domingo, 1 de maio de 2011

Aurora e Crepúsculo

O tempo inaugura a primeira solidão

O nó é desfeito

Há uma atmosfera de inocência

De pureza, de bondade

O cenário é divinal

Mas logo se estabelece a segunda solidão

Eis que surge o outro

A inevitável e imprescindível mão que recebe

O inesperado assombro do “não si mesmo”

A poeira do sacrifício, da dor, da vivência

O mundo se disfarça de amor e o sexo de alimento

Não importa nenhuma tragédia freudiana

As forças naturais, viçosas, promissoras aos poucos recuam

Se institui o ódio, pois já não há mais pureza

O amor protege, o alimento excita o animal

O que estava moldado reinventa-se no prazer e na dor

O desejo é maculado, nutrido pelo contato entre a suavidade e a rigidez

Uma vez que o desejo fica no vazio a rejeição o preenche

Feito um punhal impiedoso, o não fere mortalmente o sim da vontade

Mas a força da alma vem de uma incomensurável necessidade

Forjada no ventre sagrado do inexplicável

O caloroso e blindado sim das entranhas

E a estética proteica faz a travessia

Do aconchego natural para as missões perversas

No dia e na noite, no deserto ou na miscelânea de luzes e sons

Hércules, Prometeu, Jasão

Todos os heróis, sob ameaça permanente, se põem de guarda

O outro, com armadilhas, molda a covardia ou o triunfo

Há os que quedam pelo caminho, mas há, também, os que vingam

E o uno se aventura no desafio de mudar e ser sempre o mesmo

Chega, por fim, sua terceira e última solidão

Paulo Viana

2 comentários:

Fideralina disse...

Paulo Viana, desculpe a intromissão, é que amo seus poemas e aplaudo seu estilo. Sou fão de POESIAS. Arranho um pouco sem que observe a Literatura. Faço porque gosto e tento jogar alguma coisa.
Amei "Aurora e Crepúsculo".
Fideralina.

Paulo Viana disse...

Cara amiga,
Sua "intromissão" muito me honra. Fico feliz com sua visita e espero que volte sempre.
Agradeço seu comentário gentil.
Grande abraço.