quarta-feira, 6 de maio de 2009

Bill Gates e o Apocalipse

Há alguns anos, em conversa animada sobre os mundos natural e sobrenatural, com um desses estudiosos do I Ching e de outros oráculos não menos misteriosos, ouvi-o dizer que a internet possuía todos os elementos para confirmar a profecia sobre a besta do apocalipse. Eu, que nunca fui um exegeta e naquele momento não compreendia bem o que vinha a ser a WEB, admirei-me com tão aparentemente sólido achado intelectual. Senti a consistência da síntese perfeita de elementos culturais opostos, não só em termos históricos, porém, sobretudo, pela contradição extrema entre São João e Bill Gates.
A despeito de tudo que se diz da internet e de Bill Gates, associando-se este ao Anticristo e ao famigerado 666, penso de forma muito diferente. E não vou fazer, aqui, profunda analogia com palavras em latim, com valor numérico de letras ou com qualquer mensagem codificada dos textos bíblicos para chegar à soma de 666 ou outro resultado. Minha abordagem vai ser mais simples.
A Onisciência, a Onipotência e a Onipresença são os três atributos principais de Deus. Aquele que tudo sabe, tudo pode e está em todo lugar.
Você já digitou a pergunta mais inusitada do mundo, escrita corretamente, no buscador da Google e, inesperadamente, obteve uma resposta? A impressão que dá é que a Google sabe tudo. Porém, não é o buscador que sabe, é a internet que parece ter plugado todas as pessoas e sempre há uma delas que apresenta uma resposta, seja em algum fórum, seja através de um site. Isso mesmo: a WEB parece onisciente e onipresente. Falta a onipotência, mas, pelo andar da carruagem supersônica, talvez isso não demore muito.
Questiono sistematicamente, e gosto de repetir, a trajetória suicida da humanidade. Lamento profundamente o precipício em que estamos jogando nossos descendentes. Insisto em dizer que me deixa perplexo o que fizeram e continuam fazendo ao nosso Planeta. E não sei se foi com a pretensão de substituir o mundo real - não creio que tenha sido - até um mundo virtual foi criado.
É neste mundo virtual que surge uma esperança, pela oportunidade que os povos de todo o mundo têm, de. na linguagem universal do bom-senso, da sensibilidade e da inteligência, juntar-se, finalmente, e com todo o poder que essa força pode gerar, contrariarem os senhores do dinheiro e estabelecerem radicalmente as regras que salvarão a vida da extinção. Teremos, então, o terceiro atributo: a onipotência.
Por isso, hoje, depois de passados dez anos, talvez mais, daquela conversa com meu interlocutor místico, eu diria que ele estava completamente enganado. A pretensão de Bill Gates não era confirmar a profecia de São João e criar a besta do apocalipse. Pelo que estamos vendo, a pretensão dele era recriar Deus e o mundo, virtual, claro, sem faltar a onisciência, a onipresença e a onipotência. Portanto, ao contrário do que se pensava, a internet não é o 666, a internet é Deus. E para não ficar tão sério, eu diria que até os correspondentes das Doutrinas Católica (Wndows) e Evangélica(Linux) vieram no meio dessa recriação do mundo.

Paulo Viana