sábado, 2 de julho de 2011

Vida Simples

É simples e agradável caminhar por entre as árvores, respirando um ar quase sem monóxido de carbono, ouvindo as melodias esparsas dos cânticos dos passarinhos, com o vento roçando nas folhas e trazendo a atmosfera do inverno. É bom sentir os primeiros raios do sol, sob um céu infinitamente azul e nuvens branquíssimas em contornos fugidios, adornando a nossa imaginação.

Aqui, nestas montanhas, onde a exuberância do verde resiste à avidez inesgotável dos homens de apropriar-se da natureza, há sinais inconfundíveis de vida legítima, sem os atropelos estressantes das metrópoles, sem os incompreensíveis anseios hedonistas e o desejo incomensurável de destacar-se pelo acúmulo de propriedades. Apenas a vida, simples e profundamente envolta na sabedoria do pensar em estratégias de exercer a destreza, a inteligência, a capacidade de construir, sem, no entanto, destruir as condições de existência.

Nestas terras, onde vivem plantas e aves, que tão belamente nos acompanham nessa maravilhosa experiência que é viver, sinto-me sob um encanto que, ao contrário de parecer primitivo, nos remete à última aventura dos seres humanos que é idealizar um paraíso para edificar a sua morada.

Neste esplendoroso oásis de esperança, onde espécies ameaçadas se escondem bravamente, com receio de enfrentar a psicopatia da nossa espécie, tão paradoxalmente marcada pela engenhosidade, inteligência e acúmulo de conhecimentos, confrontados com a falta de critério e o desmando na condução do seu processo evolutivo, causando males irreversíveis à sua morada, ainda percebo o quanto é belo o mundo e a vida.

Salve a arte e a ciência que cura, porque elas evitaram que a civilização humana se transformasse em um fracasso total.

Seria bom se pudéssemos recomeçar, conscientes dos males que a revolução industrial causou, que o desmatamento generalizado provocou e as consequência da ganância pelo lucro e pelo prazer imediato. Talvez, com toda a nossa criatividade, conseguíssemos viver respeitando o mundo natural e construindo uma civilização menos irracional. Descobrindo, principalmente, que a Natureza tem as resposta para todos os problemas que ela mesma causa.

Infelizmente não é possível recomeçar, mas é possível viver de forma simples, em montanhas que ainda preservam as condições mais favoráveis para a vida. Por isso viverei até o fim dos meus dias nestas montanhas maravilhosas, convivendo com o mais prazeroso e pacífico anonimato.

Paulo Viana

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Cursor e o Tempo

Pulsando sobre a luz branca do papel virtual, ávido por desenhar palavras organizadas em um sentido inteligente e inovador, o cursor desafia a criatividade e suplica ideias. Sem querer discorrer sobre assuntos já debatidos, o autor, vacilante passageiro dessa viagem única e sem volta, desvia o olhar do passado, controlando o impulso para não projetá-lo no futuro. Ao tentar fixar-se no presente, percebe que este é apenas um momento de transição, uma oportunidade para ajustarmos a trajetória da vida, no sentido de conduzi-la, com mais tranquilidade, à produção de caminhos menos tortuosos e mais harmoniosos.

Quantas oportunidades perdemos, ao longo dessa caminhada, de mudar nossas atitudes, resolvendo problemas que insistimos em manter, por fraqueza, por dependência, pela manutenção de um prazer que mais prejudica do que beneficia; Pela falta de coragem de abrir mão do rotineiro; Pelo medo do novo! Quantas vezes sucumbimos ao apelo do prazer imediato, da ansiedade e da solidão, que nos fazem consumir sem necessidade, nos enganando ao conceder milésimos de segundos de conforto e nos desamparando a seguir. O presente é o único momento que temos para evitar que o futuro seja uma reedição do passado ruim. Em todas as vidas há correções a se fazer.

Mas o presente é, também, o momento de consolidar avanços em nossas vidas; De manter as atitudes positivas; De resistir, com nossos valores morais, à sedução dos ganhos fáceis e ilícitos e de reafirmar nosso amor ao mundo, à vida e às pessoas que amamos de verdade. É uma dádiva única, solitário instante de luz brilhante em nossa alma; Efêmero brilho, que se apaga quando se veste de passado, e reacende, quando o futuro se apresenta pulsante como este cursor exigente.

O passado projeta no presente as sementes do futuro. Basta saber escolher os grãos a serem semeados. Escolhendo os grãos errados teremos uma colheita ruim. E o tempo de semear é todo dia, assim como o tempo de colher. E o único fertilizante que devemos aplicar é o amor à vida.

Pois eis que discorrendo sobre passado, presente e futuro o tempo passou e a avidez do cursor foi acalmada, embora ele continue solicitando um fechamento do texto e da ideia. E como poderíamos satisfazê-lo? Se cada um dos leitores, ao final da leitura dessas palavras, fizer uma reflexão sobre as sementes que vai plantar naquele dia, ou no dia seguinte, e apostar em terrenos mais férteis em paz, harmonia, alegria e amor, tirando as ervas daninhas do egoísmo, da ambição, da intolerância e da indiferença, se estas existirem na lavoura de suas almas, certamente o cursor poderá sentir-se satisfeito ao desejar que palavras fossem escritas na luz branca desse papel virtual.

Sabemos que na vida, como na natureza, as intempéries são possíveis, e acontecem “tempestades”, tragédias e outros fenômenos. Ergamo-nos, como se ergue a natureza, e reconduzamos a vida ao seu caminho normal. Ao mal que não podemos evitar temos o amor à vida. Ao mal que podemos evitar temos o presente para refletir e semear o que venha nos trazer o bem. O resto é hormônio.

Paulo Viana