Quem inventou essa parceria infernal entre mídias e capital? Quem poderia ter sido se não o lado ambicioso, perverso e psicopata dos seres humanos? E como agem esses parceiros? O capital estrutura, planeja e produz e as mídias elevam, idolatram e consolidam. O capital investe e as mídias mistificam; o capital descobre potenciais e talentos e as mídias propagam e superestimam . Ninguém melhor do que Michael Jackson para expressar a síntese entre talento, capital e mídias. Ninguém melhor do que ele para mostrar que o capital aposta, suga e entrega o resto às mídias para que estas se aproveitem da decadência, das fraquezas e das limitações de um ídolo.
Quantos homens controlam o capital e as mídias no Planeta? Pouquíssimos, comparados com o resto da população. Insisto em separar capital das mídias, mas, devo dizer, que é apenas por uma questão didática. No fundo, capital e mídias são relações que formam o capitalismo. Elas se entrelaçam, engendrando uma ideologia muito convincente, estruturada no direito romano, na moral cristã, nos princípios teóricos da democracia e nos aparelhos de repressão física e de controle territorial e político, ou seja, a polícia e o exército. Do lado de cá, a grande massa delira pelas promessas tecnológicas, pela expectativa do crescimento econômico e a redistribuição de renda.
Contemplo, nos dois parágrafos anteriores, a ideia romana do pão e do circo para o povo. O pão, na perspectiva do crescimento econômico e do emprego, e o circo, na oferta dos ídolos descartáveis e das invenções eletrônicas.
E a vida continua e o tempo passa. Os intelectuais, teóricos, filósofos e observadores do mundo, perdidos no abstracionismo da erudição, estão a milhares de anos luz dos jovens, que, ao invés de reagirem com seu potencial de transformação, passeiam entre o ócio inócuo e o encantador mundo do emprego gerado pelas novas tecnologias.
É nessa perspectiva, sem um contraditório, tão sólido e consistente como o materialismo histórico, e sem uma juventude inquieta, instruída pelos livros e exemplos da história, que o capitalismo “deita e rola”, mantendo sua trajetória de enganos e engodos, sem preocupar-se em superar a sua principal contradição: a existência de pobres e de ricos.
Os trabalhadores conseguiram estruturar-se politicamente; as mulheres alcançaram espaços de forma equilibrada, na sociedade, e ainda lutam por mais justiça nas relações com os homens; os Gays estão lutando e conseguem, a cada dia, o reconhecimento de sua condição natural e da necessidade de inserção no universo jurídico e moral. Ainda restam os pobres. Talvez sejam eles os sujeitos de uma nova mudança. Só falta uma ideologia, sem táticas violentas, sem filosofia burocrática e que não possa ser reprimida pelos aparelhos militares. Onde arranjaremos tal ideologia? Este é o grande desafio do século vinte e um.
Se os jovens não tivessem tão imobilizados; os intelectuais tão distantes; a grande massa tão entusiasmada com os ídolos descartáveis e a aventura tecnológica, e os filósofos tão preocupados em reinventar a sociologia, talvez fosse possível surgir uma luz nesse horizonte de uma civilização decadente e esgotada. Alguém precisa acabar com esse marasmo. Não podemos crer que sejam os árabes radicais, jogando aviões em prédios. Muito menos podemos esperar que as mídias e o capital sejam os mentores dessa mudança, embora cometam muitos erros e abram tantas brechas para serem questionados. No entanto, custa crer que as lições da história, o tempo que esta civilização já viveu, o eterno conflito entre a consciência coletiva e a imaturidade do egocentrismo ainda possam permitir que continue a existir essa maldita disparidade material entre os seres de uma mesma espécie, ou seja, a espécie humana. Um dia a história haverá de registrar o fim da existência de pobres e ricos -Isso se a humanidade não se extinguir antes- e seria em um universo sem pobres nem ricos que Michael Jackson faria a grande diferença, pois não precisaria do capital para endeusá-lo, bastava o talento com o qual ele nasceu.
Paulo Viana
2 comentários:
Paulinho,
Aproveitei meu tempo livre para deleitar-me com suas idéias tão bem construídas, tirei o atraso e li todos os textos que me faltavam. Confesso que às vezes suas idéias me deixam um pouco apreensivo e ansioso pelo nosso futuro, onde será que vai dar essa odisséia?
Oi, Fernão!
Sou extremamente curioso com relação aos desdobramentos deste século, onde a tecnologia vai tentar esgotar todas as possibilidades energéticas e científicas que estejam disponíveis no universo. Sonho com um desenvolvimento espiritual igualmente grande. Não sei em quanto tempo isto vai ser possível. Espero estar vivo e poder sorrir quando acontecer.
Abraços
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