Quando os Beatles surgiram, no começo da década de sessenta, o mundo ficou surpreso com aquela novidade. O comportamento no palco, as declarações polêmicas, as músicas com arranjos inusitados, as letras lúdicas, enfim, era uma explosão de incompreensão que deixava atônitos público e crítica. Sem ignorar os antecedentes americanos, principalmente os verdadeiros fundadores do rock, como Chuck Berry, e a exposição branca (Elvis Presley) para a aceitação do gosto americano, o grupo inglês inaugurou o sucesso de mídia mundial. Não podemos negar que isso foi um prêmio para o talento. Os Beatles eram muito mais do que apenas rock.
Passados cinquenta anos, o rock se cristalizou como página importante da história da música, com a presença de muitas bandas competentes. Paralelamente, outros gêneros e estilos, da música e da arte, em geral, obtinham seus espaços no consumo e nas paradas. O erudito, por sua vez, continuou com seu público, reduzido, porém fiel.
Foram cinquenta anos de aprendizado e a mídia descobriu que já não precisa do talento nem da novidade para criar um ícone de sucesso. Parafraseando o propagandista do Hitler, Joseph Goebbels, um falso talento apresentado mil vezes, torna-se um sucesso de mídia.
A estrutura de comunicação que universalizou o talento dos Beatles, hoje, com muito mais poder de penetração nos domicílios, torna mundial qualquer porcaria. É como se fosse uma varinha mágica, claro com mais investimento e risco, que diz: faça-se o sucesso! E temos filmes, músicas, livros e moda consumidos vorazmente, como se fossem obras primas. Não quero citar exemplos, porque são muitos. Mas esse é o mundo do capitalismo. Não interessa se o produto é de péssima qualidade, cria-se mercado para ele. São tantas opções e tão rápidas que se criou o conceito de “Celebridade Instantânea”.
Claro que no meio disso tudo tem o talento e a beleza genuínos. Mas esses mesmos ícones, legítimos, são ridicularizados pela mídia, que flagrando um deslize, ou até mesmo uma parte do corpo, ou da roupa, expostos inadequadamente, explora e divulga como se fosse uma notícia de última hora. O público delira e, por não ser celebridade, vibra com o ridículo do que faz sucesso. De certa forma, isso compensa o anonimato.
A verdade é que são tantas falsas novidades, que não sentimos mais a empolgação e o prazer de nos surpreender como nos surpreendemos com os Beatles.
Sei que o ritmo dos jovens de hoje é mais intenso e eles já se adaptaram a essa demanda de alta rotatividade das celebridades. São muitas ofertas em pouco tempo. Todos superestimados pela mídia. Nenhum tem a pureza do talento legítimo dos Beatles, quando eles surgiram no cenário musical, num contexto midiático.
Creio que só a chegada de um extraterrestre, de verdade, pacífico, em seu transporte de muitas luzes e de uma tecnologia ainda distante da nossa, poderá me empolgar. Por enquanto, são muitas produções, muito dinheiro gasto, tecnologia, criatividade horizontal, porém nada que possamos dizer: Que coisa impressionante!
Paulo Viana
4 comentários:
Amigo Paulinho,
Quanta difusão oral e escrita para mantermos na mídia as lendárias figuras de Zé de Lula, Mané Cachacinha e Pé Véi. Quantas cervejas rolaram...
De repente, aparece um Pedro Bial, cheio de Globo e de de Marinhos despudorizados, para mudar completamente os nossos heróis.
Plim, Plim!
Eu bem me lembro o tesão que era ir as lojas de discos por entre os becos e ruelas do centro da cidade, buscando a música tão somente pela música. Fama e talento nem sempre estão diretamente relacionados, especialmente nos dias de hoje, em que a informação trafega na velocidade da luz.
Grande abraço Paulinho.
Reno
Seja bem-vindo. Muito grato e volte mais vezes. Meu Blog recebendo olhos da Austrália. Muito legal.
Grande abraço.
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