Queria ser um poeta, para me orgulhar dos meus versos e dedicar poemas ao amor. Queria poder escrever para os pobres de espírito e fazê-los sorrir, transformando sua dor em suave prazer de estar vivo. Queria poder olhar nos olhos de cada jovem e, num apelo dramático do coração, dizer: Viva cada momento, sonhe todos os sonhos, ame todos os amores, beije todos os beijos e fale todas as palavras que possam caber no entendimento e na esperança.
Queria, em preces ansiosas de um ateu convicto, pedir, a um deus inexistente, que me dê uma luz, branca fonte de uma paz inalcançável, para que os caminhos escuros daqueles que sofrem sejam iluminados e, em um surpreendente gesto de coragem, eles possam erguer os olhos e dizer: viva a vida, companheira de si mesma em mim, único berço onde meus dias se deitam e se deleitam, e meus desejos expressam a ausência daquilo que ainda serei.
Queria, em poema sutil, deixar-se vislumbrar a verdadeira essência do eu universal, para que o dom da vida seja um símbolo da plenitude e um veículo da serena viagem do espírito pelo fel adocicado da existência.
Queria ouvir a música da eternidade, como se um violino executasse o deslizar do tempo e a melodia contasse os passos do nosso caminhar, em um ritmo firme e equilibrado, em solene e plácido minueto, ou em um alegro vibrante, ou em um adágio envolvente, ou em todos os movimentos, alternando entre a dor e a alegria, mas sempre conduzida pela maestria de edificantes lições e pela harmonia soberba da sabedoria.