Com que roupa vestirei minha alma?
Uma alma sem ilusões é uma alma
nua. A verdade é que não dá para viver sob a tirania
implacável da realidade todo o tempo.
Temos que eleger uma ilusão para movimentar nosso apego, para estimular
a caminhada. Porque, se não for a expectativa de vencer, de se destacar em
termos pessoais, na vivência social, material ou no reconhecimento público da
evolução e do status, seja financeiro ou intelectual, sentiremos o vazio de não
corroborar com os interesses e os anseios que a sociedade cria na perspectiva
de manter seus valores e os fundamentos do sistema que associa o homem ao que
ele tem como propriedade.
Há uma escala de valores a serem
conquistados que coincide com o acúmulo de bens materiais e com a evolução
intelectual. A ilusão se manifesta no sentido de classificar essas conquistas
como reais, anunciando seu desenvolvimento vertical enquanto ser humano, o que não é
verdade. Para a sociedade, que tanto valoriza isso, é um fato, mas para o ser
humano, como individualidade espiritual, não acrescenta nada. Pelo contrário,
muitos homens se tornam arrogantes e pobres espiritualmente depois que
conquistam um milhão de dólares ou um doutorado.
A sociedade não valoriza,
efetivamente, as virtudes, porque os meios não são importantes tanto quanto o
são os fins. Interessa mais atingir as metas de mobilização social do que os
métodos usados para lá chegar. Contudo, não quero dizer que a prática das virtudes
de forma radical, apesar de ser a ilusão eticamente correta, seja a ideal para
se buscar. Não é possível conviver todo o tempo com os extremos, quando se
trata da raça humana.
Temos, portanto, uma sociedade que
valoriza duas principais ilusões: Os títulos e as propriedades. Ao mesmo tempo,
não considera que os meios para atingi-los sejam tão importantes, o que nos
leva a concluir que virtudes não são relevantes no processo de convivência
social.
E com que ilusão deveríamos vestir a
nossa alma? Se renegarmos as ilusões acima apresentadas o que nos vai sobrar?
Para os artistas e os desportistas, que para mim são conquistadores autênticos,
pois tratam de superação individual e real, a glória é a ilusão merecida.
Viverá com os louros até o fim da vida e deixará sua marca para os que vierem
depois. E os que não são artistas, nem
desportistas, ou jamais ganharão um milhão de dólares ou chegarão ao doutorado?
Terão que cultivar as ilusões religiosas. Doutrinas que limitam e, algumas,
conduzidas muitas vezes por homens inescrupulosos, entidades que visam o poder
e o dinheiro e outras que não passam de quadrilhas organizadas para explorar a
ingenuidade e a carência espiritual das pessoas.
Chegamos a um grande impasse: Se a alma
sem ilusões está nua, com qual ilusão deveremos vesti-la? A minha alma, tenho
tentado vestir com a ilusão do autoconhecimento. Ela me dá a oportunidade de
evoluir espiritualmente, sem, necessariamente, ter que venerar uma entidade ou
um conjunto de normas para o comportamento, que não é seguido pelos
doutrinadores. Se será uma ilusão sempre, sem nenhuma perspectiva de se
realizar, não sei, mas que, para mim, é a única que me faz sentir-se com a alma
vestida, é.
Paulo Viana
3 comentários:
Profunda reflexão! Concordo e me identifico.
Obrigado, Luciana, pelo comentário e pela visita.
Que linda reflexão! Talvez o verdadeiro caminho da LIBERDADE se encontre nestas palavras. Parabéns.Iris Glaucia
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