O vento cobriu displicentemente seus olhos verdes e a mão buscou um movimento de recomposição da elegância e da perfeição do penteado. O corpo girou evitando que aquele fenômeno insistisse em desgrenhar seus cabelos. A outra mão segurou o vestido para que a exposição não fosse mais íntima. A praça inteira, em seus transeuntes femininos e masculinos, olhou aquele corpo movimentando-se em nome do pudor, do charme e da discrição.
Ao contrário dos outros, ele tirou o olhar dela e voltou-se para todos que a olhavam e sentiu um peso em seu peito por achar que lhe roubavam o direito de sozinho apreciar aquela expressão de uma estética que a natureza não distribuiu tão democraticamente. Parado, no meio da praça, relaxou por perceber que o tempo seguira seus desígnios e cada uma daquelas pessoas voltou-se para seu próprio mundo e esqueceu a moça. Senti-a como dele, não por ser ela mas por ser tão bela. Entendia que sua alma de poeta era a única capaz de enxergar, sentir e dizer, em versos curtos e densos, o quanto admirava a beleza e como ela se vestiu de mulher naquele exemplar de ser humano.
Após tê-la encontrado nesse mesmo caminho, que a fazia cruzar a praça, sentava, toda tarde, a partir das quatro horas no mesmo banco e deixava seus olhos deslizarem naquele caminhar, curioso por saber que alma teria sido contemplada com corpo tão escultural e rosto tão bonito. Não teria coragem de abordá-la para conhecê-la. Por que faria isso? O que diria? Que era poeta e estava deslumbrado com tanta beleza? Que ela se tornara a principal fonte de inspiração para seus versos? Que espécie de maluco faria uma coisa assim? Certamente ela chamaria a polícia e diria que um tarado a perseguia.
Há momentos em que desejamos ser príncipes, ricos, irresistíveis para chamar a atenção de mulheres como ela. Mas se o fôssemos não seríamos poetas e o desejo não teria as raízes fincadas no amor, somente na conquista. E por estarmos a altura dela, em termos de atributos físicos, não seria a conquista tão valiosa. Este dilema acrescentava uma pequena angústia ao seu cotidiano, ao deitar-se e rever as imagens do dia, na praça. Ele a via como um poema feito mulher, os outros a viam como uma mulher desejada. Um poema arrasta de dentro do poeta suas noites, suas emoções, sua infância, seus medos, suas paixões, suas alegrias, suas dores. Aquela mulher já estava roubando seu tempo, também. Era um poema que se reescrevia diariamente, a cada dia com mais força, mais emoção, mais desejo, mais paixão, mais sofrimento, mais alegria. E ele se deixava inundar por aquelas águas turvas de incertezas que é a vida apaixonada, principalmente quando vivida unilateralmente.
Naquela noite decidiu abordá-la, quando seus passos o desafiassem novamente. Pensaria em algo para perguntar. Talvez num sonho, mensagem sábia da natureza, surgisse a maneira infalível de abordagem, sem traumas, sem constrangimento; talvez uma idéia brotasse ao acordar. Adormeceu convencido que o dia havia chegado e só faltava uma boa desculpa para, finalmente, ouvir a voz e saber o nome daquela tortura feminina que lhe tirava o sono e lhe arrancava os versos.
Este conto é de minha autoria e terá sua continuidade publicada nos próximos dias.
Ao contrário dos outros, ele tirou o olhar dela e voltou-se para todos que a olhavam e sentiu um peso em seu peito por achar que lhe roubavam o direito de sozinho apreciar aquela expressão de uma estética que a natureza não distribuiu tão democraticamente. Parado, no meio da praça, relaxou por perceber que o tempo seguira seus desígnios e cada uma daquelas pessoas voltou-se para seu próprio mundo e esqueceu a moça. Senti-a como dele, não por ser ela mas por ser tão bela. Entendia que sua alma de poeta era a única capaz de enxergar, sentir e dizer, em versos curtos e densos, o quanto admirava a beleza e como ela se vestiu de mulher naquele exemplar de ser humano.
Após tê-la encontrado nesse mesmo caminho, que a fazia cruzar a praça, sentava, toda tarde, a partir das quatro horas no mesmo banco e deixava seus olhos deslizarem naquele caminhar, curioso por saber que alma teria sido contemplada com corpo tão escultural e rosto tão bonito. Não teria coragem de abordá-la para conhecê-la. Por que faria isso? O que diria? Que era poeta e estava deslumbrado com tanta beleza? Que ela se tornara a principal fonte de inspiração para seus versos? Que espécie de maluco faria uma coisa assim? Certamente ela chamaria a polícia e diria que um tarado a perseguia.
Há momentos em que desejamos ser príncipes, ricos, irresistíveis para chamar a atenção de mulheres como ela. Mas se o fôssemos não seríamos poetas e o desejo não teria as raízes fincadas no amor, somente na conquista. E por estarmos a altura dela, em termos de atributos físicos, não seria a conquista tão valiosa. Este dilema acrescentava uma pequena angústia ao seu cotidiano, ao deitar-se e rever as imagens do dia, na praça. Ele a via como um poema feito mulher, os outros a viam como uma mulher desejada. Um poema arrasta de dentro do poeta suas noites, suas emoções, sua infância, seus medos, suas paixões, suas alegrias, suas dores. Aquela mulher já estava roubando seu tempo, também. Era um poema que se reescrevia diariamente, a cada dia com mais força, mais emoção, mais desejo, mais paixão, mais sofrimento, mais alegria. E ele se deixava inundar por aquelas águas turvas de incertezas que é a vida apaixonada, principalmente quando vivida unilateralmente.
Naquela noite decidiu abordá-la, quando seus passos o desafiassem novamente. Pensaria em algo para perguntar. Talvez num sonho, mensagem sábia da natureza, surgisse a maneira infalível de abordagem, sem traumas, sem constrangimento; talvez uma idéia brotasse ao acordar. Adormeceu convencido que o dia havia chegado e só faltava uma boa desculpa para, finalmente, ouvir a voz e saber o nome daquela tortura feminina que lhe tirava o sono e lhe arrancava os versos.
Este conto é de minha autoria e terá sua continuidade publicada nos próximos dias.
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