quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Sentido da Vida é Viver

A vida é uma preciosidade cujo valor não pode ser medido. Com esta afirmação, inicio o meu texto desta semana. Não porque me tenha ocorrido uma revelação divina ou porque tenha acontecido algo que fez meu ego explodir em satisfação, mas porque é preciso que, todos os dias, repitamos isso. E, muito mais, é fundamental que sintamos isso.

Na esteira perversa do cotidiano nos deixamos contaminar pela aridez hormonal, pela competição social e pela ambição material. Não paramos para olhar, por um momento apenas, a imensidão do céu, com seus mistérios, com suas estrelas, quando o sol se ausenta. E quando o olhamos, com olhos de pincéis, derramamos um azul que disfarça sua grandiosidade, nos aproximando de nossa pequenez. Ficamos maiores e mais significantes. Á noite, com olhos de poetas, fingimos acreditar que o brilho da lua é, tão somente, um capricho do sol para que estrelas maiores e mais distantes não queiram vencer uma competição de luzes, e os tesouros não descobertos sejam esquecidos, porque insistimos em pensar que somos os únicos que a natureza elegeu para refletir. Não posso acreditar que sejamos os únicos, mas posso assegurar que estamos aqui.

E é por estarmos aqui, sujeitos desta oportunidade, que devemos usar com mais propriedade a prerrogativa da reflexão. Há uma afirmação de vida na paz, então por que buscar o conflito? Há harmonia na justiça, por que não lutar por ela? Isso torna a vida mais valiosa: buscar a paz, porém, no caminho dela há a justiça. Não há paz se não houver justiça. Estamos condenados a este ciclo de contradição? Então onde está a beleza da vida?

Não há caminho sem obstáculos; Rio sem barreiras a serem vencidas ou desviadas; Alívio sem dor; Alegria sem tristeza. Até o amor tem o ódio à sua espreita. A vida é feita de contradições; é a celebração do conflito entre o ser e o não ser. Não podemos desistir ou nos desesperar por causa desse destino. Afinal, se o vivenciamos é porque estamos vivos. Desconheço a existência de um morto triste ou de alguém que ainda não nasceu alegre. Só a vida nos dá o direito de sorrir e chorar. Então choremos pelos mortos e vamos sorrir pelos que nascem. Mas, sobretudo, vamos exercer o nosso direito de sorrir e de chorar.

Por isso, amigos, se a tristeza entrar por sua porta deixe-a aberta, porque esperando, lá fora, está a alegria. Se a tristeza insistir em ficar é porque entendeu que ali era a casa dela. Aproprie-se, então, do seu espírito; Descubra um jeito de expulsar a tristeza e convide a alegria a ocupar o espaço que também lhe é de direito. Assim a vida seguirá seu caminho naturalmente.

A vida é feita de escolhas e estas desencadeiam todo o resto. Há escolhas apropriadas e há outras inadequadas. Há, ainda, a possibilidade de corrigirmos o erro. Não podemos, jamais, fugir do risco porque ele traz incertezas. O sofrimento deve ser evitado, mas não deve ser inútil. Não poderemos aprender se a lição não nos for apresentada. Devemos fugir da certeza que produziremos o mal.

Tudo que foi dito, acima, não é nenhuma novidade, mas teimamos e esquecemos que a vida é a essência da simplicidade. O caminho que ela percorre é o caminho que a natureza traçou. Claro que a convivência exigiu ajustes e a cultura providenciou. É lamentável que, o que poderia ser uma união genial, ou seja, a natureza e a cultura, transformou-se num pesadelo suicida e a vida passou a trilhar caminhos nebulosos e complicados. Mas, cá estou, lembrando: não nos deixemos cair neste universo de brilho efêmero, pois ele apaga tão rapidamente quanto o surgimento de uma nova promessa da chegada de um brilho mais intenso ainda. O brilho da vida está no simples fato de viver, e nada é capaz de ofuscar, porque somos nós mesmos as estrelas que fazem a vida cintilar.

Paulo Viana