quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A Razão e o Presente de Catarina

O embaixador Jean Nicot levou, de Portugal, para a rainha Catarina de Médicis, a novidade do Brasil, conhecida como Tabaco. Ela, que sofria de dores de cabeça horríveis, passou a fumar e descobriu que melhorava das dores. O Diplomata foi homenageado com a maldita palavra Nicotina e o tabaco, hoje, não é mais considerado um remédio e sim um coquetel de 4720 substâncias tóxicas que estão relacionadas a mais de cinquenta doenças.

É curioso como há contradições relacionadas ao cigarro. Fico imaginando o que pensaria um extraterrestre que, ao visitar nosso Planeta, visse o designer bonito de uma “carteira” de cigarros e no verso aquelas fotos aterrorizantes. Certamente, perplexo, diria: que ser é esse, que tem uma faculdade chamada razão, capaz de desenvolver raciocínios lógicos, mas que se deixa envolver por algo tão prejudicial? Saberia, de imediato, que nós não somos feitos só de inteligência racional. Deduziria que outras componentes fazem parte da formação do nosso espírito. Veria, no decorrer da sua análise, seres formados por um complexo emaranhado de variantes psicológicas, fomentadoras de ansiedade, angústia, stress, insegurança, sem contar com a complicada cadeia de relações de substâncias químicas, hormônios, células e trocas energéticas que, associadas, anulam completamente a força da lógica racional e fazem o fumante comprar uma embalagem com vinte bombas mortais, para uso contra ele próprio. Comprar, atentemos para isso.

Jamais diria ser mais humano se abríssemos mão de todas essas coisas que superam a inteligência e causam tantos problemas, porque também produzem a música, a arte, os sentimentos, as emoções, a beleza da paisagem, o viço natural da vida e o amor.

Eis a importância do papel da cultura: fortalecer a razão para que ela possa dificultar a ação de forças que produzem a autodestruição. Valorizar a vida nos aspectos mais bonitos e mais estimulantes dos bons sentimentos, afirmando-a como a única fonte de uma justificativa para a existência do mundo. Imaginem o quão sem graça será o Planeta Terra, sem a inteligência e a sensibilidade humanas, para enxergar beleza e harmonia nesse caldeirão efervescente que é o universo. Pois o que estamos fazendo com o Planeta, hoje, vai matar até o direito da natureza de ser apreciada, no que de belo ainda restar. Não estaremos lá para isso.

Outra contradição é o contra-fluxo da movimentação de setores da sociedade para a liberação da maconha e a crescente luta conta o uso do tabaco. Prova isso, que o cigarro comum é um mal tão grande que em época de desmistificação de drogas, de questionamento da hipocrisia e do preconceito em relação à Canabis Sativa, ele está cada vez mais se transformando, muito justamente, diga-se de passagem, em um vilão da saúde pública.

A verdade é que já se gasta com as doenças tabaco-relacionadas, mais do dobro do que se arrecada, em impostos sobre o tabaco. Há, por isso, avanços significativos na proibição do cigarro em lugares fechados. O fumante passivo agradece.

Dá para viver apaixonado, emocionando-se com a música e a arte; combatendo o stress e com os sentimentos vivos, sem, necessariamente, ter que consumir nicotina. Dá para viver mais e acreditar que um dia ficaremos adultos espiritualmente e curaremos doenças como a dependência do fumo, quem sabe com uma vacina de boa alimentação, vida saudável, convivência amorosa, justiça, harmonia e amor. E teremos erradicado a doença causada pelo remédio de Catarina.

Paulo Viana