na Natureza, no espírito humano, nas relações foi muito grande. Fomos muito sedentos e continuamos sugando o Planeta para atender aos caprichos dos apegados ao poder, e à força do dinheiro.

Desejo que todos os pacotienses tenham seus olhares acolhidos pela beleza natural dessas montanhas e faça um pacto consigo mesmo de lutar pela preservação. Que todas as crianças entendam o aprisionamento dos pássaros como um ato contra cada um de nós. Contra nosso direito de viver com simplicidade e a melhor qualidade possível. E que todos os visitantes sejam bem-vindos e tragam consigo o respeito ao meio-ambiente e levem a saudade de um lugar privilegiado, preservado, agradável e bonito.

Paulo Viana

sábado, 12 de setembro de 2009

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a presença de todos que estiveram no lançamento do meu livro, no Centro Cultural Oboé, principalmente aos músicos Dinho(Sax), Lindomar(Violão), Fernando (Violino), João Barbosa (Violão), que tornaram a noite mais bonita e agradável, e a Sra. Antonieta Rabelo, que fez questão de estar presente.
Estou disponibilizando meu e-mail: pauloSBV@gmail.com e este blog para aqueles que queiram comentar ou conversar sobre o livro Sementes da Transformação.

Paulo Viana

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Não quero ser Senador

Tristes homens, esses políticos, feitos da desesperança, forjados na mentira e nas promessas não cumpridas. Pobres homens, sem caráter, sem escrúpulos, cujo sangue frio não oxigena as áreas cerebrais que proporcionam o sentimento de humanidade. São homens mortos, pois é o otimismo que move a vida; que brilha nos olhos das mães dos recém-nascidos, sonhando com um mundo mais justo, mais harmonioso para eles. São defuntos que palram em palanques, vociferando a retórica enganadora; praguejando a falsa moral do democratismo falacioso, da politicagem egoísta e fomentadora de miséria. São porcos que saboreiam o contato com a lama, fuçando a podridão dos jogos ambiciosos dos senhores do dinheiro. São carcaças desumanas que se erguem pela perpetuação da ignorância, pela manutenção da indiferença e da deseducação.

Se houvesse mesmo um criador do mundo, estaria atrasado para a realização da primeira faxina em sua criação. Quanta sujeira! Quanta porcaria jogada no mundo, sem nenhum critério de seleção! Afinal, o mundo não tem uma lixeira? Há até quem use o nome desse pretenso criador para enganar pessoas simples e tomar seus parcos recursos.

Ainda bem que o mundo não se resume às excreções que povoam os parlamentos e outros recintos. Há revolta em muitos corações; há vontade de evoluir em civilidade, em comportamento cidadão, relacionamento maduro; há quem acredite que a humanidade livrar-se-á da política e dos políticos que pisam na moralidade e usam a ética apenas como palavra que torna o discurso esteticamente agradável.

E a imprensa? O suposto quarto poder? O poder paralelo? Não é nada disso. É tudo joio. A imprensa só denuncia aqueles que contrariam ou não atendem os seus interesses. Só existe um poder: o do dinheiro. Este, sim, é considerado Deus. Basta olhar os templos erguidos em seu nome. Pelo menos foi esse sentimento que eu tive quando vi o prédio de um banco, ao ser inaugurado. Quem poderia nos ajudar, então? Com certeza não vai ser o Chapolin Colorado. Os políticos e juízes? Não. Os Sarcedotes? Também não. Estão decadentes e cada vez mais distantes da moralidade. A Polícia? Sem comentários. Estamos sós?

Sós estaremos se não reconhecermos no outro o companheiro que pode empreender uma luta ferrenha, do cidadão, contra todos os péssimos hábitos da nossa sociedade. Sós estaremos se não estabelecermos o compromisso, e cumpri-lo, de não compactuarmos com o jeitinho, com a corrupção, com a venda do voto, com o consumismo desenfreado e com a degradação ambiental. Temos que acabar com esse complexo de republiqueta, que não evolui, que não alcança o patamar de civilização dos países europeus – embora tenha muitas restrições aos métodos usados por aquelas nações até atingir ao grau que atingiram.

O grande problema é... por onde começar? Se reconhecermos que o Brasil necessita urgente de um choque cultural, já estaremos começando. O próximo passo será acumular energia suficiente para provocar um choque significativo. Essa energia está justamente nos corações dos que estão indignados com os políticos. Não adianta fundar um partido. O jogo é envolvente e quem não quer jogar não é escalado. Fundar uma ONG? Quantas já foram fundadas? Milhares. Então, qual é o caminho?

Só existe um caminho: É o do indivíduo. Cada um fazendo a sua parte. Usando a velha filosofia socrática: O objetivo fundamental do homem é a prática da virtude. E não precisa de muito virtuosismo, basta ser honesto. Basta fazer o contrário do que os políticos, em sua grande maioria, fazem. Chega de ser considerado povo de segunda classe e desejar a realização dos piores exemplos de ideais.

