quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Romantismo e as Mudanças

Quando escrevi sobre a possibilidade do fim do livro, inspirei-me na sempre presente resistência dos românticos frente às mudanças. Talvez a mais marcante dessas manifestações tenha sido a do grande Charles Chaplin que anunciou o fim do cinema com a sonorização das películas.
Somos conservadores, no sentido positivo da palavra. Como os ecologistas que, embora saibam do inevitável fim das condições de vida do Planeta, não se conformam com a ideia dos próprios humanos, de forma irracional e grotesca, apressarem essa destruição, em nome do lucro, do egoísmo e da apologia à propriedade privada, talvez um dos principais vilões de todos os males da humanidade. Posso lembrar, também, os colecionadores de vinil, apegados aos ruídos das imperfeições de uma tecnologia ultrapassada, porém charmosa e eficiente.
Minha alma, forjada no sonho dos idealistas, não aceita, de bom grado, o declínio das Nações, desconfiguradas pela cultura imperialista do consumo, da globalização, do poder impessoal de um imperador cruel, chamado capitalismo, cujo trono é a inconsciência brutal dos insensíveis. Tenho o hábito ingênuo de imaginar um mundo pacífico; sem guerras; sem doenças; sem miséria; sem a parte triste da humanidade, embora saiba que assim são os humanos. Já não quero ver notícias, para não saber sobre o índice alto do desmatamento da Amazônia; O fim das espécies; O aquecimento global; O discurso ridículo de que a crise exige que a política ambiental seja revista, no sentido de liberar a exploração dos recursos naturais com técnicas mais agressivas.
Não vejo com bons olhos a desvalorização do namoro, embora concorde que as mulheres avançaram de forma justa no direito á experiência e à convivência com um maior número de parceiros, podendo, assim, conhecer-se melhor. Mas, é desestimulante saber que oferecer flores, comprar presentes, escrever cartas apaixonadas são, hoje, apenas artimanhas para conquistas efêmeras, salvo raríssimas exceções. Por outro lado, é bobagem pensar que as mulheres, em grande parte, se deixam enganar por esses mimos, embarcando nesse falso romantismo. Mesmo assim, atitudes românticas, cavalheirescas, respeitadoras, educadas, enfim, humanas, são alentadoras e nos fazem pensar que os seres humanos ainda têm grande potencial para uma convivência saudável e inteligente.
Há, na música, pelo menos aqui no Brasil, uma impressionante queda na qualidade do que é executado nos meios de comunicação, do que é produzido e divulgado pelas gravadoras, porque a fonte de inspiração não é o romantismo do poeta, que colhe em sua vivência versos e os expõe a compositores, também inspirados. Essa fonte vem da satisfação de um mercado, aviltado em seu gosto, até pela falta de oportunidade de ouvir as boas composições, ouvindo, na verdade, a superficialidade medíocre de construções grosseiras, num aglomerado de palavras de fácil assimilação e de rápido consumo, onde o amor é gritado de forma desesperada, com muita sofreguidão e nada de doçura. Os bons compositores são vistos pela mídia como algo que não interessa. E o público que se deixe levar pela desintegração dos valores e o engrandecimento da mediocridade. Meu espírito idealista admite, por exemplo, o grito na voz, nos acordes e nas melodias do Rock, mas as patéticas variações que entendem a aceleração do ritmo como inovação não são toleráveis e, mais uma vez, sinto tendência a resistir.
São estes sintomas que quero apresentar para minha “enfermidade”. Talvez uma “infecção” causada pelo contato com as cartas de amor de Fernando Pessoa; Os Sonetos de Amor de Pablo Neruda; As canções de Chico Buarque; As bandeiras de Paz e Amor dos hippies; O sonho Socialista dos Marxistas; As melodias imortais de Bach; A imaginação de John Lennon e a filosofia socrática, que tem a virtude como principal meta do homem. Por causa deles fui acometido de uma mania chamada Romantismo.
Não quero ser herói, nem mártir. Meu romantismo não chega a tanto. Mas, permanecerei com esse romantismo moderado, apesar de entender que as mudanças são inevitáveis e o espírito humano sente a influência da relação dialética que sempre teve com os instrumentos usados ao longo da história. Hoje somos técnica montada no restante de humanidade que ainda carregamos.

Paulo Viana