A humanidade está se conduzindo a uma encruzilhada que sugere dois caminhos: A redução crítica das condições de vida no Planeta e a extrema evolução tecnológica. Estes dois caminhos vão se cruzar num futuro não muito distante. Todo o aparato tecnológico será destinado à sobrevivência e custará muito caro. Aquele que não tiver condições de pagar morrerá. Os que tiverem recursos financeiros poderão até prolongar suas vidas indefinidamente. Em pouco tempo, estarão vivos somente os que terão recursos financeiros, criando-se, então, uma geração de imortais.
Como, imortais? Não é difícil deduzir que, com os avanços da biogenética e dos processos de clonagem, será possível a substituição de células e órgãos de forma que a velhice será evitada e, em consequência, a morte também. A não ser que aconteça um acidente e não haja tempo de atendimento médico. O número de pessoas no Planeta será fixo e, para que se tenha um filho, alguém vai ter que abrir mão de sua eternidade, constituindo-se, portanto, um crime grave a concepção sem autorização prévia dos controladores. Claro que todo o metabolismo das pessoas estará sob controle de computadores e chips implantados no corpo. Os chips dirão o que cada ser humano precisará para equilibrar sua situação hormonal, suas reservas energéticas, definindo que alimentos precisará para recuperar suas energias, avaliando, sistematicamente, o estado geral de cada um.
Isso perdurará pelo tempo que ainda existam condições mínimas de sobrevivência. Poderá ser poucos anos ou séculos. Mas, uma pergunta cabe, se esta situação se concretizar: Quais serão as implicações filosóficas e psicológicas da perspectiva deste ser humano do futuro, que conviverá com a eternidade? Como ele vai encarar o fato de nunca morrer? Quais serão os anseios dele? Suas angústias, sua esperança, suas emoções, suas dores?
Não acredito que a vida eterna, nas condições que ela será possível, isto é, numa mudança constante de órgãos e de células, com chips implantados em seu corpo, tendo um controle externo de suas condições biofisiológicas e até psicológicas; sem liberdade de ser, de comer, de arriscar-se, de aventurar-se, de experimentar, enfim, de viver, será melhor do que agora. Não creio que a possibilidade de não morrer torne a vida mais feliz e as pessoas mais saudáveis, mas equilibradas.
Bom, mas tudo isso são apenas conjecturas e se for possível, está ainda muito longe. Por enquanto deveríamos valorizar a vida e a morte. A primeira pela oportunidade de existirmos e exercemos nossas potencialidades, convivendo com outras pessoas, sorrindo, chorando, com alegria, com tristeza, com sofrimento, com momentos felizes, com amizade, com solidariedade, com decepções, com realizações e com amor. A segunda porque é o que torna a vida misteriosa, valorosa e nos ensina que somos passageiros de uma nave sem destino, ou melhor, destino que poderíamos chamar de país da ilusão. Mas uma ilusão que vale a pena.
Saudemos, pois, a vida, dádiva divina que nos faz estrelas brilhantes no presente, com passadas ás vezes trôpegas, ás vezes firmes, em busca de nós mesmos, por caminhos ora desvirtuados, ora certos, por estradas ora espinhosas, ora floridas; empurrados, pelo tempo, para uma noite escura, tão escura que nem mesmo nossa própria luz brilhará. Saudemos, pois, a velha e boa morte, que, apesar da nossa luta intensa, não só como estrela, mas como constelação, desejando brilhar eternamente, nos ensina que a vida é única e por isso devemos amar cada segundo que vivemos, como se durasse uma eternidade.
Paulo Viana
Poemas e Reflexões
Quem sou eu
- Paulo Viana
- Pacoti, Ceará, Brazil
- Funcionário Público, Varzealegrense, casado,55 anos
terça-feira, 17 de março de 2009
O Fim da Morte
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