Tenho na alma, pedaços da Arábia trazidos pelos navegantes portugueses, semeados nas negras e nas índias que aqui se encontravam. Por isso, quando escuto a música árabe há uma ressonância em minha emoção e sentimentos me trazem o Alcorão e Maomé parece-me mais próximo do que Roma. Tenho, também, fragmentos de Lisboa, pois um Fado que ouço é uma canção que acalanta o berço de lembranças não lembradas, mas que se fazem presentes em lampejos de sutil nostalgia.
Tenho em minha alma o espírito guerreiro do índio Guarani, que respeita a floresta, que se deixa levar pela correnteza do rio, quando o caminho é na mesma direção que ela, mas que a enfrenta em nado se for preciso ir contra a corrente. Por isso, vejo o Gavião Real como um parceiro do mundo, que adorna o índio, mas que se mostra como um recado para os exterminadores. Por isso, entro na mata como quem entra na morada de espíritos. Por isso, sinto, como o índio, grande tristeza pela maldição dos iconoclastas de Tupã, pelos corruptores dos Pajés, pela disseminação dos vícios e das doenças dos “brancos”.
Minha alma é também feita do banzo das senzalas, da saudade da Mãe África, trazida nos porões dos navios pelos mercenários cruéis, a mando dos Reis e com a benção dos Papas. Por isso, quando batem os tambores do Candomblé há um despertar, em meu espírito, de uma remota afeição, de um querer venerar. Por isso, a batida do samba encontra em meu corpo os contornos adequados para uma vibração ritmada e cada compasso é tocado como se fosse reflexo de minha alegria. Por isso me vejo na melancolia do Blues, que lamenta em seu ritmo lento a odisséia de príncipes, princesas e guerreiros africanos, aprisionados sem nenhuma culpa; cântico que parece apelar aos deuses uma volta no tempo, uma recontagem da história, onde o povo africano não fosse aviltado; onde os navios singrassem os mares sem a angustia da liberdade usurpada e a riqueza do mundo fosse alicerçada com trabalho justo.
Tenho na alma a ambição dos degredados, por isso me custa mais fazer o exercício da honestidade, porque em meu mundo há o desprezo pela ética. Mesmo assim, busco ser honesto e não me submeto ao jeitinho e nem à propina. Tenho, também, na alma, o sentimento de povo e luto para conservar meus valores, minha cultura e abomino a invasão colonialista da globalização, embora reconheça a força com que ela massacra nosso apego ao que nos faz uma Nação. Tenho ainda, na alma, o grande desejo de lutar sempre pela liberdade e pela justiça, quando estas forem ameaçadas, como ainda são, por isso ainda luto, com minha arma, que é a palavra.
Tenho orgulho de em minha alma conter a grandeza da Arábia, da África e da América, em pedaços trazidos pela Europa. Tenho orgulho de ser brasileiro, porque sou alma cosmopolita, sou cidadão cuja Pátria tem o suor do calor do deserto árabe; tem a graça da capoeira, um belo legado da agilidade e da inteligência dos negros; tem o pueril mundo indígena e a sua parceria com a floresta, onde nos ensina que não podemos viver sem os outros entes da Natureza.
Assim busco minha identidade: Reconhecendo que minha história começa com a ambição colonialista dos europeus, que aprenderam a arte da guerra e da navegação com os árabes, escravizaram os africanos e corromperam os ameríndios. Com todo respeito aos europeus contemporâneos, sinto-me feliz por ter herdado mais as qualidades de todos esses povos do que os defeitos que traziam em nome dos nobres e religiosos.
Paulo Viana
Tenho em minha alma o espírito guerreiro do índio Guarani, que respeita a floresta, que se deixa levar pela correnteza do rio, quando o caminho é na mesma direção que ela, mas que a enfrenta em nado se for preciso ir contra a corrente. Por isso, vejo o Gavião Real como um parceiro do mundo, que adorna o índio, mas que se mostra como um recado para os exterminadores. Por isso, entro na mata como quem entra na morada de espíritos. Por isso, sinto, como o índio, grande tristeza pela maldição dos iconoclastas de Tupã, pelos corruptores dos Pajés, pela disseminação dos vícios e das doenças dos “brancos”.
Minha alma é também feita do banzo das senzalas, da saudade da Mãe África, trazida nos porões dos navios pelos mercenários cruéis, a mando dos Reis e com a benção dos Papas. Por isso, quando batem os tambores do Candomblé há um despertar, em meu espírito, de uma remota afeição, de um querer venerar. Por isso, a batida do samba encontra em meu corpo os contornos adequados para uma vibração ritmada e cada compasso é tocado como se fosse reflexo de minha alegria. Por isso me vejo na melancolia do Blues, que lamenta em seu ritmo lento a odisséia de príncipes, princesas e guerreiros africanos, aprisionados sem nenhuma culpa; cântico que parece apelar aos deuses uma volta no tempo, uma recontagem da história, onde o povo africano não fosse aviltado; onde os navios singrassem os mares sem a angustia da liberdade usurpada e a riqueza do mundo fosse alicerçada com trabalho justo.
Tenho na alma a ambição dos degredados, por isso me custa mais fazer o exercício da honestidade, porque em meu mundo há o desprezo pela ética. Mesmo assim, busco ser honesto e não me submeto ao jeitinho e nem à propina. Tenho, também, na alma, o sentimento de povo e luto para conservar meus valores, minha cultura e abomino a invasão colonialista da globalização, embora reconheça a força com que ela massacra nosso apego ao que nos faz uma Nação. Tenho ainda, na alma, o grande desejo de lutar sempre pela liberdade e pela justiça, quando estas forem ameaçadas, como ainda são, por isso ainda luto, com minha arma, que é a palavra.
Tenho orgulho de em minha alma conter a grandeza da Arábia, da África e da América, em pedaços trazidos pela Europa. Tenho orgulho de ser brasileiro, porque sou alma cosmopolita, sou cidadão cuja Pátria tem o suor do calor do deserto árabe; tem a graça da capoeira, um belo legado da agilidade e da inteligência dos negros; tem o pueril mundo indígena e a sua parceria com a floresta, onde nos ensina que não podemos viver sem os outros entes da Natureza.
Assim busco minha identidade: Reconhecendo que minha história começa com a ambição colonialista dos europeus, que aprenderam a arte da guerra e da navegação com os árabes, escravizaram os africanos e corromperam os ameríndios. Com todo respeito aos europeus contemporâneos, sinto-me feliz por ter herdado mais as qualidades de todos esses povos do que os defeitos que traziam em nome dos nobres e religiosos.
Paulo Viana
2 comentários:
Parabéns pelo blog, é de muito bom gosto!
Um beijo
Ana Raquel,
Fiquei muito feliz com a sua visita e o seu comentário.
Adoro você.
Beijo.
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