Paulo Viana

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Razão e o Presente de Catarina

O embaixador Jean Nicot levou, de Portugal, para a rainha Catarina de Médicis, a novidade do Brasil, conhecida como Tabaco. Ela, que sofria de dores de cabeça horríveis, passou a fumar e descobriu que melhorava das dores. O Diplomata foi homenageado com a maldita palavra Nicotina e o tabaco, hoje, não é mais considerado um remédio e sim um coquetel de 4720 substâncias tóxicas que estão relacionadas a mais de cinquenta doenças.

É curioso como há contradições relacionadas ao cigarro. Fico imaginando o que pensaria um extraterrestre que, ao visitar nosso Planeta, visse o designer bonito de uma “carteira” de cigarros e no verso aquelas fotos aterrorizantes. Certamente, perplexo, diria: que ser é esse, que tem uma faculdade chamada razão, capaz de desenvolver raciocínios lógicos, mas que se deixa envolver por algo tão prejudicial? Saberia, de imediato, que nós não somos feitos só de inteligência racional. Deduziria que outras componentes fazem parte da formação do nosso espírito. Veria, no decorrer da sua análise, seres formados por um complexo emaranhado de variantes psicológicas, fomentadoras de ansiedade, angústia, stress, insegurança, sem contar com a complicada cadeia de relações de substâncias químicas, hormônios, células e trocas energéticas que, associadas, anulam completamente a força da lógica racional e fazem o fumante comprar uma embalagem com vinte bombas mortais, para uso contra ele próprio. Comprar, atentemos para isso.

Jamais diria ser mais humano se abríssemos mão de todas essas coisas que superam a inteligência e causam tantos problemas, porque também produzem a música, a arte, os sentimentos, as emoções, a beleza da paisagem, o viço natural da vida e o amor.

Eis a importância do papel da cultura: fortalecer a razão para que ela possa dificultar a ação de forças que produzem a autodestruição. Valorizar a vida nos aspectos mais bonitos e mais estimulantes dos bons sentimentos, afirmando-a como a única fonte de uma justificativa para a existência do mundo. Imaginem o quão sem graça será o Planeta Terra, sem a inteligência e a sensibilidade humanas, para enxergar beleza e harmonia nesse caldeirão efervescente que é o universo. Pois o que estamos fazendo com o Planeta, hoje, vai matar até o direito da natureza de ser apreciada, no que de belo ainda restar. Não estaremos lá para isso.

Outra contradição é o contra-fluxo da movimentação de setores da sociedade para a liberação da maconha e a crescente luta conta o uso do tabaco. Prova isso, que o cigarro comum é um mal tão grande que em época de desmistificação de drogas, de questionamento da hipocrisia e do preconceito em relação à Canabis Sativa, ele está cada vez mais se transformando, muito justamente, diga-se de passagem, em um vilão da saúde pública.

A verdade é que já se gasta com as doenças tabaco-relacionadas, mais do dobro do que se arrecada, em impostos sobre o tabaco. Há, por isso, avanços significativos na proibição do cigarro em lugares fechados. O fumante passivo agradece.

Dá para viver apaixonado, emocionando-se com a música e a arte; combatendo o stress e com os sentimentos vivos, sem, necessariamente, ter que consumir nicotina. Dá para viver mais e acreditar que um dia ficaremos adultos espiritualmente e curaremos doenças como a dependência do fumo, quem sabe com uma vacina de boa alimentação, vida saudável, convivência amorosa, justiça, harmonia e amor. E teremos erradicado a doença causada pelo remédio de Catarina.

Paulo Viana

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A Passagem do Tempo e o Bom-Senso

Já se passaram mais de trinta anos desde quando meus dedos buscavam, aflitos, as teclas duras da máquina de escrever. Hoje, os sinais de uma postura inadequada, do uso sem técnica do teclado e da falta de orientação apresentam-se, obrigando-me a teclar com uma única mão, para não afetar a outra, acometida de lesão. E quantos brasileiros, silenciosos, estarão, com o tempo, sofrendo do mesmo problema?

Não estou querendo fazer denúncias. Na verdade, estou apenas constatando a passagem do tempo e, também, vendo que a vida tem exigências que devem ser atendidas, para podermos viver todas as fases com plenitude e saúde. Nada mais sensato do que ouvir os mais velhos e mais experientes.

É justamente sobre isso que quero escrever. É justamente sobre o desprezo, a indiferença e o descaso que a maioria das pessoas tem em relação aos idosos. Descartam, de forma absurda, a experiência, a sabedoria e a vivência deles, como se já não servissem para nada.

Lembro dos filmes sobre a Roma antiga, onde aparece o Senado, com seus anciãos, por muitas vezes dissuadindo os desvairados imperadores e os conduzindo a um caminho mais inteligente. Certamente, porque já haviam convivido com outros Césares e presenciado catástrofes por causa de atitudes insensatas.

