quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Cursor e o Tempo

Pulsando sobre a luz branca do papel virtual, ávido por desenhar palavras organizadas em um sentido inteligente e inovador, o cursor desafia a criatividade e suplica ideias. Sem querer discorrer sobre assuntos já debatidos, o autor, vacilante passageiro dessa viagem única e sem volta, desvia o olhar do passado, controlando o impulso para não projetá-lo no futuro. Ao tentar fixar-se no presente, percebe que este é apenas um momento de transição, uma oportunidade para ajustarmos a trajetória da vida, no sentido de conduzi-la com mais tranquilidade, na produção de caminhos menos tortuosos e mais harmoniosos.

Quantas oportunidades perdemos, ao longo dessa caminhada, de mudar nossas atitudes, resolvendo problemas que insistimos em manter, por fraqueza, por dependência, pela manutenção de um prazer que mais prejudica do que beneficia; pela falta de coragem de abrir mão do rotineiro; pelo medo do novo! Quantas vezes sucumbimos ao apelo do prazer imediato, da ansiedade e da solidão, que nos fazem consumir sem necessidade, nos enganando ao conceder milésimos de segundos de conforto, e nos desamparando a seguir! O presente é o único momento que temos para evitar que o futuro seja uma reedição do passado ruim. Em todas as vidas há correções a se fazer.

Mas o presente é, também, o momento de consolidar avanços em nossas vidas; de manter as atitudes positivas; de resistir com nossos valores morais à sedução dos ganhos fáceis e ilícitos e de reafirmar nosso amor ao mundo, à vida e às pessoas que amamos de verdade. É uma dádiva única, solitário instante de luz brilhante em nossa alma. Efêmera luz, brilho passageiro, que se apaga, quando se veste de passado, e se reacende, quando o futuro se apresenta. Pulsante como este cursor exigente.

O passado projeta no presente as sementes do futuro. Basta saber escolher os grãos a serem semeados. Escolhendo os grãos errados teremos uma colheita ruim. E o tempo de semear é todo dia, assim como o tempo de colher. E o único fertilizante que devemos aplicar é o amor à vida. Sei que todos sabem disso, porém não custa lembrar.

Pois eis que discorrendo sobre passado, presente e futuro o tempo passou e a avidez do cursor foi acalmada, embora ele continue solicitando um fechamento do texto e da ideia. E como poderíamos satisfazê-lo? Se cada um dos leitores, ao final da leitura dessas palavras, fizer uma reflexão sobre as sementes que vai plantar naquele dia, ou no dia seguinte, e apostar em terrenos mais férteis em paz, harmonia, alegria e amor, tirando as ervas daninhas do egoísmo, da ambição, da intolerância e da indiferença, se estas existirem na lavoura de suas almas, certamente o cursor poderá sentir-se satisfeito ao desejar que palavras fossem escritas na luz branca desse papel virtual.

Sabemos que na vida, como na natureza, as intempéries são possíveis, e aconteçam “tempestades”, tragédias e outros fenômenos. Ergamo-nos, como se ergue a natureza, e reconduzamos a vida ao seu caminho normal. Ao mal que não podemos evitar temos o amor à vida. Ao mal que podemos evitar temos o presente para refletir e semear o que venha nos trazer o bem. O resto é hormônio.

Paulo Viana

6 comentários:

Isabel Branco disse...

Paulo

Pela qualidade e magia dos teus textos, pelo ser que em ti habita atribuo e reparto contigo o Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI.
Para mais informação passa pelo meu blog.

Parabéns e um beijinho.

Sávio Pinheiro disse...

Se o presente é o futuro do passado
E o futuro é um tempo que não anima
Eu respondo a tua prosa com boa rima
Pra não ter de ficar amargurado.
Jamais me arrependi de ter plantado
A semente do bem e do perdão.
Sei que tu executas boa ação
Só pra ver o teu planeta mais contente,
E é por isso que eu escrevo convincente:
No presente, quem manda é o coração!

Paulo, estou aqui no Rio de Janeiro tomando posse na ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Mesmo assim, dediquei um pouco do meu tempo para dar uma espiadinha no seu blog.

Um grande abraço.

Paulo disse...

Isabel,
Mais uma vez me honras repartindo um prêmio que ganhas com justiça e com merecimento. Fico muito grato. Sua gentileza me emociona e me deixa feliz.
Um grande abraço.
Paulo.

Paulo disse...

Sávio!
Primeiro, parabéns! É bom que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel possa contar com seu talento, inteligência e bom humor.
Em segundo lugar, quero agradecer seus comentários e suas visitas.
Seja sempre bem-vindo!
P.S. Venha ao Pacoti, um dia.
Um abraço.

Alécio Dias disse...

Fala Paulinho,caramba que texto lindo,bem escrito como só vc sabe desenvolver.Descobri agora o teu blog e logo com esse texto incrivél,meus parabéns,já esperava da sua parte algo de alto nivél.e já ganhou premio internacional?legal,vc faz por merecer, um abraço do amigo!!!

Paulo disse...

Alécio!!
Que bom você visitando meu Blog!
Fico muito grato com a visita e as observações. Volte sempre.

Um grande abraço.