terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Democracia, Capitalismo e Crise

Não gosto de escrever sobre determinados assuntos porque eles têm o vício da informação comprometida, do interesse das fontes de onde colhemos dados para elaboração da nossa abordagem e do relativismo que devemos observar no acontecimento.
Peguemos, por exemplo, a política. Inicialmente temos que lembrar que a política tem suas próprias regras e seu objeto único e bem definido é o poder. As leis, por sua vez, se submetem às intenções dos políticos, pois se estiverem atrapalhando os interesses destes são modificadas. Assim, até as leis não são respeitadas pelas regras da política.
É claro que a política cria mecanismos que fazem parecer que suas regras atendem aos apelos da justiça. Neste sentido, conceitos como “Democracia” são sistematicamente mencionados e, em seu conteúdo, os interesses do capital são preservados, as sobras dos lucros absurdos distribuídas e um convincente aparelho conceitual reafirmado através de expressões como desenvolvimento, crescimento econômico, geração de empregos e intervenção positiva do Estado.
Hoje, de forma engajada e atuante, existe um terceiro setor, que, quando não envolvido no emaranhado jogo da corrupção, consegue influenciar um pouco e mudanças ocorrem nas relações entre indivíduo e Estado, ou mesmo entre minorias e políticas públicas.
Não podemos, no entanto, é desvincular política de economia. Por isso, me parece ridículo, e até patético, um País, que se proclama berço da democracia, casa da livre iniciativa, exemplo de “sucesso” do capitalismo, se deixar apanhar por um erro gerado pela simples falta de confiança, pois as regras não contavam com o descuido, a megalomania e o amor ao consumismo de alguns “homens de bem” e “instituições sérias.” Não bastasse essa fragilidade localizada, tais irresponsabilidades deixaram claramente transparecer o quanto a globalização é prejudicial aos mais fracos e desprovidos de reservas. Ou seja, por causa de um americano que tem vontade de ter uma casa maior do que seu dinheiro poderia pagar, um brasileiro pobre, sem emprego e sem onde morar, perde a oportunidade de ter sua casa construída através de um justo programa habitacional, de uma política pública que, ao invés de facilitar o investimento no sistema financeiro, atua para que a vida das pessoas melhore e o mundo se torne menos injusto. Destaque-se, portanto, que a tal crise é na realidade uma crise da civilização humana; agravada pelo desvirtuamento de suas prioridades e pela supremacia do egoísmo, em detrimento das relações fundamentadas no pacto da justiça, do bem-estar de todos e da solidariedade. Bem, não custa sonhar com um ser humano assim.
Sei bem que os fatos não são simples como fiz parecer que eram. Estes assuntos de economia são muito mais complexos e, não sendo economista, não me arvorarei em querer aprofundá-los. Quero apenas mostrar que a ideologia do capitalismo é um engodo e a democracia é a máscara pacífica, funcional e eficaz, para que as grandes massas se conformem e atravessem a vida esperando que Deus dê um jeito. Por outro lado, não estou pregando a revolução armada, não quero que pessoas morram. É porque olho para o nosso Planeta como se estivesse sentado na lua e “daqui” é de impressionar a combinação da ingenuidade da grande maioria com a esperteza de uns poucos. Também, não é por menos, esses poucos contam com a obediência de homens bem armados, que são capazes de matar para defendê-los e seus bens. Sem contar com o poderoso freio moral imposto a mais de dois mil anos pela mitologia do herói, salvador, que humildemente deu sua vida para “salvar” a humanidade.
O mais curioso é saber que o “grande” homo sapiens, inteligente, racional, perspicaz e dominador da natureza, não tenha conseguido descobrir um jeito de viver organizado sem necessitar de uma escala hierárquica e uma estrutura de poder, onde uns são menos importantes do que outros e, por isso, têm qualidade de vida inferior. Será que não existe alternativa? Não quero pensar, novamente, que a humanidade não tem solução e que o mundo seria sem graça se houvesse igualdade material e de oportunidade.
Paulo Viana