Não podemos esquecer os índios que, apesar do seu primitivismo e da sua falta do conhecimento dos “brancos”, valorizam muito as opiniões dos mais velhos, servindo-se da sapiência deles para tomarem a atitude correta, diante das intempéries.

Alguém poderia argumentar que em dias atuais as mudanças são muito rápidas e os mais velhos já não podem opinar sobre as novidades. Isso é pura bobagem. Os sentimentos, as emoções, as relações afetivas mais profundas, a ética, o bom-senso e muitas outras qualidades humanas, em sua verdadeira essência, nunca mudam. E os idosos estão muito melhor qualificados do que os mais jovens para falar sobre esses fatores. E se eles mantiverem-se atuantes, ativos, movimentando-se fisicamente e intelectualmente, poderemos aproveitar sua vitalidade até nos assuntos mais dinâmicos e atuais.

Quantos problemas não seriam evitados se os idosos fossem escutados? Quantas mortes, desastres e aborrecimentos não acontecem pelo simples fato de se ignorar a opinião de uma pessoa mais experiente?

Precisamos, portanto, todos nós: Poder Público, Sociedade, Jovens e os próprios Idosos, criar e por em prática mecanismos de valorização, proteção e aproveitamento da experiência das pessoas mais velhas, porque trazem consigo o passado e podem muito contribuir para um futuro bem melhor.

A velhice é apenas um dos estágios da vida, talvez o mais nobre. Devemos nos orgulhar por conseguirmos chegar a essa fase. Embora haja sinais de que estou a caminho, ainda não cheguei, mas procurarei chegar com dignidade e altivez. Com lucidez suficiente para poder ajudar aos mais novos a seguir o caminho mais simples e mais inteligente.

Paulo Viana

quarta-feira, 29 de julho de 2009

A Música e as Letras

Nesse momento estou vazio. Penso nas letras correndo para organizar-se em palavras que, enfileiradas na sequência correta, consigam formar frases que soem com musicalidade e transmitam bem-estar, sabedoria e força. Porém, não vejo as frases. Consigo ver as letras agitadas, saltando em busca de um espaço na imaginação, tentando sugar energia da emoção. A emoção, adormecida, costuma despertar com a sonoridade de uma música, que cante solidão, justiça, luta, alegria, dor, paixão e, principalmente, amor. Por isso escuto Quarteto em Cy.

A música é a contribuição da alma para que a comunicação envolva o sentimento. É a receita do espírito para que as palavras sejam a vestimenta da emoção, modelada pela poesia, com tons delineados por melodias. E quando são cantadas com tanta graça e beleza, como canta o Quarteto em Cy, vem o lamento pela perda da oportunidade, dos que não o escutam, de deixar que a música lhe seja acessada lá nos recônditos mais humanos, onde a natureza une a beleza, a emoção e a sensibilidade.

O Brasil é um país riquíssimo em beleza natural e artística. Impressiona-me o tamanho do desperdício, dos senhores da Mídia, que preferem ganhar dinheiro com lixo, deixando de lado o talento e a qualidade. Ah! Quem vai se preocupar em estimular a sensibilidade do povo? Quem vai considerar o povo capaz de gostar de uma música bem feita, bonita, bem cantada? Os donos das gravadoras? Estes querem que o povo permaneça cativo à porcaria, estagnado no limitado universo do senso comum e da superficial sensibilidade.

É uma pena que o lucro tenha sido posto numa dimensão tão relevante quanto Deus.

Quem costuma ler o que escrevo deve perceber uma insistência em falar sobre determinados assuntos. Talvez eu tenha uma fonte mental permanente, onde as palavras se organizem em críticas ao comportamento dos seres humanos, em sua maior parte, que se deixaram contaminar pela falsa alegria do prazer imediato. Talvez eu lamente a perda de tempo, num período tão curto que é a vida, por terem priorizado o egoísmo, o poder, a riqueza material, em detrimento dos melhores sentimentos da humanidade.

Mas, apesar de fontes mentais fortíssima quererem estar sempre organizando as palavras em frases que mostrem os erros, os desvarios e a insensibilidade dos seres humanos, há uma fonte que supera todas as outras em fortaleza: A fonte que emana a esperança. Esta se fortalece a cada dia, pois sei que, com o tempo, amadureceremos e nos tornaremos mais sensíveis, e senhores do bom-senso, da solidariedade e do amor.

Por fim, não estou mais vazio. Finalmente as letras organizaram-se em palavras que, em fileiras, formaram frases que expressam sentimentos. Meus sentimentos.

Paulo Viana

domingo, 19 de julho de 2009

Continuar Sonhando é Preciso

Novamente me encontro diante do computador para escrever e me vem várias ideias sobre assuntos do cotidiano. Não me interessa escrever sobre tragédias ou grandes realizações, arrancadas das manchetes dos noticiários. Não me estimulam as repetitivas notícias de morte de astros, quedas de aviões, corrupção na política, etc. A imprensa já cuida disso com muita eficiência, até porque este é o principal alimento da mídia.

