É simples e agradável caminhar por entre as árvores, respirando um ar quase sem monóxido de carbono, ouvindo as melodias esparsas dos cânticos dos passarinhos, com o vento roçando nas folhas e trazendo a atmosfera do inverno. É bom sentir os primeiros raios do sol, sob um céu infinitamente azul e nuvens branquíssimas em contornos fugidios, adornando a nossa imaginação.
Aqui, nestas montanhas, onde a exuberância do verde resiste à avidez inesgotável dos homens de apropriar-se da natureza, há sinais inconfundíveis de vida legítima, sem os atropelos estressantes das metrópoles, sem os incompreensíveis anseios hedonistas e o desejo incomensurável de destacar-se pelo acúmulo de propriedades. Apenas a vida, simples e profundamente envolta na sabedoria do pensar em estratégias de exercer a destreza, a inteligência, a capacidade de construir, sem, no entanto, destruir as condições de existência.
Nestas terras, onde vivem plantas e aves, que tão belamente nos acompanham nessa maravilhosa experiência que é viver, sinto-me sob um encanto que, ao contrário de parecer primitivo, nos remete à última aventura dos seres humanos que é idealizar um paraíso para edificar a sua morada.
Neste esplendoroso oásis de esperança, onde espécies ameaçadas se escondem bravamente, com receio de enfrentar a psicopatia da nossa espécie, tão paradoxalmente marcada pela engenhosidade, inteligência e acúmulo de conhecimentos, confrontados com a falta de critério e o desmando na condução do seu processo evolutivo, causando males irreversíveis à sua morada, ainda percebo o quanto é belo o mundo e a vida.
Salve a arte e a ciência que cura, porque elas evitaram que a civilização humana se transformasse em um fracasso total.
Seria bom se pudéssemos recomeçar, conscientes dos males que a revolução industrial causou, que o desmatamento generalizado provocou e as consequência da ganância pelo lucro e pelo prazer imediato. Talvez, com toda a nossa criatividade, conseguíssemos viver respeitando o mundo natural e construindo uma civilização menos irracional. Descobrindo, principalmente, que a Natureza tem as resposta para todos os problemas que ela mesma causa.
Infelizmente não é possível recomeçar, mas é possível viver de forma simples, em montanhas que ainda preservam as condições mais favoráveis para a vida. Por isso viverei até o fim dos meus dias nestas montanhas maravilhosas, convivendo com o mais prazeroso e pacífico anonimato.
Paulo Viana
Um comentário:
Obrigada, Paulo, pelo elogio ao meu poema "Pai Herói". Eu sou apenas uma folha diante dessa natureza que exala do teu ser. Pode se considerar um poeta de mão cheia! Tornei-me uma seguidora do seu blog. Abraços.
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