Eu tinha nove anos e gostava de folhear a Revista o Cruzeiro, a mais importante da época. Ficava encantado com o universo apresentado naquelas páginas coloridas, onde artistas da Jovem Guarda eram mostrados com seus carrões e público delirante.
Em uma dessas revistas, despertou-me a atenção uma reportagem em preto e branco sobre a morte de um estudante, assassinado pela polícia. O nome dele, creio que muitos brasileiros saibam, era Edson Luís. O clima era de comoção nacional.
Na minha perplexidade pueril, jamais imaginei que aquele rapaz tinha sido morto porque estava reivindicando o direito ao voto, à liberdade de expressão, inclusive artística, e o cessar dos absurdos nos porões dos quartéis, onde eram torturados homens e mulheres, enquanto outros eram jogados de aviões no mar.
A partir daquele ano, as atrocidades cometidas em milhares de brasileiros se tornaram banais. Bastava você se manifestar sobre política, com mais alguns, que você era preso, torturado e obrigado a dizer quem eram os líderes e onde eles estavam.
O presidente era nomeado e tinha que ser General. Os artistas eram presos ou mandados para fora do País. Filmes, Peças de Teatro, Músicas, Poesia e outras manifestações eram impedidas de serem veiculadas, pois existia um serviço de censura que “analisava” os textos e colocava um carimbo enorme: CENSURADO. Notícias questionando o governo? Nem pensar.
Os grandes meios de comunicação, como Globo, Estadão, Folha de São Paulo e outros chamavam a ditadura de revolução. O PC do B era clandestino e seus militantes eram presos, como se fossem bandidos de altíssima periculosidade. Seus familiares, sem compreender o que estava acontecendo, perguntavam para onde os levariam. Muitos não tinham resposta e nem mais notícia deles.
Hoje, me reencontro com aquela realidade, através da candidata Dilma, sendo que, na época, ela era uma das vítimas das barbaridades do regime ditatorial, porque tem nas veias o sangue latino, que não engole injustiça, falta de democracia e de liberdade e, sobretudo, não entrega seus parceiros de luta, mesmo sob forte tortura. Mas o que me impressiona é a imensa contradição entre o direito adquirido, através da luta, do sofrimento e do idealismo, de pessoas como a Dilma, ao voto para Presidente da República e a caçada cruel, preconceituosa, mentirosa e implacável que, não só a imprensa, mas muitas pessoas fazem em relação a ela, porque foi indicada, democraticamente, como candidata à presidência.
Fico me perguntando: Qual é o pior? Ser vítima de um regime ditatorial, porque luta pela liberdade ou ser vítima de uma série de mentiras, que fomentam o preconceito e a descrença nos verdadeiros ideais democráticos?
Todos têm direito a escolher em quem vai votar, porém, todos têm o dever de conhecer bem os candidatos, sua história e as suas propostas, sem desenvolver preconceitos. Todos têm o dever de avaliar as políticas implementadas pelos partidos que estão na disputa e ver quem realizou mais. Eu já fiz isto e seria suficiente para fundamentar minha decisão, mas é em nome daquela criança de nove anos que folheou incrédula as páginas da revista O Cruzeiro e viu milhares de pessoas em volta do caixão de Edson Luís, que declaro meu voto à Dilma. Assim terá valido a pena a minha perplexidade infantil.
Paulo Viana
7 comentários:
recebi um e-mail da minha prima Klebia Fiuza sobre seu texto, vim aqui para conferir,
Muito bom.
também voto na Dilma
rsrsrrsrs
Paulin querido, também votei e votarei em Dilma. Seu texto merece ser divulgado e lido por muitos. Sua lembrança de infância também povoa meus pensamentos. Lembro bem da época de repressão, do medo de pensar diferente, da censura, do desaparecimento e morte de jornalistas e militantes da causa. Lembro dos arremedos de presidentes que tivemos, das derrotas que sofremos nas candidaturas de Lula e principalmente do DESGOVERNO FHC!!! Por tudo isso e por considerar o nosso Presidente Lula uma das pessoas mais inteligentes e competentes do mundo, É CLARO QUE VOTO DILMA.
Olá, Magnólia.
Para mim sua visita é um prazer. Seja sempre bem-vinda e volte sempre.
Obrigado pelo comentários.
Ronilda,
É uma pena que muita gente tenha acreditado nas mentiras veiculadas nos meios de comunicação que não tiveram privilégios no governo Lula.
Mesmo assim, não será desta vez que o tucanos os demoníacos vão voltar ao poder.
Abraços.
Paulo Viana.
Esse seu texto eu já copiei e com sua permissão publicarei em nosso blog OCDC- Organização Cultural de Defeza da Cidadania. Também tive um amigo no partidão, torturado pelo regime militar, ele da Chapada do Araripe eu de Várzea Alegre. Genésio Homem de Oliveira o Rabote, preso por dois anos no presídeo Tiradentes. Genésio era quem consolava seus companheiros de cela com suas piados bem elaboradas tiradas diretamente de sua "Cachola". Na prisão esteve com pessoas de peso, tais como: Frei Beto, Frei Tito e Roberto Romano, entre outros. Quem teve um amigo ou parente morto, preso, torturado ou perceguido pelo regime militar não aceita essa baixaria que a campanha do Serra faz contra a Dilma. Se ele diz que foi um exilado político, deveria respeitar a história de sua adversária.
Parabens Paulo pela materia sobre a DILMA, me senti lendo a tal Revista... voltei a minha infância em Varzea Alegra.
Rosangela Andrade
Francisco,
Eles querem o poder a qualquer preço.
Obrigado por divulgar meu texto.
Abraços!
Rosângela Andrade,
Que bom você ter visitado e comentado meu Blog. Volte sempre, para mim e uma grande satisfação.
Abraços.
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