Sob o ritmo contagiante do Reggae, tento iniciar este texto que teve como tema, em meus pensamentos, o século vinte e um, com suas novidades sociológicas e políticas, onde o conceito de nação perde força, dando espaço aos blocos regionais, as minorias se destacam e chegam aos governos, mas há certo marasmo em termos de grandes acontecimentos. É um século muito midiático, sem a emoção da movimentação popular, estudantil e artística; sem grandes impactos no campo científico, até porque nada mais é inesperado. Ainda usamos muitos conceitos, idéias, discursos, erros e valores do século vinte. Podemos considerar que estamos apenas no início do novo milênio, mas ainda estamos iludidos com as promessas que a máquina e o capitalismo anunciaram no começo da revolução industrial. Precisamos pensar enquanto humanidade. Enquanto espécie que aponta para iniciar o processo de extinção. Por isso devemos planejar o século.
Já conquistamos a razão e a usamos como bem entendemos. Embora nunca levemos em consideração o bom-senso, que deveria vir junto à ciência. E não vem, porque o intermediário é o capitalismo, propulsor da ganância, do consumismo, do lucro e da desumanização das relações entre as pessoas. Pois se já conquistamos a razão não vamos deixar que arquétipos, instintos, medo e a voluntariedade da alma deem as cartas, como o fizeram no século vinte.
Sei que não podemos extinguir a loucura, o stress, as injustiças, as desigualdades, a desonestidade, a ganância, a insensibilidade e todos os males da civilização, acumulados em milhares de anos, em um passe de mágica, mas podemos, pelo menos, iniciar o processo de desconstrução do século vinte, nos seus aspectos mais equivocados, salvando, claro, as grandes contribuições daquele século que o tornaram um maravilhoso período de realizações.
Talvez o exemplo venha do que seria outro tema do texto de hoje: A Dinamarca. E porque a Dinamarca? Imaginem um país em que um terço da população anda de bicicleta, por consciência do bem que faz ao corpo, ao espírito e, principalmente ao meio ambiente; O desempregado recebe noventa por cento do salário, do governo, enquanto é recolocado no mercado de trabalho; A alíquota do imposto de renda chega a cinquenta por cento, mas o governo oferece Saúde, Educação, Creches e todos os serviços públicos com muita qualidade; A licença gestante é remunerada e dura doze meses; Os familiares fazem refeições juntos; O consumismo é desvalorizado e as relações entre as pessoas são mais importantes do que o acúmulo de bens materiais; O índice de criminalidade é baixíssimo e as pessoas se sentem tranqüilas; E, pasmem, é o país menos religioso do mundo. Estes dados se referem à Dinamarca, segundo depoimentos de pessoas que nasceram e vivem lá. Em um primeiro momento, nos dá a impressão que de tão correto parece ser chato. Mas não é isso que queremos para todos os povos? Podemos ter índices assim sem, necessariamente, perdermos a alegria que nos é peculiar. Nenhum povo precisa ser triste para ser certo. Os homens verdadeiramente inteligentes devem combinar razão com alegria. Deixar que a emoção complete a atitude racional e nunca a elimine.
Sei que, assim como muitos países, inclusive do chamado primeiro mundo, estamos longe desses índices. Sei também que, se não iniciarmos um processo profundamente comprometido com uma verdadeira evolução humana, amadurecendo e aprendendo com os erros dos séculos passados, estaremos fadados à extinção, sem que tenhamos, enquanto espécie, chegado à idade adulta.
Triste é dizer isso às pessoas que vivem segregadas por diferentes deuses, por interesses comerciais das grandes empresas, por políticos egoístas e imediatistas, insensíveis e mortalmente comprometidos com os prazeres do consumismo e da superficialidade da vida.
Será que a Dinamarca está nos apontando um caminho? Será que a humanidade terá tempo de aceitar a sua ignorância, no passado, e planejar, inteligentemente, a vida daqui para frente?
Por fim, devo confessar não acreditar que os condutores da política e dos negócios, no mundo, reconheçam esse conceito que tanto uso: Humanidade. Podem até dizer que sou ingênuo, porém jamais deixarei de pensar que a vida, seja minha, de um pássaro ou até de uma árvore, é uma única vida. E como somos, nós humanos, os únicos seres que desequilibram o planeta, somos nós que precisamos evoluir. Portanto, desperta século vinte um! Cresce humanidade!
Paulo Viana