Creio que quando o ser humano se descobriu vivo, participante como sujeito do mundo, começou a sonhar. A partir daí, toda a sua trajetória tratou de destruir esses sonhos. É sobre a retomada desses sonhos que quero escrever.

Não quero comentar todos os sonhos dos primitivos: seus mitos; seus desejos; sua ignorância; suas conquistas e suas paixões. Refiro-me a um sonho maior. A um desejo coletivo que cada indivíduo carregava, e ainda carrega, dentro de si, sem compreender a profundidade dele. Não é uma necessidade corporal, mas um querer do espírito, que, ao longo do tempo, foi assumindo o nome de Deus. Hoje, a humanidade, em sua imensa maioria, considera o sonho realizado, com a instituição de Deus. Como se o mal pudesse ser neutralizado sem a colaboração concreta dos próprios homens.

Considerando que esse sonho primitivo fosse, quem sabe, motivado pela extrema necessidade de se neutralizar as incertezas, o advento do desconhecido ou mesmo a alternância entre a tristeza e a alegria, devemos reconhecer que ele continua irrealizado. Não podemos, simplesmente, deixá-lo de lado dizendo: Pronto, agora Deus vai cuidar de nós enquanto brincamos de inventar coisas.

Sabemos que não é bem assim. O sonho de uma humanidade pacífica está longe de se realizar. O sonho de exploração da inteligência virou um pesadelo, pois o mau uso dela está destruindo o planeta e, consequentemente, a vida.

Chegaríamos, então, à conclusão que esse sonho primitivo era pura ilusão? Que a realidade é mais complexa, o ser humano é mesmo um processo que jamais ficará pronto e temos que nos conformar com o egoísmo, o lucro, o poder e a indiferença com a vida?

Talvez eu seja um desses homens ingênuos que acreditam na existência do conceito de humanidade e não pense só em mim e na minha família. Talvez haja algo de primitivo em meu espírito que não se acomoda com o conceito de Deus como resolução dessa angústia, que se expressa exatamente nos assuntos do cotidiano sobre os quais não quero comentar.

Pois, mesmo sabendo que a vida é um processo contínuo de mudanças e adaptações, prefiro manter em minha alma o sonho do primitivo e pensar que um dia haverá harmonia, na convivência entre as pessoas, e paz no espírito dos indivíduos sadios.

Paulo Viana

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sementes da Transformação

Estou publicando, pela Editora Protexto, meu primeiro Romance, cujo título é Sementes da Transformação. Aos leitores deste Blog disponibilizei um link da Editora que levará direto à descrição do livro no site.
A publicação de um livro é sempre um acontecimento que gera muita satisfação, principalmente para o autor. Espero que este seja o primeiro de uma série de projetos que tenho para publicação.
A Editora Protexto possui um projeto (Projeto Lume) que dá oportunidade para os escritores, iniciantes ou não, submetendo os originais à análise do seu Conselho Editorial.
Gostaria de aproveitar este espaço para agradecer à Editora Protexto, especialmente ao Senhor Airo Zamoner, Editor, que conduziu o processo de entendimento sempre com muita atenção.
Aos leitores do Blog, ofereço meu testemunho de que o sonho, quando desejado, transforma-se em realidade. Sementes da Transformação é a realização de um sonho e a expressão de um outro, maior, que diz respeito a uma grande mudança que pode acontecer com a humanidade, tornando-a mais harmônica e justa.

Paulo Viana

terça-feira, 30 de junho de 2009

Os Deuses do Capitalismo

Quem inventou essa parceria infernal entre mídias e capital? Quem poderia ter sido se não o lado ambicioso, perverso e psicopata dos seres humanos? E como agem esses parceiros? O capital estrutura, planeja e produz e as mídias elevam, idolatram e consolidam. O capital investe e as mídias mistificam; o capital descobre potenciais e talentos e as mídias propagam e superestimam . Ninguém melhor do que Michael Jackson para expressar a síntese entre talento, capital e mídias. Ninguém melhor do que ele para mostrar que o capital aposta, suga e entrega o resto às mídias para que estas se aproveitem da decadência, das fraquezas e das limitações de um ídolo.

Quantos homens controlam o capital e as mídias no Planeta? Pouquíssimos, comparados com o resto da população. Insisto em separar capital das mídias, mas, devo dizer, que é apenas por uma questão didática. No fundo, capital e mídias são relações que formam o capitalismo. Elas se entrelaçam, engendrando uma ideologia muito convincente, estruturada no direito romano, na moral cristã, nos princípios teóricos da democracia e nos aparelhos de repressão física e de controle territorial e político, ou seja, a polícia e o exército. Do lado de cá, a grande massa delira pelas promessas tecnológicas, pela expectativa do crescimento econômico e a redistribuição de renda.

