quarta-feira, 29 de abril de 2009

Gilmar, Chaplin e a Seleção de 1962

Estou tentado a escrever sobre o tal senhor presidente de um dos poderes independentes e harmônicos. Não o conheço, não vi a tão propalada discussão com o colega e, sobretudo, não me surpreenderei se todas as acusações contra ele forem verdadeiras.
O Brasil é um país exótico! Diria um desses europeus que carregam um rei na barriga. Eu, simples brasileiro, não falo mal do Brasil e muito menos do nosso povo. Mas eu diria: o Brasil é um país onde as pessoas se divertem até com briga no supremo. Certamente porque o ridículo dos figurões é engraçado. Chaplin gostava de ridicularizar figurões. Imagina você esperar de um senhor, que ocupa altíssimo cargo, uma postura adequada, irretocável, acompanhada de uma seriedade inquestionável e de repente ele escorrega e cai de quatro. Isso, numa sequência cinematográfica, é perfeito. Mata qualquer um de rir. Ou, por outro lado, sem querer fazer trocadilho, ele vestir um Armani impecável, comprado com dinheiro duvidoso, e, ao virar-se vermos que a sua cueca está aparecendo - E aqui não precisa nem dos dólares. Quem não riria de uma situação dessas?
Assim somos nós, brasileiros: Rimos da desgraça alheia, e, pior, rimos da nossa própria. Porque, convenhamos, existe desgraça maior do que um sacerdote, pecador ao extremo, ser o principal julgador dos pecados dos outros?
Esse senhor deveria se espelhar no seu xará, grande goleiro da seleção brasileira de 1962. Aquele sim era um verdadeiro guardião. Por ele não passava nenhuma falcatrua armada pelo ataque do time adversário, ou até mesmo por falha de sua própria defesa. Poderia passar algo indefensável, pois ele não combinava com nenhum jogador a hora de chutar uma bola para deixá-la passar, porque defender a seleção brasileira era lei. E essa lei, para ele, era sagrada. Em sua cidadela, era exigente com os companheiros. Não admitia corpo mole nem vista grossa. Se viesse um ataque todos teriam que se empenhar e defender. E cada perna era um braço da lei maior que era a vitória da justiça. Tínhamos mesmo o melhor time. Que bom seria se as mãos desses juízes fossem como as pernas dos jogadores da seleção de 1962. Ou as mãos do grande goleiro dela.
Ali, em Brasília, onde o homônimo do grande goleiro brasileiro postou-se como guardião, as bolas mais fáceis de pegar passam. É o maior frangueiro que uma equipe já teve. E o time da “semvergonhice” quase sempre ganha. O mesmo time que era para ele derrotar, defendendo a seleção brasileira dos valores éticos, que, infelizmente, ainda é juvenil. Um time mal acostumado às táticas de uma colonização baseada no favorecimento, no empreguismo e no jeitinho. Só um técnico pode mudar isto: A nossa consciência. Corrupção vai deixar de ser a principal regra do jogo, sim, e vai virar exceção, como em muitos países. Afinal, não custa nada torcer... um dia esse time vai ser campeão.
Aos jovens, desconhecedores da copa de 1962, sugiro perguntarem aos pais quem eram os jogadores. Quem viveu aquele momento certamente dirá: O Brasil era ainda muito atrasado, mas o povo delirava com aquela seleção. Hoje, o Brasil evoluiu em muitos aspectos, mas o futebol deixa muito a desejar e já não é o “ópio”. O grande divertimento, do momento, é o bate-boca dos senhores que, educadamente, dizem: “Vossa Excelência é uma vergonha para o país”. E não são os jogadores dizendo para os árbitros das partidas nos campeonatos estaduais não. São membros da mais alta Instância do poder judiciário trocando gentilezas e deliciando o povo que, daqui mesmo de onde estou diz: “Vocês viram, quanta baixaria? Quase morri de rir”.

Paulo Viana