terça-feira, 10 de março de 2009

O Nordeste e a Chuva

Estamos em plena estação chuvosa. Ainda chove água limpa em nosso Planeta. Trovões e relâmpagos anunciam alegria para esta terra que, ao longo dos anos, foi mal tratada pelo clima, involuntário algoz da Natureza, e pelos políticos inescrupulosos.

Por muitas vezes, o chão rachado mostrou, e ainda mostra, as veias desta terra sugadas pelo descaso das más políticas, pelo abandono e pelo não cumprimento de eternas promessas de redenção, de irrigação, de redistribuição de verbas, de um olhar mais detido no potencial de fertilidade dos seus campos.

Chegamos ao século vinte e um, já finalizando o primeiro decênio, e ainda não existe uma política definitiva de combate às secas. Ficamos ainda na dependência de políticas emergenciais e de uma boa estação chuvosa – Não gosto de dizer inverno, porque, aqui chove no verão e no outono. O inverno é a estação fria, no período de junho a setembro, cujo frio não aparece, na maioria das cidades do nordeste, por causa da localização geográfica da região.

Existe um mito de que aqui só existem duas estações: O inverno e o verão. Isto é uma falácia que revela um sentimento de inferioridade. Não seria, por ser o Nordeste, que teríamos apenas duas estações. Se em nossa fragmentação não conseguimos perceber as mudanças, as árvores, os pássaros, os animais percebem. E se ficarmos atentos, veremos a sutileza com que a Natureza anuncia a chegada de uma nova estação.

Mas eu quero falar é na importância das chuvas para os nossos olhos, para a vida, para a revigoração da esperança e do otimismo. A presença forte dos estrondos e dos clarões, causa grande tensão, que, em seguida, é aliviada pelas gotas de água, que de uma forma surpreendente, quase mágica, caem do céu num festejo promissor, alentador, esverdeando com mais frescor as folhas, fazendo brotar com mais viço as flores, vitalizando os rios, os riachos, os açudes, as barragens e causando um agradável alvoroço nos pássaros.

Vamos torcer para que as torres brancas que se erguem no nascente sempre se convertam em chuvas e não dependamos dos carros pipas, das emendas parlamentares, da boa vontade do deputado. Vamos torcer para que a Natureza siga seu curso e as chuvas ainda sejam, por muito tempo, de água limpa. Vamos desejar que as nuvens sejam sempre carregadas de forma pura e se dissolvam em música nos telhados, em alimento nos roçados e, principalmente, em equilíbrio na terra e nos homens. Vamos sonhar com a salvação do Planeta; com o fim do aquecimento global; com a recuperação das florestas; com o resgate das espécies extintas. Vamos sonhar com a vergonha na cara de grande parte dos seres humanos.

Este meu frágil romantismo não conseguirá, certamente, enfrentar a dura realidade do rolo compressor capitalista. Talvez sucumba, adormecido nestas linhas, esquecido neste texto. Mas sua fonte é perene, não esgotará nunca. Porque ela brota do coração. E é lá, no coração, onde residem a esperança e o desejo de que a vida, um dia, seja vista realmente como uma experiência divina, como o sopro adicional que a Natureza presenteou a matéria, nessa sua louca odisséia pelos caminhos da eternidade.

Paulo Viana