terça-feira, 24 de março de 2009

O Livro e a Tecnologia

Por várias vezes, em sala de aula, disse aos meus alunos que aquele que não lê está perdendo uma das coisas mais bonitas que a humanidade produz: A literatura. Um livro, de um bom escritor, em nossas mãos, seja de ficção ou não, nos dá o prazer do contato com a experiência do outro, com a alma do mundo, com as emoções, a criatividade e o intelecto da humanidade. Tudo isso condensado em páginas, em palavras, muitas vezes poéticas, outras expressando pensamentos inusitados, e alguns relatando as dores, as alegrias, as decepções e os amores de personagens que nos encantam. Sem contar com o agradável exercício que fazemos em nossa mente, decodificando a linguagem escrita para a linguagem da imaginação, onde reescrevemos, com a luz do nosso espírito, aquela história ou aquele ensaio, compartilhando, com o autor, sua visão de mundo, sua moral, sua forma de entender como os acontecimentos afetam a vida e as pessoas.
Quero, no entanto, falar mais do livro do que propriamente da literatura. Desse pequeno objeto de papel, páginas, letras que atravessou quase toda a história da humanidade, contando histórias, experiências, estudos, pensamentos, filosofias, enfim, tudo que se passou, seja nas relações entre as pessoas e os povos, seja nas vivências interiores dos romancistas e dos poetas.
E por que falar sobre o livro? Porque vemos, a cada dia, com as novas tecnologias, a literatura perder sua forma e ser conduzida em máquinas, cujas funções são inúmeras, e onde os jovens não sentem a atração, como sentíamos pelo livro que sempre estava ali, em nossas mãos. Porque aquela máquina traz milhares de atrativos que desviam o interesse, e uma obra literária, de altíssima qualidade, passa a concorrer com jogos violentos, com fontes de pesquisas superficiais, por muitas vezes mal elaboradas, sem credibilidade, que deseducam e desvirtuam.
Quero deixar claro que não sou contra a literatura na internet ou mesmo no PC. Que proliferem a boa arte, os bons escritos, o que de bom a humanidade produz. Mas a mágica do livro, que ao ser folheado, quando lido, nos envolve numa atmosfera de expectativa criadora, é única. O livro é companheiro, porque nos acompanha aonde vamos; é amigo, porque nos dá bons conselhos; é mestre, porque nos ensina muitas coisas; é, sobretudo, a nossa memória, que não exige um teclado, que não depende de outra energia, a não ser a luz em nossos olhos, a disposição, em nosso intelecto e o desejo, em nosso coração. Seria muito triste se um dia os livros deixassem de ser editados. Aliás, para ser mais realista, será muito triste quando os livros deixarem de ser editados. Não sei se através da tecnologia o romantismo das histórias e dos ideais filosóficos contaminarão os leitores, como fui contaminado pelos livros. Por isso escrevo com esse espírito. Por isso sou romântico. Por isso lamento se um dia os livros desaparecerem.
Paulo Viana

5 comentários:

Mariah Vianna disse...

Comovente seu desabafo, mas temos que entender que vivemos em tempos diferentes...não estou dizendo que a internet é a salvação do mundo e que danem-se os livros, longe de mim, até porque também sou uma amante dos livros, fui criada assim. E é nesse ponto em que quero chegar, na criação de cada geração.A nossa geração foi educada nos livros. Se precisássemos fazer alguma pesquisa, recorríamos a BARSA, ás enciclopédias. Mas, juntamente com a modernidade, veio a tecnologia e a facilidade. O tempo está cada dia mais escasso, e a internet nos possibilita "ganhar tempo", embora muitas vezes isso não acontece de fato. Mas o que eu to querendo dizer é que a culpa não é das crianças em não se interessarem por livros, e sim nossa, que damos jogos eletrônicos aos nossos filhos ao invés do livro do Pequeno Príncipe; que ensinamos que no gmail temos a biblioteca pública e que leitura dinâmica é mais prático; que dizemos que carregar um notbook em baixo dos braços é mais "chick" do que um livro velho, com a capa rasgada; que insistimos que no "nosso tempo" tudo era mais difícil e que hoje, eles tem sorte da mordomia que tem.
Uffa!Me sinto bem melhor agora!rs.
espero que tenha entendido o que quis dizer, e quem sabe, concorde comigo.

Abraços...

Paulo disse...

Mariah Vianna
Muito grato pela visita e pelo comentário.
Concordo com você. Realmente são outros tempos e as mudanças são inevitáveis. Como falei, desejo que a arte, a literatura e outros bons produtos da humanidade se espalhem de todas as formas.
Queria só registrar, tentando analisar as mudanças, que o livro, tão importante na minha formação e na de muitas pessoas, pode desaparecer, revelando, também, o aspecto romântico dessa formação, que atribuo, em boa parte, ao contato com os livros.
Tomara que os notbooks carreguem coisas que consigam estimular a sensibilidade das crianças.
Um abraço.

Cecilia disse...

Olá, Paulo. Sou a cecília, trabalho na Edelman, agência de comunicação de Jorge Zahar Editor. Muito bacana o seu post. Mas e se usarmos a tecnologia em favor da literatura? Vendo por este lado, quanta literatura está disponível hoje de forma eletrônica. É claro que os livros impressos não deixarão de existir, mas a internet de certa forma leva a leitura a mais pessoas, que podem ter acesso e comprar de forma eletrônica os livros que talvez não existam próximos de suas casas. Por outro lado, a quantidade de informação que circula na web não tem muito valor, pois é gerada por amadores, pelo menos é o que Andrew Keen diz no livro O culto do Amador - http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=1262
Um grande abraço!

Paulo disse...

Olá, Cecília.
Muito grato pela visita e pelo comentário.
De fato, na internet temos quase tudo e seria bom se as pessoas a usassem para ter acesso à literatura. Como digo no Post: tomara que toda a boa produção da humanidade seja levada ao maior número de pessoas possível. Temos apenas os problemas citados: a quetionável qualidade de muitos conteúdos e, nos casos das crianças, a falta de incentivo para que elas deixem um pouco o Orkut, o MSN e os jogos para uma leitura.
Volte sempre. Os post são justamente para despertar esse tipo de debate.
Um grande abraço.

Cecilia disse...

Tenho que concordar com vc! Abraços