Quando me enxerguei naquela imensidão estranha
Como se fosse um ser distinto e privilegiado
Pensei ter descoberto a eternidade, o infinito gozo do viver
E me fortaleci na pedra e no poder das mãos
Arrancando pedaços do ser e jogando na construção da minha individualidade
Reconstruindo a alma, agora frágil e suscetível alma
Devastando a vida ao meu redor, por entender-me como a vida maior
Com o olhar petrificado no horizonte infindo
Mas eis que o vulnerável templo se desfez no outro
E vermes invisíveis o fizeram pó
Meu destino ficou claro e o olhar viu a angústia e a efemeridade de ser e estar
E a presença do não ser me fez obsessivo, buscando o ser eterno
E ainda quero e faço-me ciente e ciência disso
A força inerente da vida me fez abraçar o desafio
Antes que caia o último meteoro
Antes que hecatombes destruam a última combinação de carbono
Nem que me reste somente a última molécula de ar puro
Que haja sucumbido toda a beleza e todos os outros seres
Com minhas mãos e o pensamento buscarei a eternidade
Pois me dei o direito de assumir o papel de Deus
Da criatura forjada no medo, que criei e agora descarto
Pois já não creio mais na sutileza e permanência do espírito
Sou eu o senhor do destino
Sou eu que vagueio entre o herói e o ridículo
Paulo Viana
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