quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Posse

Outro dia escrevi sobre a eleição de Barack Obama e me referi a duas coisas relacionadas a ela: O preconceito embutido na supervalorização, pela imprensa e por muitos políticos, da eleição de um negro como presidente dos Estados Unidos, em detrimento da valorização do homem, como outro qualquer, que foi eleito pela sua inteligência, competência e carisma e a certeza de que ele será um presidente comum, nem melhor, nem pior, a não ser que invista na paz e nunca na guerra.
Apesar de ter me afastado dos noticiários, por motivos mencionados no texto anterior, não resisti à posse de Obama, pela TV. Não pelo glamour da festa, nem pelo fato político, ou mesmo pela importância sociológica do acontecimento. Muito mais, talvez, para tentar sentir o caráter de “especial” que poderia ter aquele momento. E eu confesso que senti.
Procurei não ouvir o relato espetaculoso dos comentaristas da TV e deixei que as imagens, embora manipuladas pelos profissionais da comunicação, conduzissem, de forma espontânea, a minha reação. A imagem da multidão teve um significado importante. Os ex-presidentes anunciados, entrando com o peso da idade e das consciências comprometidas com a indústria de armas, reativaram o meu desprezo pelo falso conceito de democracia e pelo exercício do poder com parcialidade e inescrupuloso compromisso com a permanência do status quo. Quero destacar que a entrada de Bil Clinton com a esposa Hillary foi ovacionada, fato que me chamou a atenção. Procurei entender e me lembrei do episódio da estagiária. Estaria a afirmação do macho, predador implacável, sendo premiada? Acredito que não. Talvez a ovação tenha sido para Hilary, fêmea moderna, resignada, inteligente e importante membro do governo “revolucionário” de Obama.
Quando o Bush Júnior foi anunciado, até os comentaristas - essa eu ouvi - ficaram na expectativa de uma vaia. Na verdade houve um silêncio, que eu entendi como reprovação. Aqui no Brasil seria diferente. Talvez ouvíssemos uma sonora e afinada vaia, e não seria falta de educação não. Seria a expressão sincera do descontentamento, pois brasileiro não é falso. Não vaiar a invasão do Iraque? Quem os Estados Unidos pensam que são para interferir na autonomia dos outros Países? Ah, sim, é pelo petróleo. Á vida humana não pode ser mais importante do que o ouro negro. Difícil fugir da ironia.
Uma imagem salvou o tempo que eu estava perdendo ao ver aquele espetáculo: O sorriso das duas filhas do presidente eleito. Essa me emocionou. Aquelas meninas, morenas, filhas do presidente dos Estados Unidos! Não eram as lourinhas de sempre; Não eram as aristocráticas, descendentes de irlandeses, oriundas das famílias ricas de industriais; Eram elas e foi por elas que eu me emocionei. Pelo sentido que isso terá em suas auto-estimas; Pela força que se instalou em seus corações e em suas perspectivas de vida; Pela renovação da fé no que os sonhos podem oferecer a todas as pessoas, independendo da cor ou da raça; Pela quebra do estigma, carregado por séculos, ainda muito presente no Pai; Pelos descendentes delas, que estarão na verdadeira esteira das igualdades raciais, onde não caberá mais a hipocrisia e onde estará restabelecido o sentido de humanidade, distorcido pelo Catolicismo e pelos Aristocratas do imperialismo. Por acreditar nisto eu me emocionei e vi o quanto o momento era especial. Isto me bastou para mudar de canal, porque eu sabia que nenhum discurso ou imagem poderia trazer maior emoção do que aquela.

Paulo Viana

8 comentários:

Lícia Viana Bezerra disse...

Estou emocianada com seu texto, lindo, primoroso, tocante. beijos com admiração

Anônimo disse...

Pois é eu também me emocionei, me remeti a aquele momento que vivi na esplanada dos Ministérios em Janeiro de 2003,a esperança de um povo, lá não estava um negro, mas um nordestino de origem pobre. Me emocionei pelo carisma do casal, pelas filhas, pela primeira sogra, pela esperança do povo pobre americano e pelos temas tocados no curto discurso, discriminação racial, guerras e outros. Quanto aos aplausos para o casal Clinton, eu concordo com vc que o mérito pode ser dela, pela sabedoria ao lidar com a execração pública no caso da infidelidade do marido e por hoje ser a figura de expressão política, entre o casal.

Anônimo disse...

Licinha,
Valeu! Isso me estimula a escrever mais.
Beijo

Anônimo disse...

Oi, Tereza!
Que maravilha você aqui no Blog!
Você estava mais aberta às emoções do que eu. Mas os pontos que você citou são importantes também. Merecem o destaque dado.
Quanto ao Lula, já comentei aqui no Blog: Minha admiração pela pessoa dele continua. O governante...bem...você sabe que governar é ter que administrar interesses contraditórios e forças que superam os ideais de qualquer líder.
Beijo! Comente mais.

Ronilda disse...

Paulin, te ler é uma viagem emocionante e cheia de descobertas...
Pena que você não tenha ficado até o final do discurso, quando a pequena obaminha, levanta o dedo de "positivo" - numa cumplicidade com o pai maravilhosa.
Vamos esperar que novos ventos tragam melhores agendas para o mundo e para o Brasil. Sou uma otimista inveterada - estou sempre acreditando que o ser humano tem jeito. bj

Anônimo disse...

Realmente, Ronilda, seria mais uma imagem que iria me emocionar. Só em você falar(escrever) já deu um sinal.
Um beijo.

Paula Raposo disse...

Sem palavras...já está tudo dito no teu post! Muitos beijos.

Anônimo disse...

Paula Raposo
Muito grato, pela visita e pelo comentário. Espero vê-la outras vezes aqui. Serei um visistante frequente do seu Blog, assim como sou da Isabel e da Minda. Virei fã das poetisas portuguesas.
Um abraço.