Contemplo, nos dois parágrafos anteriores, a ideia romana do pão e do circo para o povo. O pão, na perspectiva do crescimento econômico e do emprego, e o circo, na oferta dos ídolos descartáveis e das invenções eletrônicas.

E a vida continua e o tempo passa. Os intelectuais, teóricos, filósofos e observadores do mundo, perdidos no abstracionismo da erudição, estão a milhares de anos luz dos jovens, que, ao invés de reagirem com seu potencial de transformação, passeiam entre o ócio inócuo e o encantador mundo do emprego gerado pelas novas tecnologias.

É nessa perspectiva, sem um contraditório, tão sólido e consistente como o materialismo histórico, e sem uma juventude inquieta, instruída pelos livros e exemplos da história, que o capitalismo “deita e rola”, mantendo sua trajetória de enganos e engodos, sem preocupar-se em superar a sua principal contradição: a existência de pobres e de ricos.

Os trabalhadores conseguiram estruturar-se politicamente; as mulheres alcançaram espaços de forma equilibrada, na sociedade, e ainda lutam por mais justiça nas relações com os homens; os Gays estão lutando e conseguem, a cada dia, o reconhecimento de sua condição natural e da necessidade de inserção no universo jurídico e moral. Ainda restam os pobres. Talvez sejam eles os sujeitos de uma nova mudança. Só falta uma ideologia, sem táticas violentas, sem filosofia burocrática e que não possa ser reprimida pelos aparelhos militares. Onde arranjaremos tal ideologia? Este é o grande desafio do século vinte e um.

Se os jovens não tivessem tão imobilizados; os intelectuais tão distantes; a grande massa tão entusiasmada com os ídolos descartáveis e a aventura tecnológica, e os filósofos tão preocupados em reinventar a sociologia, talvez fosse possível surgir uma luz nesse horizonte de uma civilização decadente e esgotada. Alguém precisa acabar com esse marasmo. Não podemos crer que sejam os árabes radicais, jogando aviões em prédios. Muito menos podemos esperar que as mídias e o capital sejam os mentores dessa mudança, embora cometam muitos erros e abram tantas brechas para serem questionados. No entanto, custa crer que as lições da história, o tempo que esta civilização já viveu, o eterno conflito entre a consciência coletiva e a imaturidade do egocentrismo ainda possam permitir que continue a existir essa maldita disparidade material entre os seres de uma mesma espécie, ou seja, a espécie humana. Um dia a história haverá de registrar o fim da existência de pobres e ricos -Isso se a humanidade não se extinguir antes- e seria em um universo sem pobres nem ricos que Michael Jackson faria a grande diferença, pois não precisaria do capital para endeusá-lo, bastava o talento com o qual ele nasceu.

Paulo Viana

terça-feira, 23 de junho de 2009

INDICAÇÃO PARA PRÊMIO

O Blog NOVA PANGEIA DE LETRAS, da talentosíssima escritora e poeta portuguesa Isabel Branco, foi agraciado com um prêmio internacional – já são vários que ele ganha – com direito a indicar cinco blogs para ganhar o mesmo prêmio. Este blog está entre os cinco indicados por ela, o que me deixou muito feliz e emocionado. Mais uma vez agradeço a indicação à Isabel Branco, e aos meus leitores dedico essa honraria, pela atenção e incentivo.

(O TEXTO ABAIXO FOI TRANSCRITO DO BLOG NOVA PANGEIA DE LETRAS)

Prémio internacional UTOPIE CALABRESI


Recebi este prémio do queridíssimo amigo Domenico Condito do blog "Utopie Calabresi" que muito me sensibiliza e agradeço.
Transcrevo, abaixo, esta atribuição e respectivas normas repartindo-o com muito carinho e apreço por alguns dos blogs que mais me cativam.
Quanto ao humanismo apraz-me dizer que cada ser humano é um pequeno universo na galáxia dos valores e da dignidade. Pena que o preconceito de tantos ainda não os deixe perceber que podem transformar o mundo num local melhor para viver.

Transcrevo esta frase de Martin Luther King, tão a propósito:

"Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira.O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos.Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos."

Grazie mille Domenico

"O Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI inspira-se nos valores do Humanismo, entendendo-se por isso “
tudo o que é digno do homem e o torna civilizado, elevando-o acima da barbarie”. Este “selo” foi criado com o objetivo de premiar os blogs que promovem conhecimento livre, cultura e arte, tolerância e aceitação da diferença, amizade e solidariedade entre os povos... "

Quem recebe o Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI e o aceita deve:

- visitar o blog
UTOPIE CALABRESI,http://utopiecalabresi.blogspot.com/ ,
- clicar na imagem do prémio colocada na homepage e deixar um comentário sobre o Humanismo;
- escolher 5 outros blogs a quem entregar o prémio;
- linkar o blog pelo qual recebeu:
NOVA PANGEIA DE LETRAS -http://novapangeia.blogspot.com/
- exibir a distinta imagem.

