Versos nos contam histórias do coração, nos fazem ver em primeiro plano os vários sentimentos que vão sedimentando ausências, e de como a saudade assume o posto de quem partiu, vestindo-se de dor e de um desejo que parece satisfazer-se por alguns segundos, mas logo se reporta à distância. Mas os versos podem ser rasgos emocionados de paixão, transbordante, extremada, ávida por jogar-se em vestimentas ornadas por imagens, alegorias, fantasias e sentidos, traduzindo o inefável, que se configura em palavras, como paródias que os loucos fazem de si mesmos, ou parábolas miméticas de como circula o sangue e percute no ritmo cardiológico.
E se os poetas são loucos, é porque a linguagem de sua lucidez não se dá pelos caminhos tão fáceis de trilhar, como delineia a razão, mas por veias e vias que só os versos podem conduzir. E frases anárquicas, políticas, líricas, românticas, excêntricas transformam-se em mensagens poéticas, em códigos da emoção, em linguagem pura do sentir, em vontade última do dizer.
Que gritem esses loucos, para que os vejam em sua mais discreta intimidade, porque, o que são eles se não amantes de si mesmo, viscerais construtores que reproduzem seu íntimo em moderados, inflamados, censurados, cáusticos, intrépidos, apocalípticos, sensíveis, amorosos, apaixonados e sábios poemas?
Pois que não se anuncie a falência do que move os poetas, porque, se há vida, há compasso alterado dentro do peito, há impacto diante do visível e do que não pode ser visto, há combinação entre química e alma, haverá também poesia.
Paulo Viana
2 comentários:
Paulo Viana,
De médico, de louco, todo mundo tem um pouco. A poesia estaria inserida neste contexto? O poeta se sobrepõe a estes detalhes num alambicamento fictício. Serei médico?
Ou poeta louco?
Você é médico e, principalmente, um grande Poeta.
Quanto a ser louco...
Ah se eu soubesse o que é ser normal!
Grande abraço, Sávio.
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