As primeiras cigarras já anunciam o fim da primavera e o céu se acinzenta, acalmando o sol. O ano passou rápido e já não sei se é porque sou adulto e não mais tenho o sentimento de eternidade das crianças. O tempo não para, até porque ele não está em movimento. Está em movimento o espaço, crescendo com a expansão do universo. Enquanto isso, nuvens brancas pousam em meus cabelos me advertindo que já se vão os anos e está na hora de aprender. Tenho aprendido algo sobre a vida? Não muito. Descobri que Deus é uma opção e não uma certeza; Descobri que liberdade é apenas uma arma da boa retórica e jamais estaremos totalmente livres, pois, como diria Kant, não somos senhores em nossa própria casa; Que igualdade é uma utopia válida, para diminuir as injustiças; O mundo é finito em sua dimensão tempo/espaço; O amor é o que sentimos por nós através de outros.
Afirmo, no entanto, só existir uma verdade absoluta: Não existe verdade absoluta. Por isso, o que aprendi pode ser uma falsa lição e eu posso não ter aprendido nada mesmo.
Que me perdoem os quietinhos, estabilizados em suas vidas materiais; Convictos em seus valores intelectuais; Os religiosos, crentes na vida eterna; Os filósofos; Os materialistas, mas não posso me conformar em atravessar toda a vida sem aprender alguma coisa que me faça renunciar à inquietação. E não venham com frases de Lao Tsé, de Confúcio, da Bíblia ou de sábios contemporâneos, pois são apenas frases.
E se não existem verdades absolutas como posso aquietar meu coração? A alegria, a paz, a vida saudável, a chuva, o vento, as flores, os pássaros, a música, a arte, os esportes, o sorriso dos outros, a vida simples e o sentimento, em sua dimensão verdadeira, que nosso coração reserva para aqueles que dizemos amar. Tudo isso prova a realidade da vida e é suficiente para valer a pena viver.
Há, porém, momentos de tristezas, quando surgem as tempestades, aparecem ciclones, os espinhos nos ferem, os pássaros são aprisionados ou mortos, pessoas gritam em desespero, os bandidos vencem parcialmente, as competições viram guerras, os outros choram e a vida é complicada com as artimanhas do poder e da ganância. Nem por isso a vida deixa de ser bela, pois todas essas coisas são o contraponto com a função de nos fazer valorizar o momento em que o alívio empurra as dores para o esquecimento e nos repõe no papel de construtores do mundo do bem, mais fortes e experientes.
Se não for esta a principal lição que a vida nos ensina, deve haver um segredo e espero um dia descobrir. A grande questão é: existe mesmo tal segredo? Há mais coisas, não reveladas, que se contrapõem à simplicidade da natureza e das boas realizações humanas? Não creio que exista tal mistério. Penso como Joshep Campbel: O mundo é assim porque é.
Sigo, então, com o espírito de Dom Quixote, vendo, em moinhos gigantes, o engrandecimento da alma humana e um final feliz para essa raça tão marcada pelos equívocos cometidos, em sua trajetória, ao longo da história da vida neste Planeta.
Quem sabe se no fim da estrada, ao olhar para trás, eu não compreenda definitivamente, e aceite, ser o coração feito para inquietar-se e, mais ainda, o mistério é sabermos que não há mistério, mas preferimos acreditar que há? E isso nos torna cegos, imaginando o pote de ouro, quando a beleza está no próprio arco-íris?
Paulo Viana
2 comentários:
E "nosostros" sempre adiando o encontro com o simples. beijo
Mas demos o primeiro passo para encontrá-lo: Vamos todos morar no meio do que ainda resta da mata atlântica.
Beijo.
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