Indico os seguintes blogs para receber este prémio:

Pretexto Clássico - http://pretexto-classico.blogspot.com/

As Minhas Romãs - http://romasdapaula.blogspot.com/

O Profeta - http://profeciaeterna.blogspot.com/

História Viva - http://historianovest.blogspot.com/

Paulo Viana - http://paulovianabezerra.blogspot.com/

Gulliver - http://freespiritman.blogspot.com/

Internapoli City - http://internapoli-city.blogspot.com/

A favor do Humanismo em defesa da Humanidade!




quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Cursor e o Tempo

Pulsando sobre a luz branca do papel virtual, ávido por desenhar palavras organizadas em um sentido inteligente e inovador, o cursor desafia a criatividade e suplica ideias. Sem querer discorrer sobre assuntos já debatidos, o autor, vacilante passageiro dessa viagem única e sem volta, desvia o olhar do passado, controlando o impulso para não projetá-lo no futuro. Ao tentar fixar-se no presente, percebe que este é apenas um momento de transição, uma oportunidade para ajustarmos a trajetória da vida, no sentido de conduzi-la com mais tranquilidade, na produção de caminhos menos tortuosos e mais harmoniosos.

Quantas oportunidades perdemos, ao longo dessa caminhada, de mudar nossas atitudes, resolvendo problemas que insistimos em manter, por fraqueza, por dependência, pela manutenção de um prazer que mais prejudica do que beneficia; pela falta de coragem de abrir mão do rotineiro; pelo medo do novo! Quantas vezes sucumbimos ao apelo do prazer imediato, da ansiedade e da solidão, que nos fazem consumir sem necessidade, nos enganando ao conceder milésimos de segundos de conforto, e nos desamparando a seguir! O presente é o único momento que temos para evitar que o futuro seja uma reedição do passado ruim. Em todas as vidas há correções a se fazer.

Mas o presente é, também, o momento de consolidar avanços em nossas vidas; de manter as atitudes positivas; de resistir com nossos valores morais à sedução dos ganhos fáceis e ilícitos e de reafirmar nosso amor ao mundo, à vida e às pessoas que amamos de verdade. É uma dádiva única, solitário instante de luz brilhante em nossa alma. Efêmera luz, brilho passageiro, que se apaga, quando se veste de passado, e se reacende, quando o futuro se apresenta. Pulsante como este cursor exigente.

O passado projeta no presente as sementes do futuro. Basta saber escolher os grãos a serem semeados. Escolhendo os grãos errados teremos uma colheita ruim. E o tempo de semear é todo dia, assim como o tempo de colher. E o único fertilizante que devemos aplicar é o amor à vida. Sei que todos sabem disso, porém não custa lembrar.

Pois eis que discorrendo sobre passado, presente e futuro o tempo passou e a avidez do cursor foi acalmada, embora ele continue solicitando um fechamento do texto e da ideia. E como poderíamos satisfazê-lo? Se cada um dos leitores, ao final da leitura dessas palavras, fizer uma reflexão sobre as sementes que vai plantar naquele dia, ou no dia seguinte, e apostar em terrenos mais férteis em paz, harmonia, alegria e amor, tirando as ervas daninhas do egoísmo, da ambição, da intolerância e da indiferença, se estas existirem na lavoura de suas almas, certamente o cursor poderá sentir-se satisfeito ao desejar que palavras fossem escritas na luz branca desse papel virtual.

Sabemos que na vida, como na natureza, as intempéries são possíveis, e aconteçam “tempestades”, tragédias e outros fenômenos. Ergamo-nos, como se ergue a natureza, e reconduzamos a vida ao seu caminho normal. Ao mal que não podemos evitar temos o amor à vida. Ao mal que podemos evitar temos o presente para refletir e semear o que venha nos trazer o bem. O resto é hormônio.

Paulo Viana

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tragédias Silenciosas

Submersas por uma lâmina de um espelho inesperado, mandado, talvez, pela alma do Planeta ferido, as cidades nordestinas sofrem as conseqüências da devastação e do desequilíbrio. E ainda dizem que não acontecem tragédias no Brasil.

Não quero ser pregador do pessimismo, mas as maiores tragédias acontecem silenciosamente. Não se faz alarde porque já estão comuns e há pouquíssima reação contra elas.

Quando vejo troncos deslizando nos rios amazônicos, sinto a força de um terremoto cujo epicentro está no bolso dos inescrupulosos parasitas da natureza. São pintores maus e, em nome do lucro, insistem em "amarronzar" o verde da parte de cima do nosso mapa. Isso é uma grande tragédia.