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O Cinturão Fotônico

Algumas interpretações das profecias anunciam para 2012 o fenômeno da entrada do sol no cinturão fotônico. Trata-se da passagem do sol pelo centro da galáxia . As conseqüências previstas são assustadoras, pois inúmeras tragédias poderão acontecer. Por outro lado, fala-se em desdobramentos positivos no comportamento dos humanos, que sobrarem, naturalmente. Esse tipo de notícia não aparece na mídia, certamente para não causar pânico, afinal pode ser o fim da nossa raça.
Digamos que seja verdade. Temos, portanto, apenas quatro anos para realizar todos os nossos desejos. Eu já enumerei três: Quero...este não vou poder realizar, não tenho dinheiro suficiente; Então vou...este não depende só de mim, necessito do consentimento de outras pessoas; Resta-me o terceiro que é...nem este vou poder realizar.
Meus três principais desejos não vou poder realizar, mas alguns, não menos importantes, estarão diariamente na minha concentração para que se afirmem positivamente. Dentre eles posso citar: O bem-estar dos meus familiares e amigos; A paz no mundo; O respeito à Natureza e uma trégua desta em sua reação aos ataques que já lhe fizeram; O equilíbrio material entre as pessoas e saúde para todos.
Alguém poderá perguntar: para que tudo isso se o mundo vai acabar? Primeiro, não acredito que o mundo vá acabar, nem em 2012 e nem daqui a mil anos. Depois, desejarmos coisas boas só fará o mundo ficar melhor, cada vez mais, principalmente se fizermos a nossa parte.
Mas... que desejos seriam tão mais importantes do que os citados? Não precisamos saber. Precisamos não perder a esperança de que o ser humano poderá ser melhor; que a paz é possível; que um dia não haverá pobreza e fome; que a natureza será respeitada; que a vida ainda nos revelará segredos que nos tornarão mais confiantes, aliviarão o sofrimento e nos farão acreditar que o nosso Planeta é apenas um estágio para uma vida mais elevada, seja lá onde for e de que forma seja.
Temo, no entanto, que a ignorância, a arrogância e a insensibilidade vençam e que não tenhamos tempo para que isto seja vivenciado, pois o mundo poderá continuar existindo sem que haja seres humanos vivos. E assim, tendo permanecido os equipamentos eletrônicos em condições de uso quem escutará música? Quem assistirá filmes? Quem apreciará as flores, se restarem algumas? O que será do mundo sem nós, humanos, para ver a beleza? Em que corações o amor se instalará? Deus será um artista sem platéia.

Paulo Viana

sábado, 29 de novembro de 2008

Utopias


Duas grandes decepções marcaram a minha vida: a farsa das Religiões e sua manipulação do potencial espiritual das pessoas, num pacto com o Estado, em que este conservaria o poder com a aquiescência do comportamento baseado na moral do bem, baixada através dos mandamentos, e a impraticabilidade da filosofia marxista, por ter como agente da sua práxis o ser humano, animal egoísta e sujeito a intempéries emocionais, ávido de auto-afirmação, desvirtuado em sua formação por uma educação onde a grande virtude é o acúmulo de bens materiais. Quero deixar bem claro a diferença entre Religião e Espiritualidade. Religião, segundo o dicionário, é o conjunto de crenças, de dogmas que definem as relações do homem com o sagrado. Espiritualidade é a qualidade do que é Espiritual, ou seja, o incorpóreo, o imaterial.
Não seria absurdo assinalar que um imenso vazio se instalou em meu espírito, com a decadência das ideologias para as quais fomos treinados por toda a vida. Mas, não sou o único. Muitos adultos vivem este mesmo dilema e buscam, incessantemente, um modo de se estabilizar. Modos que passam pelo consumo desvairado e pelo apego ao passado, quando não mergulham no mundo virtual ou abraçam valores não ocidentais.
O que me preocupa mesmo é o “amadurecimento” dos jovens num contexto amoral , numa perspectiva de ociosidade, em face do desenvolvimento dos meios de produção, que aumenta o desemprego e onde o mercado de trabalho é saturado pela grande oferta de profissionais liberais, embora saibamos que há um déficit na capacitação técnica, principalmente em países como o nosso.
Mesmo assim, há um horizonte delineado em que se configura o fim do sonho impossível, o desmoronamento daquele castelo que nos estimulava a lutar: a utopia. Sem contar com o anti-romantismo e o crepúsculo do heroísmo.
Os jovens, enquanto estão entretidos pela maravilhosa oferta de bugigangas tecnológicas, que ficam cada vez mais acessíveis até a quem tem baixo poder aquisitivo, e apegados a seus ídolos musicais, desportistas ou do cinema e da televisão, não sofrerão com a falta de sentido. Quando adultos, pisarão num chão de fina película, carregarão um peito vazio que, certamente, continuarão preenchendo com valores de sua juventude. Mas chegará o momento que, ao vislumbrar o caminho que ainda terão que percorrer, enxergarão uma estrada deserta. Claro que aqueles ainda abraçados às utopias, ingênuos depositários da esperteza dos maliciosos homens do poder, viverão felizes em sua ignorância, certos de que terão os manjares e as virgens que lhes aguardam no céu.
O que fazer? Insisto em dizer que a única utopia que vale a pena é a busca do auto-conhecimento e a prática dos nossos próprios valores éticos. No primeiro caso, somos nós o objeto a quem nos apegaremos; no segundo caso, mesmo sem a aprovação dos que só pensam em si, nos apegaremos à luta pela honestidade, pela defesa da natureza e pelo bem-estar do outro. Afinal, a utopia é uma prerrogativa do sonho humano; é o que dá sentido a essa impressionante experiência que é a vida. Por isso, quando morre uma, outra já se apresenta, para que não morramos com os nossos sonhos.

