quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A Passagem do Tempo e o Bom-Senso

Já se passaram mais de trinta anos desde quando meus dedos buscavam, aflitos, as teclas duras da máquina de escrever. Hoje, os sinais de uma postura inadequada, do uso sem técnica do teclado e da falta de orientação apresentam-se, obrigando-me a teclar com uma única mão, para não afetar a outra, acometida de lesão. E quantos brasileiros, silenciosos, estarão, com o tempo, sofrendo do mesmo problema?

Não estou querendo fazer denúncias. Na verdade, estou apenas constatando a passagem do tempo e, também, vendo que a vida tem exigências que devem ser atendidas, para podermos viver todas as fases com plenitude e saúde. Nada mais sensato do que ouvir os mais velhos e mais experientes.

É justamente sobre isso que quero escrever. É justamente sobre o desprezo, a indiferença e o descaso que a maioria das pessoas tem em relação aos idosos. Descartam, de forma absurda, a experiência, a sabedoria e a vivência deles, como se já não servissem para nada.

Lembro dos filmes sobre a Roma antiga, onde aparece o Senado, com seus anciãos, por muitas vezes dissuadindo os desvairados imperadores e os conduzindo a um caminho mais inteligente. Certamente, porque já haviam convivido com outros Césares e presenciado catástrofes por causa de atitudes insensatas.

Não podemos esquecer os índios que, apesar do seu primitivismo e da sua falta do conhecimento dos “brancos”, valorizam muito as opiniões dos mais velhos, servindo-se da sapiência deles para tomarem a atitude correta, diante das intempéries.

Alguém poderia argumentar que em dias atuais as mudanças são muito rápidas e os mais velhos já não podem opinar sobre as novidades. Isso é pura bobagem. Os sentimentos, as emoções, as relações afetivas mais profundas, a ética, o bom-senso e muitas outras qualidades humanas, em sua verdadeira essência, nunca mudam. E os idosos estão muito melhor qualificados do que os mais jovens para falar sobre esses fatores. E se eles mantiverem-se atuantes, ativos, movimentando-se fisicamente e intelectualmente, poderemos aproveitar sua vitalidade até nos assuntos mais dinâmicos e atuais.

Quantos problemas não seriam evitados se os idosos fossem escutados? Quantas mortes, desastres e aborrecimentos não acontecem pelo simples fato de se ignorar a opinião de uma pessoa mais experiente?

Precisamos, portanto, todos nós: Poder Público, Sociedade, Jovens e os próprios Idosos, criar e por em prática mecanismos de valorização, proteção e aproveitamento da experiência das pessoas mais velhas, porque trazem consigo o passado e podem muito contribuir para um futuro bem melhor.

A velhice é apenas um dos estágios da vida, talvez o mais nobre. Devemos nos orgulhar por conseguirmos chegar a essa fase. Embora haja sinais de que estou a caminho, ainda não cheguei, mas procurarei chegar com dignidade e altivez. Com lucidez suficiente para poder ajudar aos mais novos a seguir o caminho mais simples e mais inteligente.

Paulo Viana