Quando vejo falsas duplas sertanejas, pagodes e axés descartáveis, sofríveis bandas de forró e outras gravações ridículas ocuparem quase toda a mídia, por determinação desta manipuladora de gostos, que empurra a porcaria para consumo imediato e deixa o grande público sem direito à alternativa de qualidade, sinto a força de um furacão. E os poetas, instrumentistas, compositores, cantores que produzem arte são varridos para um canto, onde a elite, por querer intimidade com o culturalmente correto, consome, e os de bom gosto e sensibilidade estimulada apreciam.

Não precisaria nem citar exemplos na política brasileira para caracterizar esta como fonte de tragédias. Mas é bom lembrar: A corrupção é uma grande tragédia que fomenta milhares de outras, como as obras inacabadas; o superfaturamento; o sistema educacional ineficiente; o sistema de saúde insatisfatório; o desemprego e outras já muito debatidas. E ainda é regra no espírito público. Os honestos são raríssimas exceções.

Não podemos deixar de registrar, nesse cenário de acontecimentos trágicos na ecologia, na política, na economia, na arte, alguns avanços na sociedade brasileira. Todos nós sabemos que houve afrouxamento na democracia e maior consistência na economia.

E quem seria o vilão de todas as hecatombes, nacionais e internacionais? Quem provocou e ainda provoca todas as guerras contemporâneas? Quem destrói e desequilibra a natureza? Para tornar impessoal essa culpa, alguém diria: Não é quem, é o que. Pois fingiremos aceitar esse argumento. Então, o que causa e se beneficia de todas as tragédias? A resposta é fácil: O Capital. E isso não é discurso marxista, é apenas a constatação de um fato. Há, porém, uma complementação a ser feita: O Capital não tem vida própria; por trás dele existem homens ambiciosos que fariam qualquer coisa para vê-lo crescer. Por outro lado, milhões de pessoas simplesmente se omitem e deixam as tragédias seguirem, em silêncio, como se milhares de crianças morrerem de fome, ou por causa de doenças evitáveis, fosse menos importante do que a queda de um avião.

Nós provocamos as tragédias. Nós somos os vilões dos problemas ambientais e sociais; Os intelectuais que aceitaram passivamente a reviravolta ideológica, simbolizada na destruição de um muro como o fim da esperança de uma democracia mais verdadeira; Os políticos que compraram o bilhete na segunda classe dessa aventura suicida, deixando para trás o sentido da palavra revolução e o contraponto da metafísica, ou seja, o materialismo dialético; Os omissos diante da permanência das contradições desse velho sistema que comprova: Somos, realmente, os lobos de nós mesmos.

E não adianta dizer que a salvação é o modelo de democracia que conhecemos, pois isso, para mim, é o maior engodo que poderia ter sido empurrado na goela dos menos esclarecidos. É querer acabar com a esperança de um dia unir-se a paz com a justiça. A perda da esperança, sim, é a maior de todas as tragédias.

Paulo Viana

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Sentido da Vida é Viver

A vida é uma preciosidade cujo valor não pode ser medido. Com esta afirmação, inicio o meu texto desta semana. Não porque me tenha ocorrido uma revelação divina ou porque tenha acontecido algo que fez meu ego explodir em satisfação, mas porque é preciso que, todos os dias, repitamos isso. E, muito mais, é fundamental que sintamos isso.

Na esteira perversa do cotidiano nos deixamos contaminar pela aridez hormonal, pela competição social e pela ambição material. Não paramos para olhar, por um momento apenas, a imensidão do céu, com seus mistérios, com suas estrelas, quando o sol se ausenta. E quando o olhamos, com olhos de pincéis, derramamos um azul que disfarça sua grandiosidade, nos aproximando de nossa pequenez. Ficamos maiores e mais significantes. Á noite, com olhos de poetas, fingimos acreditar que o brilho da lua é, tão somente, um capricho do sol para que estrelas maiores e mais distantes não queiram vencer uma competição de luzes, e os tesouros não descobertos sejam esquecidos, porque insistimos em pensar que somos os únicos que a natureza elegeu para refletir. Não posso acreditar que sejamos os únicos, mas posso assegurar que estamos aqui.

E é por estarmos aqui, sujeitos desta oportunidade, que devemos usar com mais propriedade a prerrogativa da reflexão. Há uma afirmação de vida na paz, então por que buscar o conflito? Há harmonia na justiça, por que não lutar por ela? Isso torna a vida mais valiosa: buscar a paz, porém, no caminho dela há a justiça. Não há paz se não houver justiça. Estamos condenados a este ciclo de contradição? Então onde está a beleza da vida?

Não há caminho sem obstáculos; Rio sem barreiras a serem vencidas ou desviadas; Alívio sem dor; Alegria sem tristeza. Até o amor tem o ódio à sua espreita. A vida é feita de contradições; é a celebração do conflito entre o ser e o não ser. Não podemos desistir ou nos desesperar por causa desse destino. Afinal, se o vivenciamos é porque estamos vivos. Desconheço a existência de um morto triste ou de alguém que ainda não nasceu alegre. Só a vida nos dá o direito de sorrir e chorar. Então choremos pelos mortos e vamos sorrir pelos que nascem. Mas, sobretudo, vamos exercer o nosso direito de sorrir e de chorar.