Paulo Viana

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Humanidade e Novos Universos

Novas teorias afirmam que o mundo sub-atômico não é pontual e sim em forma de cordas.Quem diria que a imensidão do universo fosse feita de pequeníssimas cordas que, vibrando em várias freqüências, produzem tudo? Esse mesmo universo, no momento em expansão, por causa do Big Bang, poderá parar de se expandir e o processo se inverter, o que provocará o Big Crunch, quando todas as galáxias se juntarão e o mundo voltará a ter o tamanho de uma bola de basquete. Explodindo em seguida e voltando a se expandir.
Esse processo contínuo de sístole e diástole sempre existiu? Será que o destino do universo é se contrair e se expandir sempre? Nós jamais saberemos a resposta, mas teimamos em especular e canalizamos pesquisas e tempo para buscar uma teoria que expresse a verdade sobre isso.
Digamos que seja verdade. Então o mundo se acabará e vai recomeçar. Como será essa nova versão? Será que as transformações que deverão ocorrer levarão ao surgimento da vida, novamente? E se surgir, o ser humano aparecerá? E como será esse novo ser humano? Pena que ele não lembrará da passagem atual pelo mundo. Se lembrasse poderia evitar uma série de coisas absurdas que tem feito. Saberia que na natureza existem bactérias, vírus e outros causadores de doenças, mas que existem plantas e minerais que as curam; Saberia que a ganância e a ocupação do Planeta de forma irracional destroem as condições de vida, causam guerras e provocam a miséria e o sofrimento; Saberia que a boa relação com a espiritualidade e o misticismo se transformaria em mercadoria; Saberia que os alimentos artificiais são os principais causadores de doenças; Saberia que os esportes e as artes são atividades humanas puras, que deveriam ser incentivadas para todas as pessoas; Saberia que os pássaros não devem ser assassinados nem aprisionados; Saberia que a Política tem seu estímulo próprio que é a vontade de poder; Saberia que as leis reproduzem interesses e não são princípios absolutos. E muitas outras coisas.
Como seria esse ser humano não ganancioso, artista, esportista, espiritualizado de forma direta, sem os intermediários, com uma alimentação saudável, deixando a natureza livre de sua intervenção criminosa e procurando as respostas dos seus problemas na própria natureza, com cautela e respeito?
É inevitável admitir que não poderia existir a arte, a ciência, as injustiças, as contradições se não existisse a vontade de poder, a ganância, o desejo e outros atributos humanos, portanto o ser humano que existe hoje é o único possível. Talvez ele pudesse ser melhorado um pouquinho, mas mesmo assim não evitaria as guerras e a busca do prazer imediato. Talvez seja verdade que a humanidade não tem solução.
Se a vida no Planeta surgiu ao acaso, foi trazida de galáxias longínquas ou foi criada por forças superiores nós jamais teremos certeza, mas que a experiência foi muita rica em erros, isso foi. Mas uma verdade temos que aceitar: qualquer ser humano, em qualquer versão do universo, tem que ter a capacidade de amar, sem paixão, sem posse, sem projeção psicológica e sem querer algo em troca

Sestor Azimbara

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Preconceito Branco

A eleição de Obama para a Casa Branca certamente será a notícia do ano. Uma notícia que povoou os órgãos de imprensa recheada de hipocrisia e preconceito. O pior preconceito de todos é justamente aquele em que se destaca a cor da pele para ampliar a importância do acontecimento. Por que dar tanto destaque à eleição do presidente dos Estados Unidos? Ele não é um homem como outro qualquer?
A verdade é que a hipócrita formação cristã, implícita na ideologia da grande imprensa, aponta a eleição de Obama como um sinal de que a humanidade está melhor e que está se redimindo dos pecados absurdos cometidos ao longo da história. Creio, no entanto, que considerar a eleição um fato especial só faz reafirmar o preconceito e tira o mérito do homem inteligente, carismático e competente.
Infelizmente ainda demorará muito tempo para que os preconceitos desapareçam das relações entre as pessoas. É uma faceta que caracteriza o ser humano. O preconceito contra os negros é uma marca da igreja católica, que, para diminuir a força das religiões africanas e avalizar a escravidão, disse que os negros não tinham alma.
O novo presidente dos Estados Unidos não passa de um presidente como outro qualquer. Não será nem melhor nem pior para a humanidade. E poderá ser melhor se gastar verbas com a paz e não com a guerra. Mas teremos que ver na prática. Chega de hipocrisia e de quererem tirar proveito politicamente, em todo o mundo, celebrando esta eleição como a recuperação da ética humanista perdida.