quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fé nas Utopias

Eu sei que a complexidade do ser humano não pemite que tenhamos padrão ideal de comportamento e que o sonho da felicidade, da paz, do equilíbrio e de outras quimeras absolutas não passa de necessário buscar da utopia. Sei, também, que a vida é forjada no viver concreto, no se jogar no mundo, planejando, quando dá, ou ariscando quando podemos; Que a ética pura é quase impossível; Que as relações se consolidam no confronto de almas diferentes e na dinâmica de interesses muitas vezes não revelados.
A vida é, ainda, muito misteriosa e encanta a todos, porque surpreende, eleva, descontrói, maltrata, alegra, exalta e pune. Só a morte desencanta.
E se não fosse o sonho? E se não desejássemos encontrar um termo definitivo para a inquietude, insatisfação, incoerência, desvirtuamento, que pudesse engendrar espíritos plenos de virtudes, honestos em sua totalidade? Imaginemos um ser humano cem por cento honesto...é possível? Seria "normal"? Talvez não, mas precisamos querer que ele exista para chegarmos a um percentual aceitável de honestidade. Queremos que a ética absoluta seja exigida, pois assim vamos ter comportamentos aproximados de uma civilização moralmente perfeita. Assim, fica mais plausível a possibilidade da justiça.
Temos a obrigação de querer essa perfeição, de exigir, não só dos homens públicos, mas, sobretudo, de nós mesmos, embora saibamos que somos animais vacilantes, vulneráveis, dependentes do funcionamento psico-físico-químico do noso corpo e da nossa mente. Porque, se não insistirmos na busca das utopias, se não mantivermos a esperança em um ser humano mais evoluído, menos egoísta, com uma concepção mais humanista do que é ser humano, de que adiantará viver? Viveremos pelo prazer imediato? Pelo consumismo? Pelas paixões efêmeras?
Considerando, por fim, que Deus (a maior invenção dos humanos) não conseguiu cumprir a tarefa de consolidar esse espírito idealizado, que buscamos, resta-nos acreditar que o amor vai, pelo menos, adiar a construção desse ser humano desiludido, egoísta, individualizado, sem esperança e suicida, que já sinaliza a sua chegada. Não podemos, jamais, abrir mão das utopias.

Paulo Viana