Por isso, amigos, se a tristeza entrar por sua porta deixe-a aberta, porque esperando, lá fora, está a alegria. Se a tristeza insistir em ficar é porque entendeu que ali era a casa dela. Aproprie-se, então, do seu espírito; Descubra um jeito de expulsar a tristeza e convide a alegria a ocupar o espaço que também lhe é de direito. Assim a vida seguirá seu caminho naturalmente.

A vida é feita de escolhas e estas desencadeiam todo o resto. Há escolhas apropriadas e há outras inadequadas. Há, ainda, a possibilidade de corrigirmos o erro. Não podemos, jamais, fugir do risco porque ele traz incertezas. O sofrimento deve ser evitado, mas não deve ser inútil. Não poderemos aprender se a lição não nos for apresentada. Devemos fugir da certeza que produziremos o mal.

Tudo que foi dito, acima, não é nenhuma novidade, mas teimamos e esquecemos que a vida é a essência da simplicidade. O caminho que ela percorre é o caminho que a natureza traçou. Claro que a convivência exigiu ajustes e a cultura providenciou. É lamentável que, o que poderia ser uma união genial, ou seja, a natureza e a cultura, transformou-se num pesadelo suicida e a vida passou a trilhar caminhos nebulosos e complicados. Mas, cá estou, lembrando: não nos deixemos cair neste universo de brilho efêmero, pois ele apaga tão rapidamente quanto o surgimento de uma nova promessa da chegada de um brilho mais intenso ainda. O brilho da vida está no simples fato de viver, e nada é capaz de ofuscar, porque somos nós mesmos as estrelas que fazem a vida cintilar.

Paulo Viana

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A Retórica e o Diabo


                        Se o diabo existisse, estaria assistindo a tv e rindo das desgraças que acontecem no mundo. Certamente, teria ganhado a aposta com Deus, se tivesse feito, que o ser humano, entregue a esse tal livre arbítrio, não daria certo e sucumbiria por causa da sua ambição e de sua fome de poder. Brindaria sua vitória por ter conseguido manter, por tanto tempo, em tantas pessoas, a injustiça, desigualdade, fome, corrupção, egoísmo e nenhum amor à vida e ao Planeta.

       O diabo não existe. Aquela figura chifruda foi criada pela igreja católica para associar os símbolos das religiões concorrentes ao mal. O que existe, de fato, são as relações entre as pessoas e entre elas e o Planeta. O que existe mesmo é uma trajetória movida pelo interesse no poder, no prazer em demasia, fundamentada pela criação de doutrinas convincentes, como a democracia, cuja prática está longe de se assemelhar à teoria. Sem contar os problemas hormonais e os transtornos psicológicos.

                        Cabe, aqui, uma pergunta: de que adianta esse discurso romântico? Onde estão os ideais de liberdade, justiça, igualdade e fraternidade? Onde está o humanismo? Ah! - Diria o diabo depois de mais um gole diante da tv - A retórica foi um artifício que eu adicionei à razão humana. Esta seria muito pobre se a lógica formal fosse sua única vestimenta. Dei uma incrementada no uso da palavra para que, o que parecesse verdade, de um lado, fosse mentira do outro. Assim os pobres seriam enganados com mais facilidade e os ricos viveriam em paz.

                        Deus, com sua fé inabalável, mantém-se calado, acreditando que um dia a razão, despindo-se da retórica e usando a lógica, dirá: Não podemos mais admitir tanto alimento apodrecendo nos supermercados, enquanto tantas pessoas morrem de fome no mundo. O diabo continua apostando no ideal capitalista: o lucro. Mas o diabo não existe e Deus é uma prerrogativa da fé que os seres humanos têm em sua capacidade imaginativa. Acreditaram tanto em Deus, ao longo da história, que hoje é quase impossível ele não existir. Afinal, a quem os pais confiariam a vida dos filhos, quando saem de casa, neste mundo em que o diabo dá as cartas?

                        Como bom idealista, mantenho a minha fé, pois existem pessoas boas e haverá um momento em que os seres humanos estarão materialmente equilibrados. Acredito, até, que há potencial para haver uma mudança espiritual e, como desdobramento, diminua muito o sofrimento no mundo. Mas não posso mais acreditar nessa retórica de Democracia, Deus, diabo, crescimento econômico e outras artimanhas da inteligência humana. Essa conversa me cansou. Não me convence mais. O que me convence é a boa vontade, a capacidade de perdoar, a solidariedade e o desapego. O que me estimula é a ação positiva, concreta, que não usa a retórica, porque esta é atributo das palavras e as palavras, sozinhas, são apenas lembranças do que aconteceu ou prenúncio do que poderá acontecer, não são os acontecimentos. 

 

                        Paulo Viana