segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Natureza e Civilização

Decidi iniciar um processo de afastamento da civilização, em seu produto geral, embora queira manter minhas relações com as pessoas.
Um dos principais produtos da civilização é a desvalorização da vida, em nome do poder e do acúmulo de bens materiais. Os veículos que mais propagam essa desvalorização são os meios de comunicação, sobretudo em seus noticiários. Por isso mesmo, não mais assisto e nem leio jornais. Certamente isso me deixará “desatualizado”, mas não me importo. Cansei de ver as mesmas tragédias; a mesma falta de ética dos políticos; o pânico anunciado, acompanhado pelas promessas de segurança das campanhas publicitárias ou de candidatos a algum cargo; a ascensão e queda dos ídolos da TV, da música ou do cinema, enfim, toda uma ideologia midiática que cria manias, desejos, ansiedades e falsas necessidades para depois apresentar a solução com a mercadoria “adequada”.
Sem dúvida, estarei a conviver com os outros como um alienígena, pois falarão sobre assuntos que desconhecerei; de produtos que não comprarei; de ídolos que não adorarei e de valores que jamais vivenciarei. Serei confundido com um ignorante e, a bem da verdade, prefiro isso a alimentar minha alma com o que a máquina terrorista dos meios de comunicação prioriza em suas informações. Não descartarei os filmes, a música, o entretenimento saudável. Não quero conteúdo filosófico – para isto existem os livros – quero conteúdo artístico; Não quero realidade distorcida pelos interesses dos donos das emissoras ou dos jornais, quero ver os avanços da tecnologia gráfica e suas inovações estéticas; Não quero assimilar valores duvidosos, mas quero entender a que propósito eles estarão servindo; Não quero exercitar minha agressividade através dos bandidos super expostos e que tanta audiência promovem; Não quero ver violência, portanto, não me perguntem sobre a guerra. Talvez responda que o pivô de todos os conflitos seja a indústria de armas.
Como a vida não se resume aos meios de comunicação, seguirei meu caminho cultivando o “bom dia”, plantando o “muito grato” e semeando o “pode passar”. Vivendo de forma simples. Elevando-me à categoria dos pássaros, das flores, das plantas, enfim, dos outros entes da Natureza, dona dos nossos destinos e portadora das notícias verdadeiras sobre nós e o mundo. Por estarmos atentos ao que os meios de comunicação dizem, não percebemos a mensagem que a todo instante a Natureza nos passa: Construam seus castelos de poder; inventem seus deuses; desenvolvam suas técnicas e sonhem com o controle da vida e da morte, mas saibam que eu tenho o controle do universo ou o descontrole do universo me tem. Não se preocupem com o juízo final, pois ninguém será punido mais do que já é pela ignorância de si mesmo.
Não quero acompanhar a civilização e seus grandes feitos. Quero purificar-me dos males que ela já me causou e ainda me causa. Quero exorcizar a culpa que se alojou em minha cabeça e que as religiões - doenças culturais quase incuráveis - potencializam com seus mártires e doutrinas. Não quero confessar-me com padres, policiais, psiquiatras ou jornalistas. Meu único confessor de total confiança é a minha consciência e ela já me perdoou. Portanto, estou livre. Seguirei meu caminho pelo céu da Natureza, desviando das armadilhas do inferno que é a civilização.

Paulo Viana

8 comentários:

Isabel Branco disse...

Paulo

De facto, somos bombardeados constantemente por insanas questões e falsos valores de civilização e civilidade de que temos que nos defender das mais variadas formas. Ora ignorando ou fazendo de conta que não vemos ou percebemos, ora lutando contra e criando estratagemas de convivência. Nenhum homem é uma ilha! Porém, todo o homem deseja sê-lo a determinado momento da vida. E a imaginação é a sua melhor arma. Assim nascem os ideologistas, os inventores, os poetas...na busca dum mundo diferente onde tudo se harmoniza segundo as regras da natureza: ser e sentir. E uma luz surge...inesperadamente!

Um beijinho.

Anônimo disse...

Oi, Isabel!
Como sempre um comentário que combina sensatez com poesia.
Muito Grato
Paulo

Anônimo disse...

olá Paulinho,

acredito que só as pessoas de espírito muito elevado e valores bem construídos tem condição de tomar decisões assim e certamente você se inclui entre eles, grupo do qual também faz parte o professor Vicente Sampaio, que deixou de lado toda e qualquer interferência "alienígena" e dedicou-se integralmente à leitura dos livros que compulsivamente adiquiriu durante a vida, certamente planejando a chegada desse momento. gostaria de um dia a ter a coragem de tomar essa decisão.
Abraços.
Fernão

Anônimo disse...

Olá, Fernão!
O Professor Vicente Sampaio, seu Pai, foi um ícone que sempre nos causou muito admiração e ainda causa. Estou muito longe do que ele foi e minhas pretensões não chegam a tanto. Mas foi um grande exemplo que, indubitavelmente, me inspira.
Você tem muito a contribuir com o que de bom essa civilização ainda produz. Portanto, ainda é cedo para essa renúncia.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

tio,

Você é um homem de muitos valores, tornando-lhe cada dia mais admirável. Adorei o texto!

um beijo

Anônimo disse...

Oi, Ana Raquel!
Muito grato pelo comentário, viu?
Tenho o privilégio de pertencer a uma família maravilhosa e você faz parte dela, além de ser muito especial, pela sua personalidade e seu jeito descolado de encarar a vida.
Um beijo

Paula Raposo disse...

Um magnífico texto!! Já estou quase aí. Televisão desconheço, jornais idem, sou ignorante, não me importo...a consciência, sim. Toda a razão.
Obrigada pelas palavras que me emocionaram no meu romãs...vou seguir-te. Beijos deste lado do oceano...

Anônimo disse...

Paula
Muito grato.
Estarei acompanhando seu romãs, sempre.
Abraços.